Mais de 140 personalidades que trabalham em ligação com a infância, entre as quais vários escritores e ilustradores, repudiam aquilo que consideram ser um genocídio em Gaza, num abaixo-assinado divulgado hoje.

"Criamos e trabalhamos para a infância. Ante o massacre de milhares de crianças e outros palestinos em Gaza, não seremos cúmplices pelo silêncio", lê-se no abaixo-assinado enviado à agência Lusa.

O documento junta 146 "personalidades que, de um ou outro modo, trabalham em ligação com a infância", a grande maioria escritores e ilustradores associados à literatura infanto-juvenil, mas também programadores culturais, professores, bibliotecários e livreiros.

"Denunciamos e repudiamos o genocídio", afirmam os signatários, numa iniciativa dinamizada pelas ilustradoras Ana Biscaia e Inês Oliveira e pelo escritor João Pedro Mésseder.

Os subscritores consideram ainda que "um mundo de paz é possível".

Os escritores Alice Vieira, Álvaro Magalhães, Ana Filomena Amaral, António Mota, José Fanha, Luísa Ducla Soares e Rita Taborda Duarte estão entre os subscritores, assim como os ilustradores André Carrilho, Catarina Sobral, Madalena Matoso, Mariana Rio, Rachel Caiano e Yara Kono.

No final de maio, a UNICEF avançou que mais de 50 mil crianças poderão ter sido mortas ou feridas no âmbito da ofensiva militar de Israel contra Gaza, iniciada em outubro de 2023, denunciando um "massacre implacável".

Na semana passada, mais de 230 escritores de língua portuguesa também assinaram um abaixo-assinado, num apelo ao cessar-fogo imediato na Palestina e em defesa da "entrada urgente de ajuda humanitária nos territórios ocupados".

Lídia Jorge, Teolinda Gersão, Chico Buarque, José Eduardo Agualusa, Mia Couto e Mário Lúcio Sousa são alguns dos subscritores do manifesto, numa iniciativa da Fundação José Saramago.

Esse texto segue-se a outros, francófonos e anglófonos, divulgados também na semana passada.

Na quarta-feira, quase 400 escritores do Reino Unido e Irlanda exigiram um cessar-fogo imediato e sanções contra Israel numa carta aberta na qual diziam recusar-se a ser espetadores dos ataques israelitas na Faixa de Gaza.

Na terça-feira, foram cerca de 300 os autores francófonos, incluindo os prémios Nobel Annie Ernaux e Jean-Marie Gustave Le Clézio, a condenar o que classificaram de "genocídio" da população palestiniana em Gaza e a exigir um cessar-fogo.

Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para erradicar o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.

A guerra naquele território fez até agora quase 54.000 mortos, na maioria civis, e mais de 120.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante mais de dois meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível, que estão a entrar agora a conta-gotas.

Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.