β Hydri, uma estrela subgigante semelhante ao Sol no futuro, tem um campo magnético mais forte do que se esperava. Investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço lideraram o estudo, publicado na revista Astronomy & Astrophysics, que pode mudar o que se sabe sobre a evolução magnética das estrelas.

Uma equipa internacional liderada por cientistas portugueses mediu, pela primeira vez, o campo magnético de β Hydri, uma estrela semelhante ao nosso Sol mas já numa fase mais avançada da sua vida.

Os resultados revelaram uma travagem magnética inesperadamente intensa, o que sugere que a estrela terá reativado o seu “motor” interno apesar da idade avançada.

A investigadora Ângela Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Universidade do Porto, liderou o estudo que analisou β Hydri, uma estrela subgigante com massa ligeiramente superior à do Sol e visível no hemisfério sul.

É uma das estrelas mais estudadas e tem sido usada como modelo para tentar prever como será o nosso Sol daqui a milhares de milhões de anos.

“Em anos recentes, temos descoberto que a evolução da atividade magnética em estrelas é significativamente mais complexa que pensado anteriormente. Ao estudar estrelas semelhantes ao Sol, como β Hydri, particularmente em fases de evolução diferentes, é chave para construir uma imagem completa de como as estrelas e os seus sistemas envelhecem", explica a primeira autora do artigo, Ângela Santos

Travagem magnética várias vezes mais intensa do que no Sol

Pela primeira vez, foi possível medir diretamente o campo magnético à superfície desta estrela, graças ao instrumento HARPSpol, instalado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.

Os dados recolhidos com o HARPSpol foram combinados com medições anteriores, incluindo dados da missão TESS, da NASA. A equipa conseguiu assim calcular a travagem magnética da estrela — um processo natural em que a rotação das estrelas abranda com o tempo, por influência do vento estelar.

Os resultados mostraram que β Hydri está a travar a sua rotação várias vezes mais depressa do que o Sol. Isto indica a presença de um dínamo magnético ativo, algo inesperado para uma estrela nesta fase da sua vida.

“Este é um sinal claro de que a estrela possui um dínamo de larga escala, o que é surpreendente numa subgigante,” afirma Ângela Santos.

Estrela pode ter “reacendido” o seu motor magnético

Os resultados reforçam a ideia de um “dínamo renascido” — um mecanismo em que estrelas subgigantes envelhecidas podem voltar a ter atividade magnética, após uma fase de menor atividade magnética, típica da meia-idade.

À medida que o envelope exterior destas estrelas se expande, poderá haver condições para que o campo magnético volte a ganhar força.

“Este tipo de comportamento desafia a nossa compreensão convencional da evolução magnética estelar e faz de β Hydri um caso de referência para testar e refinar modelos de travagem magnética e de evolução do dínamo em estrelas solares envelhecidas,” afirma Tiago Campante, líder do Grupo de Investigação em Astrofísica Estelar do IA e professor do DFA-FCUP.

Impacto nos planetas na sua órbita

A descoberta pode também ter implicações para os planetas que orbitam estas estrelas.

Se o campo magnético volta a intensificar-se, isso pode aumentar a atividade estelar, com possíveis efeitos na atmosfera ou habitabilidade dos planetas.

“β Hydri parece ter reacendido o seu motor magnético, o que poderá aumentar os riscos associados ao clima espacial para quaisquer planetas em sua órbita,” acrescenta Ricardo Gafeira, investigador do IA e da Universidade de Coimbra.

Como “gémea envelhecida” do Sol, β Hydri oferece uma janela para o futuro da nossa estrela - e um aviso para os planetas que orbitam estes sóis envelhecidos que podem não estar tão “reformados” quanto se pensava.