A disponibilidade de Vladimir Putin para falar com Donald Trump não convence a chefe da diplomacia europeia. Kaja Kallas não acredita que a Rússia esteja de boa fé nas negociações para um cessar-fogo e a Paz na Ucrânia.

"As condições que apresentam mostram que, na verdade, não querem a paz", afirmou aos jornalistas. Diz que a exigência de Putin de ficar os territórios ucranianos ocupados e de manter a Ucrânia fora da NATO são antes os "objetivos finais que quer alcançar com a guerra".

E enquanto Trump se prepara para falar ao telefone com Putin, Kallas insiste na necessidade de reforçar o apoio militar a Kiev. No final do encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros, que decorreu esta segunda-feira em Bruxelas, diz que "existe um amplo apoio político" para avançar com "a iniciativa de defesa de 40 mil milhões de euros", faltando agora trabalhar "os detalhes".

Ao que Expresso apurou, existe um apoio alargado à criação de um pacote de apoio militar adicional. No entanto, a maioria aponta para já para "pelo menos 20 mil milhões de euros", hesitando ainda em duplicar o montante. Por definir está também a chave de repartição do esforço.

A proposta da Alta Representante da UE para a Política Externa prevê que os estados participantes - dentro ou fora da UE - contribuam de acordo com peso económico, ou seja, em função do Rendimento Nacional Bruto, o que no caso de Portugal corresponderia a um esforço de 600 milhões euros.

Porém, o Governo português ainda não quer falar de montantes, argumentando que a questão dos 20 mil milhões ou 40 mil milhões ainda não está sequer fechada. O executivo ainda não decidiu de que forma participará na iniciativa da chefe da diplomacia europeia.

Ao mesmo tempo, Paulo Rangel, admite que para essa decisão, o Governo consulte o Partido Socialista de Pedro Nuno Santos, tal como há um ano, António Costa também se concertou com Luís Montenegro, para aprovar €100 milhões para a compra conjunta de munições organizada pela República Checa.

"Em 2024 tínhamos um Governo em gestão que tomou várias decisões, claro que não

as tomou sozinho, tomou-as com certeza num espírito de diálogo nacional e portanto obviamente que julgo que isso será o que seria adequado se tivermos que tomar alguma decisão neste contexto", afirmou Rangel aos jornalistas.

Espanha e Itália surgem também entre os países que não estão convencidos quanto ao desenho final do pacote adicional de ajuda. O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros argumenta que é preciso esperar pela conversa entre Trump e Putin.

"A proposta de Kallas tem de ser desenvolvida, também tendo em conta os desenvolvimentos após o telefonema entre Trump e Putin para alcançar uma trégua", afirmou esta segunda-feira António Tajani. "Temos as despesas para alcançar os 2% da NATO, as despesas da proposta de Von der Leyen para Rearmar a Europa. Não creio que hoje seja possível chegar a uma conclusão porque há muitos países além da Itália que querem aprofundar o debate".

Quanto esteve em Kiev, a 24 de fevereiro, o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou mil milhões de ajuda adicional ao país, mas o país tem estado na mira de outros Governos por não gastar os suficiente com defesa. Esta segunda, foi a vez de o ministro dos negócios estrangeiros, José Manuel Albares, responder: "a Espanha não necessitou de uma proposta da alta representante para comprometer mil milhões de euros de apoio para este ano: nesse sentido a Espanha vai muito mais além e dá o exemplo para que todos tenham contributos importantes".

A Estónia, a Dinamarca e a Lituânia são os países que mais têm contribuído para a ajuda à Ucrânia, em percentagem do PIB. Segundo o grupo de reflexão do Instituto de Kiel para a Economia Mundial, enviaram mais de 2% do seu PIB para Kiev entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024.

Em contraponto, Itália, Eslovénia, Espanha, Portugal, a Grécia e Chipre estão entre os países que menos ajudaram, tendo concedido menos de 0,5% do PIB. No fim da tabela, surge, sem surpresas, a Hungria que tem sido sistematicamente crítica da ajuda militar à Ucrânia

A iniciativa de Kaja Kalas segue agora para a discussão na reunião líderes, marcada para esta quinta-feira, em Bruxelas.