Os dados foram avançados hoje pelo relator especial da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os direitos humanos à água potável e saneamento, Pedro Arrojo-Agudo, na conclusão de uma visita oficial de dez dias à Guiné-Bissau.

No relatório sobre esta visita, que será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em setembro de 2025, o especialista apela ao Governo da Guiné-Bissau para "priorizar urgentemente os serviços de água e saneamento se quiser melhorar a vida da sua população, especialmente mulheres e crianças".

Segundo os dados avançados, "apenas 24% da população tem acesso a água potável gerida de forma segura, 15% tem saneamento gerido de forma segura e apenas 20% tem instalações de higiene com sabão em casa".

O relatório aponta ainda que "as redes de abastecimento de água estão limitadas a partes de Bissau (a capital do país) e a algumas capitais regionais".

"Além disso, não existem redes de esgotos, nem mesmo nas zonas urbanas", acrescenta.

O relator contou que, durante a visita, pôde "dar rostos a estes números e ouvir experiências de vida por trás deles".

"A falta de acesso à água potável afeta desproporcionalmente a vida e a saúde de mulheres e crianças que, geralmente, são responsáveis por buscar água", disse Arrojo-Agudo.

"Encontrei-me com mulheres e meninas que começaram a fazer fila às cinco da manhã para obter água. Na estação seca, elas caminham vários quilómetros para chegar a poços remotos", partilhou.

Para o especialista, "ser um país menos desenvolvido não justifica a falha em tornar a água potável uma prioridade, especialmente quando as mulheres nas situações mais vulneráveis, apesar das suas dificuldades, consistentemente fazem da água uma prioridade".

Além do "grande esforço associado à busca de água", o relator constatou que "a água em si geralmente é insegura, sem cloração e desinfeção adequadas".

Arrojo-Agudo apontou, também, "a falta de acesso a água potável e instalações sanitárias em escolas, centros de saúde, hospitais e centros de detenção".

"Por todo o país, ouvi depoimentos sobre a disseminação da malária, especialmente na estação chuvosa, e diarreia frequente afetando crianças devido ao saneamento inadequado e água potável insegura", acrescentou.

O especialista da ONU pede "ao Governo que conduza uma campanha de consciencialização pública sobre a importância da cloração e até mesmo forneça o produto gratuitamente".

No relatório da visita, defende que "a Guiné-Bissau deve proteger os seus aquíferos, que estão em risco devido ao saneamento precário".

O relator encoraja o Governo guineense a desenvolver um código de água "bem elaborado", criar instituições dedicadas à temática e especialistas apoiados pela cooperação internacional.

Arrojo-Agudo considera que a ausência de instituições municipais locais para a água potável e saneamento contribui para o problema.

Defendeu ainda que o país deve continuar os esforços para evitar problemas como o Rio Bidigor, que está a secar "devido a uma barragem a montante, ou à suposta poluição tóxica do Rio Corubal pela mineração ", que disse ter testemunhado em Pirada e Tchethé."

Com 80% da população em áreas costeiras, o relator considera urgente abordar a salinização do aquífero devido ao aumento do nível do mar.

 

HFI // ANP

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