
O bispo de Setúbal, Américo Aguiar, avisou hoje, que quando os cidadãos perdem a esperança e a confiança, "qualquer um pode pegar na barca, qualquer um pode pegar no leme", falando sobre a situação da saúde na sua região.
O cardeal Américo Aguiar foi hoje orador convidado nas jornadas parlamentares do PSD/CDS-PP, que decorrem até terça-feira, em Évora, num painel com o tema "Portugal não deixa ninguém para trás", em que também defendeu regras claras e previsíveis para que Portugal "torne público" que imigrantes que pode acolher "com dignidade".
Na área da saúde, o bispo admitiu não se tratar de um problema de protagonistas, dizendo acreditar que nenhum dos ministros que conheceu "fez asneiras de propósito".
"Cada um tentou fazer o que achou certo, mas para o cidadão comum o problema continua", lamentou, alertando que se se os problemas se arrastam por cinco, dez ou quinze anos, as pessoas perdem a esperança.
E, neste caso, deixou um aviso: "Quando nós não temos confiança e não temos esperança, meus amigos, qualquer um pode tomar conta da barca", disse, sem se referir de forma direta a qualquer protagonista político.
No entanto, insistiu que há alguns que até "podem ajudar a fazer com que estoure" o que chamou de verdadeiro 'cocktail molotov'.
"Sem esperança, sem confiança, qualquer um pode pegar no leme", insistiu, pedindo, na saúde, como noutras áreas, "um consenso alargado" para que se possam resolver os problemas concretos das pessoas, insistindo na responsabilidade dos políticos.
Américo Aguiar lamentou que, nos últimos anos, se tenha assistido "a uma deterioração da confiança dos portugueses nos seus eleitos".
"Aliás, chegámos ao ponto que se pensa ser uma mais-valia apresentar-se como não político. Eu aprendi que o político tinha a ver com a polis, o tratar da coisa pública, da cidade, é uma honra, é uma missão, não é uma coisa tóxica, não deve ser", considerou.
"Temos que trabalhar, deixar o Luís trabalhar, não é?", brincou, numa referência ao lema de campanha da AD e ao nome do primeiro-ministro.
Quanto à imigração, defendeu que o Estado tem de "responder às expectativas que criou aos que cá estão há muitos anos", distinguindo esta situação de uma política de imigração para o futuro.
"Eu tenho dado este exemplo: vamos imaginar que eu posso acolher em minha casa 20 pessoas, e posso acolhê-las dando a cada uma aquilo que é a sua dignidade e os seus direitos e os seus deveres. Então, eu torno público esse número", afirmou, considerando que tal significa "respeitar a sua dignidade"
Se, pelo contrário, disser que "podem vir todos e vierem mil", estão-se a criar falsas expectativas para os restantes 980, o que considera ser o que está a acontecer atualmente em Portugal.
"Nós criámos a expectativa a todos que pudessem e quisessem, e não temos capacidade de corresponder, e estamos a desrespeitar a dignidade dessas pessoas, estamos a fazer o contrário", afirmou.
O cardeal não precisou se defende que Portugal defina quotas para o número de imigrantes que pode acolher, dizendo não ser especialista no assunto.
"Como país, como nação, temos a obrigação de receber bem quem queremos acolher, ou quem acolhemos, e para isso temos que ter consciência daquilo que são as nossas capacidades, e dizer - não sei se anualmente, se é trimestral, não faço a mínima ideia - tornar claro, transparente, para todos saberem ao que vêm", afirmou.
Caso contrário, considerou, "a avalanche permanente de homens e mulheres de todos os pontos do mundo acaba em exploração indigna e em situações muito graves".