"Confirma-se a instauração de inquérito a correr termos no DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] Regional do Porto", refere a PGR, sublinhando que está "sujeito a segredo de justiça".

O semanário Expresso noticia na edição de hoje que uma denúncia detalhada sobre uma cirurgia robótica ao cólon a que Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, foi submetido a 29 de agosto de 2024 no Hospital de Santo António levou o DIAP Regional do Porto a abrir um inquérito-crime".

Avança ainda que a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) também abriu um inquérito sobre o caso.

Em abril, a IGAS anunciou ter instaurado em novembro de 2024 um processo ao diretor do departamento de cirurgia do Hospital Santo António, Eurico Castro Alves, na sequência de denúncias recebidas.

O inquérito é relativo à gestão das listas de espera e acumulação de funções públicas com funções ou atividades privadas.

O Correio da Manhã já tinha noticiado, no sábado passado, que o Ministério Público estava a analisar a denúncia relativa à cirurgia de Hugo Soares, mas o Expresso apurou que "os procuradores consideraram haver motivo para investigar se poderá ter sido cometido um crime de abuso de poder num eventual favorecimento no modo como aquele político foi admitido como prioritário para ser operado".

Num 'e-mail' enviado para o Ministério Público, e que o Expresso também recebeu, o denunciante partilhou dados internos do Hospital de Santo António, incluindo os números do processo clínico de Hugo Soares e do registo da cirurgia, bem como dos nomes do pessoal médico envolvido, a começar pelo cirurgião principal, que a 21 de julho, um domingo, fez a admissão do político como prioritário na lista de espera para ser operado.

Segundo o Expresso, nesse 'e-mail' era sugerido que a referenciação para a cirurgia tinha começado com uma consulta no privado e eram levantadas suspeitas sobre o diretor do departamento de cirurgia daquele hospital público, Eurico Castro Alves, pela "forma discreta e bastante acelerada" com que o líder parlamentar foi tratado, sendo operado um mês e uma semana depois de ter sido incluído na lista de espera.

Questionado pelo jornal, Hugo Soares optou por não responder, assim como o cirurgião que o admitiu na lista de espera e o operou.

O diretor clínico do Santo António, Jorge Barros, admitiu que não sabe se algum médico do departamento de cirurgia deu consultas no privado a Hugo Soares, mas sublinhou que "a denúncia anónima tem pressupostos errados ou grosseiramente adulterados".

De acordo com Jorge Barros, Hugo Soares foi às urgências do hospital a 13 de julho de 2024 e recebeu uma pulseira amarela (que significa "urgente"), sendo "encaminhado para a especialidade de cirurgia geral".

"O quadro clínico levou ao diagnóstico de doença inflamatória aguda, com indicação cirúrgica, não emergente, mas prio­ritária. Teve alta, após cinco horas de observação, sendo referenciado à Unidade Colorretal do Serviço de Cirurgia", referiu.

O facto de ter sido operado tão depressa, ainda de acordo com o diretor clínico, está dentro "do tempo máximo de resposta garantido para prioritários não oncológicos", que é de dois meses.

"A análise anatomopatológica mostrou lesões agudas e marcadas da peça anatómica excisada, reforçando objetivamente a prioridade clínica da indicação cirúrgica", sublinhou,

Jorge Barros diz que já entregou à IGAS o número do registo da ida às urgências de Hugo Soares e que esse registo não pode ser adulterado.

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