Foi aprovada esta quarta-feira a moção de censura ao Governo francês, numa aliança inusitada entre a esquerda e a extrema-direita.
Com a queda do Executivo, o país enfrenta novamente um cenário de crise política, aliado ao risco de uma grave crise financeira.
Primeiro-ministro diz que dificuldades não vão desaparecer com moção de censura
Antes da votação, Michel Barnier avisou que a "realidade difícil" que França atravessa em termos económicos "não desaparecerá com uma moção de censura".
E agora?
Emmanuel Macron terá de nomear um novo primeiro-ministro, já que não pode convocar novas eleições antes de julho de 2025, uma vez que dissolveu a Assembleia Nacional em junho deste ano.
Macron poderá decidir reconduzir Michel Barnier, que está disposto a fazer concessões para apaziguar a Assembleia Nacional, mas com uma situação de polarização em três grandes campos - esquerda, centro-direita e extrema-direita - o risco de uma nova moção de censura é muito elevado.
O Presidente pode também demitir-se. No entanto, embora nos últimos dias se tenham multiplicado os apelos à sua saída, Macron afastou a hipótese, garantindo que nunca pensou em deixar o Eliseu antes do final do seu mandato, em 2027.
Porque caiu o Governo?
A moção de censura ao Governo francês foi anunciada depois de ter sido apresentado o orçamento da Segurança Social para 2025, que o chefe do Executivo francês decidiu adotar sem votação parlamentar.
A decisão do primeiro-ministro Michel Barnier foi tomada após vários dias de negociações com a extrema-direita de Le Pen, a quem fez várias concessões, mas que não convenceu totalmente.
Barnier cedeu em três das quatro "linhas vermelhas" traçadas pela líder da extrema-direita: eliminou um imposto sobre a eletricidade, cortou a ajuda médica aos imigrantes ilegais e manteve os subsídios a vários medicamentos.
No entanto, recusou aplicar a última imposição - o adiamento do aumento das pensões por meio ano para contrariar a inflação.
Nessa altura, Barnier já tinha tomado a decisão de avançar sem votação parlamentar, mesmo que isso colocasse o seu Governo à mercê de uma moção de censura.
Consequências podem “alastrar rapidamente” a Portugal
O país corre o risco de uma crise financeira ligada ao nível de confiança dos mercados na capacidade das autoridades públicas de contrair empréstimos a taxas baixas.
França é a segunda maior economia da zona euro, a seguir à Alemanha, e é o segundo destino das exportações portuguesas. Segundo o Jornal Negócios, a economia gaulesa comprou, em 2023, a empresas portuguesas, bens no valor de mais de 10 mil milhões de euros.
A agricultura, a indústria transformadora e o turismo deverão ser dos setores mais afetados com a queda do Governo francês, e a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) está preocupada com um possível efeito de contágio à economia europeia.
“Afetaria incontornavelmente as empresas portuguesas. A generalidade dos setores industriais portugueses seria afetada”, alertou, na terça-feira, a CIP.