O ser humano mais seguido na Terra falhou onde não poderia falhar. A inconcebível fatalidade que tirou a vida a Diogo Jota e a André Silva deixou o Mundo em estado de choque e deixou Cristiano Ronaldo pregado a uma cruz da qual só por milagre se libertará.

Ao faltar às últimas homenagens a Diogo e ao seu irmão, Cristiano gerou uma onda de indignação e perplexidade que podia ter sido evitada com facilidade caso a assessoria de comunicação do capitão da seleção de Portugal tivesse feito o que lhe competia.

Sem nenhuma espécie de informação prévia sobre os motivos que levaram o atleta do Al-Nassr a manter os planos feitos para as férias, a sua cabeça foi posta à disposição de todos, a começar por aqueles que não perdem um voo picado para lhe arrancar mais um pedaço de carne.

Só quando já de nada valia apresentar uma tese justificativa da ausência em Gondomar é que foram libertadas para o exterior duas versões com o objetivo de tentar emendar um erro colossal, o maior da vida de CR7. Sendo qualquer uma dessas versões de uma respeitabilidade à prova de bala, ambas ficaram esgotadas à nascença por terem sido veiculadas demasiado tarde.

Da necessidade atribuída ao madeirense de encontrar refúgio apenas junto dos seus nos momentos de maior trauma pessoal ao noticiado entendimento com a família de Diogo e André a propósito da conveniência de um estratégico afastamento das cerimónias fúnebres, tudo isso está para lá do intocável e a única questão é que pura e simplesmente não podia ficar reservado para uma divulgação a posteriori.

Pedro Nunes

A partir daqui foi somente a normal anormalidade do quotidiano a impor a lei das acusações gratuitas e cobardes, qual delas mais capaz de se fingir sentença reguladora do universo, incompatível com margens de tolerância e de interrogação sobre o que na verdade poderia estar por detrás da polémica que manchou a cobertura global de uma tragédia impossível de esquecer.

As autoestradas da desinformação continuam a revelar-se cruéis e com muitos buracos na alma, construídas à custa dos milhões que logo à partida odeiam os milhões que outros têm e que só importam pelo preço a que está à venda um ídolo ou um candidato a simulador de consciência.

Nas últimas horas, os dramas do planeta viraram agulhas para uma única encruzilhada, aquela onde foi parar o interesse do Arsenal em Viktor Gyokeres, onde se situa o interesse de João Félix em voltar ao Benfica e onde desembocou um Francesco Farioli que ficou extasiado perante o interesse de André Villas-Boas em bater os recordes de investimento no plantel.

A um ritmo voraz as manchetes engordam-se com as fortunas que alimentam o mercado de jogadores, restando saber quanto pode ser lançado aos pés de Lionel Messi para recriar no Médio Oriente as estratosféricas batalhas com o rival de uma era que fez o futebol confundir-se com um jogo de xadrez ou com uma partida de ténis.

Ronaldo, ao falhar onde não poderia falhar, por dominar como ninguém o espetro mediático, acabou também ele por beneficiar da memória que o dinheiro compra, com o maior dos pecados a ser derretido pela febre das transferências.

Nestes dias, a personalidade mais seguida na Terra sentiu-se, em exclusivo, um ser humano.