Donald Trump está “muito confiante”. As palavras são do republicano, que falou aos jornalistas em Palm Beach, na Florida, onde votou ao lado da mulher, Melania. O antigo Presidente norte-americano explicou os motivos que justificam a sua confiança: os republicanos “apareceram em força”, disse. Trump garante que chegou ao dia das eleições “com uma vantagem muito grande”.
“Ouvi dizer que estamos muito bem”, prosseguiu, manifestando que, além de se sentir otimista, considera-se também “muito honrado” por descobrir que as filas são longas. “As linhas conservadoras, as linhas republicanas são demasiado longas”, resolveu aclarar, considerando que esta é mesmo “a melhor campanha” das três em que já participou. Ao mesmo tempo, chegou a admitir que esta será a última que fará.
Questionado pelos jornalistas sobre como chegará aos eleitores que se lhe opõem, Trump alterou a sua habitual retórica e disse querer “trazê-los todos”, num esforço “muito inclusivo”.
Criticando a liderança democrata, o candidato presidencial repetiu: “Temos um grande país, mas temos um país que está em apuros. Está em apuros em muitos aspetos, e temos de resolver a situação.”
O antigo Presidente também aproveitou para criticar a demora expectável na divulgação doss resultado da eleição desta noite, dizendo que deveria “terminar até às 22:00”. Destacando a Pensilvânia, um swing state que poderá ser dos mais decisivos, Donald Trump manifestou “uma indignação absoluta” por o processo poder prolongar-se por dois ou três dias. “Uma coisa destas nunca deveria acontecer”, diz o candidato presidencial republicano. Steve Bannon, que foi um dos arquitetos e principal ideólogo do Trumpismo, admitiu ao Expresso que a estratégia de Trump deverá passar por declarar vitória nas primeiras horas da noite (quando nada será ainda conclusivo).
Mark Wheeler, professor de comunicação política na Universidade Metropolitana de Londres, afirma, em declarações ao Expresso, acreditar que Trump siga essa cartilha. “Bannon é o ideólogo trumpista definitivo, e, tal como Trump, tem um cérebro estratégico, por isso sabe definir as notícias e a narrativa das redes sociais se Trump declarar vitória que irá reverberar através das câmaras de eco do ciberespaço e de uma base MAGA [Make America Great Again] já desconfiada, que tem alimentado a narrativa eleitoral roubada ao longo da campanha. É claro que Bannon acabou de sair da prisão, depois de ter cumprido uma pena de cinco meses de prisão pelo seu papel, a 6 de janeiro de 2021, e pela sua recusa em fornecer informações às autoridades. Portanto, ele está classicamente a dar cartas com base no seu libertarianismo anti-estatista e na sua consciência de pós-verdades."
O politólogo lembra o exemplo de George W. Bush em 2000, que declarou vitória, “com sucesso”, e foi confirmado vencedor por ordem do Supremo Tribunal, apesar de ter perdido o voto popular, mas ter vencido no colégio eleitoral. “Trump só pode ganhar no colégio eleitoral, uma vez que a sua base e os potenciais eleitores indecisos não têm números para ganhar no voto popular. É por isso que a distribuição dos votos nos estados indecisos é tão importante e será a chave a ter em conta. A questão da fraude eleitoral pode muito bem chegar a um resultado feio, e a natureza divisiva da campanha faz com que os opositores e todos os EUA permaneçam extremamente sensíveis e abertos a comentários inflamados. A base MAGA pode muito bem responder de forma violenta e negativa se Harris vencer. A natureza perturbadora e a insurgência de Trump não devem ser subestimadas.”
Quanto à possibilidade de os apoiantes republicanos replicarem as ações de há quatro anos, a analista política Emma Long também admite: “Existe um receio muito real quanto à possibilidade de violência; provavelmente não na capital desta vez, mas potencialmente a nível estadual. Tenho visto alguns relatos nos meios de comunicação social sobre assédio nas assembleias de voto, mas nada de grave, até agora. Mas não há dúvida de que Trump levantou receios entre os seus apoiantes sobre “outra” eleição roubada, e, portanto, se as contagens fossem encerradas ou se houver necessidade de os tribunais se envolverem de formas que tenham impacto no resultado, não está fora das possibilidades de que alguns apoiantes de Trump possam agir.” A analista explica que alguns apoiantes de Trump foram preparados para acreditar que, depois de 2020 ter sido “roubado”, é provável que volte a acontecer e, por isso, “acreditando genuinamente nisso, podem estar preparados para a acção”.
O antigo líder da Casa Branca, que vai acompanhar os resultados na sua casa em Mar-a-Lago, afastou, contudo, a possibilidade de violência caso o desfecho não seja o que os republicanos ambicionavam: “Não tenho de dizer-lhes isso. É claro que não haverá violência. Os meus apoiantes não são pessoas violentas. São pessoas que não acreditam na violência. Certamente não quero violência, mas certamente não preciso de dizer isso a estas grandes pessoas.”
Apesar de Donald Trump se manter otimista, as sondagens continuam a mostrar que se trata de um ato eleitoral apertado, com todos os estados indecisos estão dentro da margem de erro. Emma Long, professora de história e política norte-americana na Universidade de East Anglia, no Reino Unido, diz ao Expresso que a volatilidade das sondagens neste ciclo eleitoral inspira cautela, pelo que não devem ser feitas afirmações tão definitivas: “Parece haver uma grande participação das mulheres até agora. Os democratas esperam que isto os favoreça - esperando que votem a favor do direito ao aborto e dos democratas ao mesmo tempo -, mas tem havido muitos testemunhos de pessoas em lugares como a Flórida que sugerem que as mulheres podem muito bem estar a proteger o direito ao aborto, mas votando em Trump ao mesmo tempo.”
Curiosamente, Trump votou num estado que está também a votar as leis do aborto, a Flórida. Cayce Myers, professor de relações públicas na Virginia Tech, refere que, se as probabilidades são equilibradas, muito se deve ao peso do género. “Trump tem uma ligeira vantagem nos principais estados decisivos, e as probabilidades de aposta neste momento mostram-no favorecido. A margem de Trump com as mulheres é importante, mas o mesmo acontece com a margem de Harris com os homens. Esta eleição tem uma disparidade de género notável entre ambos os candidatos. A extensão do impacto que isto terá no resultado depende do que os eleitores consideram a questão principal em 2024. Se for a economia, então Trump tem a vantagem, se forem os direitos reprodutivos, então Harris tem a vantagem.”