"O Presidente, Félix Tshisekedi, vai dirigir-se hoje à nação, uma alocução muito aguardada", declarou, depois de a principal cidade do leste do país ter sido amplamente conquistada no espaço de alguns dias pelo grupo armado rebelde M23 e pelas tropas ruandesas.

O M23, apoiado pelas forças ruandesas, controlava hoje quase toda a cidade de Goma, a principal cidade do leste da RDCongo, e, com o fim dos combates, o centro da cidade voltou a registar a circulação de populares.

Nos últimos dias, o Governo democrático-congolês denunciou a "declaração de guerra" do Ruanda e sublinhou a sua vontade de "evitar a carnificina" em Goma.

Os confrontos à volta de Goma agravaram a crise humanitária nesta região estratégica, com um subsolo rico, abalada desde há décadas pela violência de grupos armados apoiados em parte pelos vizinhos da RDCongo e agravada após o genocídio ruandês de 1994.

De acordo com a ONU, mais de meio milhão de pessoas foram deslocadas pelos combates desde o início de janeiro.

Entretanto, em declarações à AFP, o enviado especial do Ruanda para a Região dos Grandes Lagos, Vincent Karega, considerou hoje que o M23 vai "continuar" a avançar no leste da República Democrática do Congo, podendo ir mais além.

O grupo armado vai "continuar no Kivu Sul, porque Goma [capital do Kivu Norte] não pode ser um fim em si mesmo, a não ser que entretanto negoceiem com o Governo de Kinshasa, o que duvido", disse o diplomata ruandês, explicando que a RDCongo colocou as suas forças e capacidades militares na região de Goma e "o resto do país não está tão protegido".

Na sua opinião, "é possível" que o M23 possa marchar até à capital, Kinshasa, e acabar por conseguir "partilhar o poder" no país ou "tomar o poder totalmente".

No entanto, os especialistas no país acreditam que a sua vasta dimensão e a complexa dinâmica de segurança tornam isso improvável.

"É possível, especialmente se eles juntarem forças com outros" grupos armados da Aliança do Congo (o movimento político-militar a que pertence o M23) "ou outros democrático-congoleses que pretendem derrubar a má governação", disse Karega.

"Durante demasiados anos, foi prometida boa governação e a população não a vê, nem sequer sabem com o que se parece. Quando a corrente é demasiado má, podemos dizer: 'Deixem-me confiar no desconhecido, pode ser melhor'", continuou.

Karega foi anteriormente embaixador na RDCongo, mas foi expulso do país em 2022, no auge das tensões entre Kinshasa e Kigali, acusada de apoiar o M23.

O diplomata também pôs em dúvida as esperanças de uma reunião prevista para o final do dia, por iniciativa do Quénia, para tentar resolver a crise.

O Presidente democrático-congolês, Félix Tshisekedi, foi citado pela agência noticiosa governamental do país como tendo dito que "não participaria" na cimeira, onde o seu homólogo ruandês, Paul Kagame, também era esperado.

"Com quem mais é que ele vai falar? Com quem, sobre o quê?", questionou o diplomata.

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