A partir da sede da Proteção Civil, em Carnaxide, onde esteve ao início da tarde, a ministra da Administração Interna desvalorizou a questão do número de meios aéreos de combate aos incêndios, garantindo que "não faltam". A dificuldade, disse Maria Lúcia Amaral aos jornalistas, é outra: as características do terreno.

"É bom que se esclareça o seguinte, dos incêndios que mais nos afligem neste momento a intervenção dos meios aéreos ou a existência de 72 ou 76 ou 80 meios aéreos, os números são irrelevantes, porque o que causa dificuldade aos operacionais é o caráter extremamente acidental da orografia, a dificuldade de acesso".

Na opinião de Maria Lúcia Amaral, a "complexidade das operações e do combate é tal que não ajuda nada estar a saber quantos meios aéreos temos, se faltam muitos, se não faltam muitos". Até porque, reiterou, "de facto, não faltam, temos na totalidade de 75 ou um pouco mais e, neste momento, teremos imediatamente disponíveis 72".

"Falha o que falha"

O combate aos incêndios nas atuais circunstâncias não se restringe aos meios aéreos e pressupõe "saber, estudo, estratégica, comando, direcção, habilidade, dedicação e muito risco. (...) É preciso ter muito reconhecimento pelo saber destas pessoas [que estão no teatro de operações] pelo que arriscam e pela dedicação que têm".

Questionada sobre o que falhou para ainda estarem ativos, a ministra respondeu assim: "Falha o que falha, falha que não queríamos nada que isto acontecesse no nosso país, como não queríamos que acontecesse no Sul da Europa. O facto é que está a acontecer. E está a acontecer com características tais que quando não se consegue o controlo imediato (...) tornam-se de dificílimo combate".

Além disso, sublinhou, que falamos de "três ou quatro incêndios graves" num momento em que "temos mais de 125 ocorrências". Mas, prosseguiu, "estamos a falar daqueles que assumiram proporções com que não contávamos".

O importante é "compreender a raiz desses incêndios incontroláveis e uma coisa fundamental: (...) este é um problema de todos e só vai ser resolvido quando todos contribuírem", disse remetendo para as declarações feitas antes pelo primeiro-ministro.

"O que não pode acontecer é aquilo que aconteceu esta noite em que houve entre as 1h e as 8h mais de 40 ignições, ou seja, fogos novos. Isso é que não pode acontecer, de todo. Alguns são por negligência, por práticas ancentrais mas agora as condições são outra", vincou, dando como exemplo o caso do fogo em Arouca que quando o incêndio estava a começar ao fundo via-se fogo de artifício.

Apesar de assumir que algumas destas ignições podem ter mão criminosa, a ministra da Administração Interna prefere pedir "muita atenção a todos" para que se sejam evitados comportamentos de risco.

Saliente-se que, segundo dados da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, metade dos 175 incêndios registados em todo o país entre o início de segunda-feira e as 11:00 desta terça-feira foram ocorrências noturnas.