Luís Bernardo e José Paulo Fafe são velhos conhecidos. 

Entre julho de 2024 e abril de 2025 falámos com seis dezenas de pessoas. Antigos colaboradores de Luís Bernardo, clientes, ex-clientes, concorrentes, camaradas do PS, políticos à esquerda e à direita do PS, jornalistas…

Conversas anotadas que, depois de cruzadas, nos deram de Luís Bernardo e de José Paulo Fafe uma visão ampla, carregada de detalhes. 

No último episódio, o terceiro desta investigação SIC-Expresso, detalhámos a forma como ambos usaram o Tal & Qual para servirem interesses próprios e de clientes de ambos, difamando figuras públicas de relevo, concorrentes ou inimigas de alguns desses clientes, ou, simplesmente, ódios de estimação dos dois promotores. 

José Paulo Fafe comprou o Tal & Qual a Marco Galinha, por um valor simbólico, em junho de 2021. Através da empresa Parem as Máquinas, Fafe ficou dono de 70% do jornal. Em abril de 2023, o empresário abdicou oficialmente do controlo do periódico. Semanas depois, Fafe liga-se ao GMG de Marco Galinha. Em setembro de 2023, assume a presidência executiva do grupo. 

O Tal & Qual só é vendido em junho de 2024. O jornal é adquirido por um grupo de empresários do norte, liderados por Paulo Teixeira. Teixeira é deputado na assembleia municipal do Porto, eleito nas listas de Rui Moreira.  

A venda do jornal não ditou, todavia, o fim da influência de José Paulo Fafe. Até abril de 2025, Teixeira e os sócios mantiveram na direção Manuel Catarino, uma herança de Fafe. 

As manchetes com Marcelo, Ana Gomes e Balsemão

Avaliámos as 196 edições do jornal desde o regresso, a 9 de junho de 2021, até 5 de março de 2025. 196 capas por onde desfilam figuras públicas de relevo que o jornal difama e dizima.

Marcelo Rebelo de Sousa lidera a lista das personalidades mais maltratadas pelo jornal. O Presidente da República foi manchete negativa por 45 vezes. 

Ana Gomes, antiga eurodeputada do PS, é a segunda, com 21 destaques, todos relacionados com a moradia na Azóia, no concelho de Sintra, de que a socialista é proprietária. O jornal alimentou uma narrativa que forçou a demolição da piscina e dos anexos. A antiga eurodeputada acusa Luís Bernardo de estar por detrás da campanha negativa que o jornal montou contra ela. 

Bernardo trabalha para Mário Ferreira, o empresário que controla a Media Capital, a dona da TVI e da CNN Portugal. Mário Ferreira processou Ana Gomes por difamação, por quatro vezes, mas perdeu os quatro processos. A socialista entende que o dono da TVI/CNN arranjou forma de se vingar, criando condições para que as matérias relativas à moradia da Azóia despontassem no Tal & Qual. 

Mário Ferreira rejeitou dar-nos uma entrevista sobre esta matéria, mas, numa declaração escrita, recusou qualquer envolvimento nas campanhas negras de Bernardo e Fafe.

Francisco Pinto Balsemão, presidente do conselho de administração do Grupo Impresa, dono da SIC e do Expresso, concorrente direto de Mário Ferreira, é a terceira figura pública a receber o maior volume de manchetes negativas do jornal.

Balsemão não encontra explicação para o que considera ser uma obsessão do Tal & Qual. O jornal, conclui o empresário numa declaração escrita, “está menos preocupado com as vendas e mais obcecado em perseguir, injuriar e procurar abater os seus alvos”. 

Carlos Moedas um alvo do jornal?

Com o mesmo número de manchetes negativas de Francisco Pinto Balsemão, 20, surge Carlos Moedas. O jornal ataca, sobretudo, a gestão do autarca de Lisboa. Uma fonte muito próxima de Carlos Moedas assegurou à SIC e ao Expresso que o dono do Tal & Qual, José Paulo Fafe, pediu um favor a Moedas, que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa negou. Nesse dia, Moedas terá passado a ser um alvo negativo do jornal.

José Paulo Fafe e Luís Bernardo não responderam às perguntas diretas que lhes enviámos sobre as vítimas do Tal & Qual. Fafe, todavia, quis deixar lavrado este protesto:

“Lamento profundamente os pressupostos descabidos, o teor ofensivo e as insinuações intoleráveis subjacentes nestas questões, onde, quanto mais não seja, são colocadas em causa a seriedade, o profissionalismo e a ética dos jornalistas do Tal&Qual, algo sobre o qual não posso deixar de referir o mais profundo repúdio”.

Um dos sinais que indicia a existência de uma sociedade oculta entre Bernardo e Fafe está nesta informação a que a investigação SIC-Expresso chegou: entre 2021, ano em que o Tal e Qual regressou das trevas, e 2024, a WLP, a empresa de Luís Bernardo, transferiu quase 260 mil euros para as três empresas de José Paulo Fafe, incluindo quase 60 mil para a Parem as Máquinas, a entidade dona do Tal e Qual, detida a 70% por Fafe, oficialmente até abril de 2023. Bernardo e Fafe também não nos quiseram explicar a razão destas transferências de dinheiro. 

As ligações de Luís Bernardo aos meios de comunicação social

Durante sete meses identificámos as ligações de Bernardo, antigo assessor de imprensa do ex-primeiro-ministro José Sócrates, com outros empresários do setor da comunicação que, articulados, terão criado uma rede de negócios que lhes pode ter garantido contratos com organismos públicos, sobretudo autarquias do partido socialista. Luís Bernardo é militante do PS e foi dirigente da juventude socialista. 

Analisámos, ao detalhe, as fortes ligações de Luís Bernardo aos meios de comunicação social, desde logo a dois grupos - Global Media Group (GMG) e Media Capital - onde o empresário prestou e presta serviços de assessoria. 

Essas ligações terão sido determinantes para que, em 2023, o GMG, de Marco Galinha, tivesse alienado o controlo a um fundo, o World Opportunity Fund (WOF), onde o empresário angolano Álvaro Sobrinho tem interesses diretos.

Durante os seis meses em que o WOF assumiu a gestão do DN, JN, TSF e o Jogo, os jornais e a rádio sofreram um rombo assinalável, com a ameaça de despedimento de 150 a 200 trabalhadores, incluindo jornalistas e colunistas. Algumas dezenas acabaram mesmo por sair. Os programas da TSF foram todos suspensos.

Em março de 2024, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) decidiu suspender os direitos do WOF, declarando falta de transparência. O regulador requereu informações sobre os verdadeiros donos do fundo, mas o representante, José Paulo Fafe, nunca as forneceu. Na sequência da decisão da ERC, o controlo do GMG foi reassumido por Marco Galinha. 

A investigação SIC-Expresso provou que, para além de Luís Bernardo, também José Paulo Fafe teve papel decisivo na alienação do GMG ao WOF. Fafe acabou por ser nomeado presidente executivo do grupo de comunicação social dono do DN,JN, TSF e O Jogo. 

Investigação SIC-Expresso

Ficha Técnica:

Jornalistas: Pedro Coelho, Filipe Teles e Micael Pereira

Imagem: João Venda

Edição de imagem: Andrés Gutierrez

Grafismo: Pedro Morais

Coordenação: Luís Garriapa

Direção: Marta Reis e Bernardo Ferrão