Em mais de três décadas à frente do Medilink International Group, tive o privilégio de participar em concursos públicos para serviços de emergência médica em várias latitudes do globo. Nesse âmbito testemunhei processos conduzidos com os prazos adequados que um serviço desta criticidade exige.

Por isso, quando analisamos retrospetivamente o concurso português para o Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM) do INEM verificamos que o resultado final criou desafios temporais extraordinários. Não quero ser mal interpretada e apontar o dedo a quem quer que seja, até porque reconheço que todos os intervenientes tomaram as decisões que consideraram adequadas em cada momento.

É importante refletir sobre esta experiência. Não para apontar culpas, mas para identificar oportunidades de melhoria em futuros processos desta complexidade.

Uma cronologia que fala por si

Os factos são incontestáveis e estão documentados:

· Setembro 2024: O Tribunal de Contas, o INEM e a própria Força Aérea Portuguesa alertam para a necessidade imperiosa de lançar o concurso até 30 de setembro;

· 22 de novembro 2024: O concurso é finalmente publicado, com dois meses de atraso;

· 26 de março 2025: Adjudicação, quando idealmente deveria ter ocorrido em janeiro;

· 21 de maio 2025: Assinatura do contrato, quando idealmente deveria ter ocorrido também em janeiro/fevereiro;

· 30 de junho 2025: Visto do Tribunal de Contas na véspera do início previsto das operações (1 de julho)

Esta cronologia revela um processo que enfrentou constrangimentos temporais significativos, apesar dos alertas fundamentados de várias entidades competentes. O resultado foi uma situação de pressão que tornava extraordinariamente difícil para qualquer operador cumprir os prazos inicialmente previstos.

A experiência noutros países europeus

Na minha experiência em diferentes mercados europeus, verifico que os concursos preveem normalmente um período de tempo realista e razoável entre a publicação e o início das operações. Assim garante-se uma transição suave entre operadores, garantindo a melhor continuidade dos serviços. No caso das operações aeromédicas estes prazos mais alargados justificam-se porque requerem necessariamente:

· Avaliações de risco específicas para o qual é necessário um determinado período de tempo

· Certificação de pilotos que exige 8 a 12 semanas de formação exclusiva

· Aprovações regulamentares que não podem ser precipitadas

· Mobilização de aeronaves que representam dezenas de milhões de euros

Em Portugal, as circunstâncias levaram a que se tentasse comprimir todos estes procedimentos em algumas semanas. Isso criou um desafio extraordinariamente complexo para qualquer operador.

Os constrangimentos temporais e as suas consequências

Os constrangimentos temporais deste processo tiveram implicações que transcenderam a Gulf Med Aviation Services, levando o Estado português a:

· Solicitar o apoio da Força Aérea para garantir continuidade do serviço

· Implementar procedimentos de urgência por “urgência imperiosa”

· Aceitar soluções transitórias quando uma transição planeada teria sido preferível

· Gerir uma situação de maior complexidade num serviço crítico

Das 14 empresas consultadas pelo INEM para uma solução temporária, apenas uma - a nossa subsidiária Gulf Med Aviation Services - conseguiu apresentar uma resposta viável. Uma das empresas que respondeu a essa solicitação reconheceu inclusivamente precisar de "cinco a seis meses" para mobilizar os recursos necessários. Esta situação confirma que os constrangimentos temporais criaram dificuldades objetivas para todos os potenciais operadores. Este não foi por isso um problema da empresa a quem foi adjudicado o serviço, mas sim um problema da forma como temporalmente se desenrolou todo este processo.

Inovação vs. status quo

Apesar de todas estas dificuldades, a Gulf Med Aviation Services conseguiu trazer para Portugal aquilo que o concurso pretendia: inovação, modernização e eficiência económica. A nossa proposta representou uma poupança substancial para o Estado português até 2030 – milhões de euros que ficam disponíveis para outras necessidades do Serviço Nacional de Saúde.

Os helicópteros Airbus H145 que estamos a introduzir em Portugal representam um salto qualitativo significativo face aos modelos anteriormente utilizados. São aeronaves de última geração, mais silenciosas, mais eficientes energeticamente e com maior capacidade de resposta em condições meteorológicas adversas. Mas, sobretudo, trouxemos uma visão de longo prazo. O grupo Medilink International não é um operador oportunista que aparece para um contrato e desaparece. Somos uma empresa com mais de 30 anos de história, que já atuou em mais de 20 países, com um compromisso genuíno com a excelência em serviços médicos de emergência.

O compromisso com Portugal

Apesar de todas as adversidades criadas pelos prazos de todo este processo, honrámos o nosso compromisso com Portugal. Mobilizámos recursos em tempo recorde, adaptámo-nos às circunstâncias e garantimos que o país não ficou sem helicópteros dedicados em exclusivo à emergência médica. Fizemo-lo porque acreditamos que Portugal merece um serviço de excelência, operado por profissionais experientes, com tecnologia de ponta e a preços justos para os contribuintes. O nosso compromisso vai além do cumprimento contratual.

Oportunidades de melhoria para processos futuros

A experiência deste concurso oferece valiosas lições para futuros processos de contratação pública em Portugal, especialmente em sectores críticos como a saúde e a segurança. A definição de calendários realistas, alinhados com os requisitos regulamentares e operacionais, pode contribuir para processos mais eficazes e transições mais harmoniosas. E esse é, como bem se viu neste caso, um fator crítico de sucesso. Portugal conta com excelentes profissionais na administração pública, reguladores competentes e entidades técnicas de reconhecida qualidade. O seu envolvimento atempado pode ser determinante para o sucesso de processos desta complexidade.

Uma parceria de futuro

Apesar de todas as dificuldades iniciais, estou convicta de que esta será uma parceria de sucesso entre o grupo Medilink International, a sua subsidiária Gulf Med Aviation Services e Portugal. Temos a experiência, a tecnologia e, sobretudo, a paixão genuína pelos serviços médicos de emergência. O nosso ADN empresarial assenta na convicção de que cada minuto conta quando se trata de salvar vidas.

Nos próximos anos, Portugal terá um dos serviços de helicópteros de emergência médica mais modernos e eficientes da Europa. O país vai contar com helicópteros de última geração e pilotos qualificados, que aliados às excecionais equipas médicas do INEM vão contribuir para salvar vidas todos os dias. Isso é possível graças ao profissionalismo de todas as equipas envolvidas: do INEM aos nossos técnicos, dos reguladores aos pilotos. Este foi um esforço incrível, feito sem comprometer a segurança das operações, mas focados no que realmente interessa: o cumprimento da missão!

A Gulf Med Aviation Services está a cumprir o plano de implementação progressiva, sempre com a segurança como prioridade absoluta. Cada novo helicóptero que entra ao serviço representa vidas que podem ser salvas, famílias que podem estar tranquilas, comunidades que podem contar com socorro rápido e eficaz. É isso que realmente importa. E é por isso que continuaremos empenhados em servir Portugal com a máxima dedicação e profissionalismo.

Fazemo-lo sem estar à espera de qualquer agradecimento. Esperamos apenas justeza e honestidade na avaliação da forma como começou este novo capítulo nos helicópteros de emergência médica em Portugal.