José Luís Carneiro, candidato único à liderança do PS, escusou-se hoje a comentar a intenção do líder do Chega, André Ventura, avançar com uma comissão parlamentar de inquérito sobre as suspeitas de "atribuição criminosa" da nacionalidade portuguesa.

Em conferência de imprensa, o líder do Chega considerou que "a partir de 2017 o número de atribuição de nacionalidade aumentou descontroladamente", pelo que vai propor que a comissão investigue desde esse ano até ao último governo, liderado por Luís Montenegro.

Ventura admitiu, por isso, que, se a iniciativa avançar no Parlamento, vai querer ouvir o ex-primeiro-ministro e atual presidente do Conselho Europeu, António Costa, o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o antigo responsável pela pasta Augusto Santos Silva, assim como os anteriores ministros da Administração Interna José Luís Carneiro, e Margarida Blasco.

Confrontado com esta tomada de posição, à entrada da sessão de apresentação da candidatura aos socialistas da Guarda, José Luís Carneiro começou por dizer que estava ali para falar sobre "os contratos territoriais de desenvolvimento" e ouvir os contributos dos militantes locais.

No entanto, o candidato único a secretário-geral do PS acrescentou aos jornalistas que a imigração "não é um problema nacional de segurança pública" e que, "hoje, o país é mais seguro do que era quando tinha apenas cerca de mil inspetores do SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, extinto em 2023]".

"Hoje, Portugal tem esses inspetores que estão na Polícia Judiciária e, além disso, tem a PSP e a GNR", afirmou.

O que preocupa o antigo ministro da Administração Interna são "as mensagens de ódio, de agressividade", às quais o Governo ainda não deu resposta.

"Tem havido nos últimos tempos manifestações que considero graves de desrespeito pelos valores constitucionais, que devem merecer da parte do Governo e das autoridades todo o empenhamento para garantir que os direitos, as liberdades e as garantias fundamentais dos cidadãos são acautelados e salvaguardados", defendeu.

Para José Luís Carneiro, "a prática" tem sido o Governo falar "quando não se justifica e de estar em silêncio quando se justifica", exemplificando com o caso do ator de A Barraca agredido, em Lisboa, por elementos afetos a grupos neonazis.

"Isso deve merecer uma repulsa imediata de todos os responsáveis políticos", sustentou.

José Luís Carneiro prosseguiu, afirmando que, "quando alguém está numa manifestação democrática, no uso da palavra, e é insultado, vilipendiado no espaço público, isso deve merecer uma palavra de repúdio e a mobilização das forças de segurança e também do próprio Ministério Público para responsabilizar aqueles que atentam contra as liberdades fundamentais".

"Isso é que nos deve preocupar a todos", sustentou, lembrando que, "entre 2003 e 2023, o país teve menos 45 mil crimes participados, entre 2013 e 2023 teve menos 5.000 crimes participados, o que significa que é um país seguro".

José Luís Carneiro preocupado por programa do Governo ter medidas ausentes do programa eleitoral

O candidato único a secretário-geral do Partido Socialista (PS), José Luís Carneiro, está preocupado por o programa do Governo incluir propostas que não estavam no programa eleitoral da AD - Coligação PSD-CDS/PP.

"Há algo que me preocupou e tem que ver com o facto de o Governo ter trazido propostas para o programa de Governo que não estavam no programa eleitoral, nem estavam na discussão eleitoral, nomeadamente em relação às questões laborais, o direito à greve, por exemplo, e também na saúde, no que respeita à revisão da Lei de Bases da Saúde", disse, hoje, na Guarda o também deputado socialista na Assembleia da República à agência Lusa.

José Luís Carneiro falava aos jornalistas à entrada da sessão de apresentação da sua candidatura à liderança do PS, que decorreu no auditório da antiga Junta de Freguesia de São Miguel da Guarda.

Para o socialista, "quando temos uma campanha eleitoral e não se fala destes assuntos, e agora, no programa do Governo, aparecem estes temas, isto significa esconder dos eleitores aspetos, dimensões, que, se os eleitores tivessem conhecimento delas, poderiam ter tido um sentido de voto diferente".

"O que digo ao Governo é que a confiança é um gelo muito fino, é um assunto que exige uma grande sensibilidade, é assunto de grande melindre e, portanto, sugeria que o Governo tivesse boas explicações para dar ao Parlamento em relação a matérias desta natureza", avisou.

José Luís Carneiro fica a aguardar pelas "explicações" do Governo, mas realçou que este assunto "merece a nossa censura sem sombra de dúvida".

Na Guarda, perante uma sala bem composta, o único candidato a secretário-geral do PS veio ouvir os contributos de militantes, simpatizantes e representantes da sociedade.

"Estive em Viseu e Bragança [no domingo] e tenho recebido imensos contributos que permitem aperfeiçoar a própria moção de estratégia, nomeadamente sobre a forma de combater as desigualdades, as assimetrias, e, no caso da Guarda, como nós poderemos desenvolver políticas para criar oportunidades de vida no interior, que estimulem maior justiça social, valorizando salários, fixando os mais jovens nestes territórios, encontrando oportunidades para que as empresas possam investir e criar emprego", afirmou

José Luís Carneiro declarou que estas sessões de apresentação da sua candidatura têm sido "um momento extraordinário de diálogo, com muita participação" e que mostram que, "em certa medida, havia uma necessidade de vir ao encontro dos militantes, simpatizantes e de pessoas da sociedade civil"

Sobre as Presidenciais e o apoio à candidatura de António José Seguro, apresentada no domingo, o candidato a líder do PS reiterou que a posição do partido será tomada no "momento oportuno".

"Neste momento, a nossa grande preocupação e prioridade são as autárquicas, que é o grande sustentáculo democrático do país e a grande base política do PS", justificou.