O cancro do rim está entre os 10 mais incidentes em Portugal, mas a divulgação dos sintomas e fatores de risco desta doença silenciosa continua a ser reduzida. Quando se assinala o Dia Mundial do Rim, o especialista Arnaldo Figueiredo, também professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, responde a várias questões sobre este tipo de cancro, que é muitas vezes diagnosticado num estágio avançado da doença devido à natureza subtil dos seus sintomas iniciais.

O diagnóstico precoce pode fazer uma grande diferença no tratamento e no prognóstico da doença, que ocorre mais frequentemente em pessoas com mais de 40 anos.

De acordo com o Registo Oncológico Nacional de 2021, foram diagnosticados 1306 novos casos nesse ano - 900 homens e 406 mulheres.

“A principal razão para esta diferença decorre da diferente exposição aos fatores de risco associados a esta neoplasia. O tabagismo é o fator de risco mais relevante, mas também se destacam a hipertensão, a obesidade e o síndrome metabólico, característico das sociedades ditas ‘desenvolvidas’.

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Este último está frequentemente associado ao consumo excessivo de gorduras saturadas, à hipertensão arterial, diabetes, dislipidémia e excesso de peso. O consumo de álcool também é um fator de risco importante. No entanto, não existe uma causa genética específica que diferencie homens e mulheres neste contexto”, explica.

Há cuidados específicos para evitar este tipo de cancro?

De acordo com o médico urologista, os cuidados específicos para evitar este tipo de cancro são aqueles que traduzem uma vida saudável: não fumar, vigiar a hipertensão, controlar o peso com atividade física regular, ingestão de líquidos e redução do consumo de carnes vermelhas e do sal, entre outras.

Que exames de rotina deverão ser realizados?

"A maioria dos tumores do rim são diagnosticados em fase assintomática e localizada, geralmente na sequência de exames realizados por outros motivos, como uma dor lombar ou abdominal. Muitas vezes, uma ecografia ou uma TAC, feitas por razões não relacionadas, acabam por identificar lesões renais que posteriormente se confirmam como neoplasias.

O problema é que, quando as neoplasias renais apresentam sintomas, normalmente já se encontram em estado avançado. Por isso, não devemos esperar pelo aparecimento de sintomas para proceder ao diagnóstico", refere Arnaldo Figueiredo.

O especialista acrescenta que grupos de risco, como doentes com doenças hereditárias, nomeadamente a doença de von Hippel-Lindau, ou pacientes com insuficiência renal crónica terminal em diálise, devem estar particularmente atentos porque nestes casis a incidência de cancro do rim é mais elevada.

Casos mais frequentes depois dos 40 anos

Arnaldo Figueiredo explica que o tumor do rim reflete um padrão comum à maioria dos cancros, exceto aquelas de origem embrionária que se manifestam na idade adulta. “Esta tendência deve-se ao acumular de agressões celulares dos fatores de risco previamente mencionados, como o tabagismo, a hipertensão, a obesidade e o consumo de álcool”, realça.

“Embora a maioria dos casos de cancro do rim não tenha uma causa hereditária, existem algumas neoplasias renais associadas a doenças genéticas, como a esclerose tuberosa ou a doença de von Hippel-Lindau. No entanto, estas representam uma minoria quando comparadas com o total de neoplasias renais”, aponta o diretor do Departamento de Urologia e Transplantação Renal do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - CHUC.

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A que sintomas devemos estar atentos?

Sangue na urina, dor lombar persistente ou uma massa palpável na região abdominal ou lombar são sinais que obrigam a uma consulta e investivação médica.

Contudo, estes sintomas podem não estar associados a cancro do rim, mas qualquer alteração deste tipo justifica uma avaliação, uma vez que, em alguns casos, pode estar subjacente um tumor renal.

“Diagnóstico precoce é essencial”

O diagnóstico precoce pode fazer grande diferença no tratamento e no prognóstico da doença. Qual a percentagem de sucesso?

"O diagnóstico precoce é essencial, mas deve-se distinguir rastreios de massa de diagnóstico precoce. Um rastreio de massa envolve convidar toda a população para exames regulares, como ecografias ou TAC. No caso do cancro do rim, este tipo de rastreio não se justifica, pois:

- A taxa de deteção não seria suficiente para justificar o elevado investimento necessário.

- O rastreio poderia identificar lesões pequenas e não malignas, desencadeando exames invasivos e até tratamentos desnecessários, além de causar ansiedade nos doentes.

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Quando um carcinoma de células renais é diagnosticado, o tratamento de referência é a cirurgia, que pode envolver:

Nefrectomia parcial – remoção apenas da parte do rim afetada pelo tumor.

Nefrectomia radical – remoção total do rim, quando há tumores múltiplos ou de maior dimensão.

Se a doença estiver localizada no rim, as taxas de sucesso cirúrgico são elevadas, com uma cura superior a 70% dos casos. No entanto, existe sempre o risco de metástases à distância que não são detetadas inicialmente e podem manifestar-se mais tarde. Por isso, todos os doentes com cancro do rim devem ser submetidos a uma vigilância rigorosa após o tratamento", explica Arnaldo Figueiredo.

Transplante de rim pode ser uma das solução para ultrapassar a doença?

A transplantação renal não é muito comum pois, na maioria dos casos, o tumor afeta apenas um rim.

"Mesmo quando é necessário remover totalmente esse rim, o rim remanescente costuma ser suficiente para manter uma função renal adequada, evitando a necessidade de diálise e, consequentemente, de transplante.

Por outro lado, no caso de o doente entrar em diálise, o transplante exigiria imunossupressão, que reduz as defesas do organismo. Isto pode representar um risco para quem teve um cancro, pois pode facilitar o crescimento de metástases ocultas que ainda não foram detetadas no momento do transplante", descreve o médico urologista.

No entanto, Arnaldo Figueiredo refere também que se um doente que teve um tumor renal ficou sem rim e necessita de diálise, e se passaram vários anos sem sinais de evidência da doença, pode ser candidato a um transplante renal.