
A comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril lançou hoje um dossiê multimédia dedicado ao "Verão Quente" de 1975, que propõe uma reflexão crítica sobre um período "marcado por forte instabilidade e intensa mobilização popular".
Este novo dossiê conta com texto original do historiador Francisco Bairrão Ruivo e reúne documentos históricos, recortes de imprensa ou filmes que permitem "mergulhar no contexto político e social do período", realçou a comissão, em comunicado.
Para Maria Inácia Rezola, comissária executiva da comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, este dossiê "é essencial para compreender um dos momentos mais intensos e decisivos da Revolução".
"Ao revisitar este período com o apoio da investigação histórica e de testemunhos visuais e documentais, queremos não só esclarecer os acontecimentos, mas também promover uma reflexão crítica sobre o modo como construímos a memória da democracia em Portugal", frisou Maria Inácia Rezola, citada na nota de imprensa.
Entre os principais acontecimentos "de um verão decisivo para o rumo da Revolução" de 25 de Abril abordados pelo dossiê estão a rutura da coligação governamental que sustentava o IV Governo Provisório, a pulverização de projetos políticos no seio do Movimento das Forças Armadas (MFA) ou a intensificação das manifestações e ações no espaço público, muitas vezes marcadas por episódios de violência.
A comissão comemorativa 50 anos do 25 de Abril sublinhou ainda que o dossiê faz "um balanço histórico que procura situar o 'Verão Quente' na cronologia e na memória da Revolução dos Cravos".
Aó estão fotografias e outros documentos históricos, como a conferência de imprensa de três elementos encapuzados na apresentação pública dos Soldados Unidos Vencerão (SUV), transmitida pela RTP, ou uma infografia com as vítimas mortais decorrentes de ações violentas da extrema-direita, entre julho e setembro de 1975.
No dossiê, Francisco Bairrão Ruivo sublinha que o "Verão Quente" remete, na sua versão mais longa, para o período entre o 11 de Março de 1975 (ou as eleições para a Assembleia Constituinte de 25 de Abril) e o 25 de Novembro do mesmo ano.
"A confrontação política aguda, com perseguições e prisões, a escalada revolucionária, a força das esquerdas e o perigo de guerra civil sustentam a narrativa do 'Verão Quente' como um tempo de caos e violência, e das alegadas, mas nunca comprovadas, sovietização do país e ditadura comunista", pode ler-se.
Bairrão Ruivo salienta que esta linha discursiva "atribui ainda o atraso do país e os seus problemas económicos ao socialismo, ao 'gonçalvismo' e ao 'Verão Quente'".
"Em sentido contrário, o 'Verão Quente' é entendido como um tempo de importantes avanços socioeconómicos e de melhorias na vida das populações mais pobres", refere também.
"É sublinhada importância da Reforma Agrária e os seus efeitos na diminuição do desemprego e do trabalho sazonal, na generalização do trabalho fixo, na fixação de horário de trabalho, no aproveitamento de terras incultas ou na devolução dos baldios às comunidades", pode ler-se.
Francisco Bairrão Ruivo aponta ainda que o encerramento desde período pode ser antecipado para a tomada de posse do VI Governo, a 19 de setembro de 1975, ou o assalto à embaixada de Espanha a 27 do mesmo mês.
"Ao 'Verão Quente', seguir-se-ia um outono escaldante marcado por episódios como o 'caso RASP/CICAP', mortes e feridos em Santarém no contexto da Reforma Agrária, a destruição das antenas emissoras da Rádio Renascença por ordem do Governo, os petardos e a fumaça no comício de apoio ao VI Governo, o cerco à Assembleia Constituinte e, por fim, os acontecimentos de 25 de Novembro", sublinha.
O dossiê é de acesso livre e pode ser consultado em https://50anos25abril.pt/historia/verao-quente-de-1975/.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até finais de 2026, com cada ano a focar-se num tema prioritário.
O ano de 2025 tem sido dedicado às primeiras eleições livres, marco central da construção da democracia portuguesa.