
Sente as pernas pesadas, tem dor ao toque, fica com hematomas facilmente e inchaço frequente? Estes podem ser sinais de lipedema, uma condição que não tem cura e que afeta, sobretudo, mulheres. A especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética Rita Valença responde a nove questões sobre esta 'nova' doença.
O que é o lipedema?
É uma doença crónica e progressiva, caracterizada pela acumulação anormal e simétrica de gordura, principalmente nos membros inferiores (coxas, pernas e tornozelos) e braços.
O lipedema pode provocar dor, sensibilidade ao toque e uma maior tendência para desenvolver hematomas facilmente.
Apesar de afetar milhões de pessoas, quase exclusivamente mulheres, o lipedema ainda é subdiagnosticado e, frequentemente, confundido com obesidade ou celulite, tendo sido oficialmente reconhecido como doença apenas em 2018.
‼️ É importante perceber que o lipedema não é causado pelo excesso de peso, embora possa coexistir com obesidade.
Quais as diferenças entre lipedema e celulite?
Embora ambas as condições envolvam alterações na gordura subcutânea, o lipedema é uma doença e a celulite é uma condição estética.
No lipedema, a gordura é distribuída de forma simétrica e progressiva e está associada a dor, sensação de peso, hematomas fáceis e, em estágios mais avançados, a limitações funcionais.
Já a celulite afeta principalmente a aparência da pele (aspeto ondulado, “casca de laranja”) na zona dos glúteos e face posterior das coxas, e não provoca dor, nem alteração funcional significativa.
Que partes do corpo podem ser afetadas?
O lipedema afeta, sobretudo, os membros inferiores, desde as ancas até aos tornozelos, poupando os pés - um sinal característico da doença.
Em alguns casos, os braços também podem ser afetados, mas nunca as mãos, o que ajuda a distinguir o lipedema de outras condições, como o linfedema ou a obesidade.
Quais os sinais de alerta?
- Aumento desproporcional e simétrico do volume nas pernas ou braços;
- Dor frequente e sensibilidade ao toque;
- Sensação de peso, fadiga nas pernas, mesmo sem esforço físico intenso;
- Pés e mãos sem inchaço;
- Facilidade em desenvolver hematomas.
Como é que a alimentação e exercício físico impactam a doença?
Embora a gordura lipedémica não responda bem à dieta tradicional, uma alimentação anti-inflamatória (rica em vegetais, proteínas magras e alimentos naturais, com baixo teor de carboidratos refinados e ultraprocessados) pode ajudar no controlo da dor e do inchaço.
Além disso, exercícios de baixo impacto, especialmente os realizados na água, são essenciais para manter a circulação e evitar o agravamento da doença.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, baseado na história clínica, exame físico e sintomas relatados.
Exames de imagem como ecografia com doppler e, especialmente, a linfocintilografia e a ressonância magnética, podem ser utilizados para excluir outras condições, como linfedema.
Que tratamentos existem?
O lipedema não tem cura, uma vez que é uma condição crónica. No entanto, existem opções que melhoram os sintomas e a qualidade de vida:
- Tratamento conservador: inclui drenagem linfática manual, outras tecnologias e uso de meias de compressão, com orientação e supervisão por um fisioterapeuta especializado;
- Mudanças no estilo de vida: alimentação anti-inflamatória e atividade física de baixo impacto, como natação, hidroginástica e caminhadas;
- Lipoaspiração especializada: em casos mais avançados, a lipoaspiração tumescente ou assistida por água (WAL) pode remover a gordura do lipedema de forma segura, aliviando dor e melhorando a mobilidade.
E se não tratar o lipedema?
"Sem tratamento, o lipedema pode evoluir para estádios mais graves, levando à imobilidade, deformidade dos membros, dor crónica, linfedema secundário (lipolinfedema) e impacto psicológico severo, incluindo depressão e isolamento social", explica à SIC Notícias a especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética.
Que especialidade procurar?
O tratamento do lipedema envolve várias especialidades. O diagnóstico e abordagem da doença é, muitas vezes, feito inicialmente por um angiologista ou cirurgião vascular, profissionais especializados em doenças circulatórias e linfáticas.
No entanto, o papel do nutricionista, endocrinologista, cirurgião plástico e fisioterapeuta é igualmente crucial para o acompanhamento e controlo da doença.