Com a campanha eleitoral no sprint final, Cavaco Silva volta a sair em defesa de Luís Montenegro em toda a linha. Apesar de admitir que o primeiro-ministro cometeu um "erro inicial de avaliação" sobre o caso da sua empresa familiar, a Spinumviva, o ex-primeiro-ministro e antigo Presidente da República escreve esta segunda-feira um artigo de opinião no jornal Observador onde faz um apelo ao voto na AD e, em particular, no candidato a primeiro-ministro Luís Montenegro.

Para isso, diz, baseia-se em três critérios: "a capacidade política e técnica", "a dimensão ética na vida política" e "a proposta de política geral do Governo".

No primeiro ponto, Cavaco entende que, nos últimos 11 anos de governação da AD, Montenegro "revelou ser possuidor de boas qualidades nas principais questões técnicas dos diferentes ministérios, na liderança do Governo e na defesa dos interesses nacionais na União Europeia", afirmando que não "vislumbra" essas mesmas qualidades nos restantes líderes partidários.

No segundo ponto, o da ética, Cavaco diz que fez o mesmo exercício de comparação e não encontrou nenhuma "superioridade" nos vários líderes partidários face a Luís Montenegro. "Tendo procurado avaliar objetivamente os comportamentos e atitudes dos diferentes líderes partidários da oposição, não encontrei em nenhum deles qualquer superioridade em relação ao atual Primeiro-Ministro na dimensão ética e moral na vida política", começa por dizer Cavaco Silva.

Depois, caracteriza o caso "Spinumviva" como uma "campanha de suspeições e insinuações movida por partidos da oposição e por alguma comunicação social", mais "confusa e desinformativa do que esclarecedora", da qual o primeiro-ministro foi 'vítima'. Feita uma avaliação do caso, Cavaco concluiu que Luís Montenegro "não violou quaisquer princípios éticos" nem "cometeu ilegalidades".

Segundo o antigo Presidente da República, Luís Montenegro "cometeu inicialmente um erro de avaliação naquilo que, em tempos de fortíssima concorrência entre os meios de comunicação social, alguns destes exigem conhecer e divulgar sobre a vida pessoal dos agentes políticos. Foi um erro que, depois, corrigiu de maneira superlativa, como prova da sua boa-fé".

É nesse sentido que Cavaco Silva diz que o Governo não teve outra alternativa senão a de apresentar uma moção de confiança no Parlamento, tal como ele próprio apresentou em 1986 (mas essa foi aprovada). "A campanha de suspeições e insinuações foi o pretexto de partidos da oposição para criarem um clima político de tal forma inflamado e paralisante da ação do Governo que não lhe deixou alternativa que não fosse a de confrontar a Assembleia da República com uma moção de confiança", escreve, comparando depois à sua própria situação no seu primeiro governo minoritário de 1985.

"Em junho de 1986, num contexto mediático diferente do atual, o Governo minoritário de que eu era Primeiro-Ministro, perante os obstáculos da oposição na Assembleia da República à concretização do seu programa de reformas estruturais, apresentou também ao Parlamento uma moção de confiança. Ao contrário do que aconteceu com a moção de confiança do atual Governo da Aliança Democrática, a moção do meu Governo foi aprovada. A oposição de então optou por não provocar a queda do Governo e evitou a realização de eleições antecipadas", escreve. A culpa, diz, é, portanto, da oposição.

Por fim, no critério de proposta política, Cavaco também não tem dúvidas: as propostas da AD "são mais adequadas ao desenvolvimento do país" do que as restantes. E prova disso são os últimos 11 meses de governação. "Apesar dos obstáculos criados ao atual Governo na Assembleia da República pelos partidos da oposição e da óbvia incompetência técnica demonstrada por alguns deles, o executivo presidido por Luís Montenegro atuou, nos seus onze meses de vida, de modo a aumentar o poder de compra de salários e pensões, defendeu o emprego e a estabilidade financeira e melhorou o clima de confiança que tão importante é para preparar um futuro melhor para os jovens e para a aproximação de Portugal aos países mais ricos da União Europeia", escreve.