
"Estou indignada porque [a falta de transportes interilhas] é uma situação lamentável, isso já passou dos limites. Não é a primeira manifestação. Por mais que falemos ou reclamemos, nenhuma medida foi tomada", afirmou Eugénia Duarte, moradora na Brava, citada pela Rádio de Cabo Verde (RCV).
Eugénia falava durante uma manifestação realizada na segunda-feira, na Brava, para exigir melhores transportes entre as ilhas, que juntou duas dezenas de habitantes da ilha, entre colunas de som e cartazes onde se lia "o nosso imposto conta, queremos os nossos barcos".
"Como é que se diz que Cabo Verde é um país independente sabendo que vivemos esta realidade? Esta manifestação não é só pelos transportes, é pela saúde, pela falta de água, por tudo do que a ilha sofre. Mas o transporte chegou a um ponto insustentável. É preciso agir. Vamos sair todos os dias à rua", acrescentou.
A falta de ligações regulares tem condicionado a mobilidade e o acesso a bens e serviços essenciais.
"Avançou tudo, menos a Brava. Se houvesse três viagens por semana, já serviria", lamentou Autílio Silva.
João Pereira reforçou que, sem barco, a ilha não funciona: "O Governo tem de garantir que a Brava seja tratada como parte do país. Há doentes e pessoas com compromissos noutras ilhas. Precisamos de direitos garantidos."
Também na segunda-feira, o presidente da Câmara Municipal da ilha do Maio, Rely Brito, criticou, em conferência de imprensa, a ausência de "uma política de transportes regulares e eficientes", sem a qual "não se pode falar de desenvolvimento económico e social" - tanto a nível marítimo como aéreo.
"Falo em nome do povo do Maio para dizer que o problema dos transportes tornou-se insuportável. O Governo e os restantes órgãos do poder não podem continuar com esta atitude de avestruz -- esconder a cabeça quando o corpo inteiro está exposto, para desespero de uma ilha trabalhadora, cumpridora e pagadora de impostos", criticou.
Segundo o autarca, há semanas que há instabilidade nas ligações com Santiago, marcadas por cancelamentos e atrasos frequentes.
"Muitos de nós precisam dos transportes para cuidados médicos ou reunir famílias. Os comerciantes, trabalhadores e empresários dependem de abastecimentos regulares. Quando os barcos não chegam, as prateleiras esvaziam-se, os preços sobem e os clientes escasseiam. Esta instabilidade fragiliza os negócios, ameaça o emprego e o turismo, motor da nossa economia", referiu.
Entre as soluções, Rely Brito propõe um calendário fiável, com horários a cumprir e informações transparentes, apoio reforçado aos comerciantes e profissionais do turismo e um comité local de acompanhamento dos transportes.
Os empresários do Maio estão a preparar uma manifestação para o próximo dia 28, segundo a presidente da associação local, Elisângela da Silva.
O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, reconheceu hoje os constrangimentos nas ligações interilhas, durante a apresentação de um projeto para a nova gare marítima do Porto da Praia.
"Ainda não conseguimos estabilizar as ligações. Sempre que há disrupção, temos problemas. Não podemos manter a Brava nem o Maio nesta situação", afirmou.
O chefe do Governo admitiu que estas falhas alimentam a desconfiança no sistema de transportes, com impacto negativo a nível nacional e garantiu que o Governo está empenhado em ultrapassar os constrangimentos técnicos e operacionais, assegurando soluções que garantam a regularidade do serviço.
Dois dos quatro navios da CV Interilhas, empresa concessionária do serviço público de transporte marítimo de passageiros e cargas, sofreram acidentes nas últimas semanas e têm estado fora de circulação.
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