
O Presidente ucraniano acusou hoje a China de "fornecer armas" à Rússia e de participar na "produção de certo armamento" em território russo, anunciando, paralelamente, que quer comprar mísseis Patriot aos Estados Unidos.
"Recebemos finalmente informações de que a China está a fornecer armas à Rússia. [...] Acreditamos que representantes chineses estão envolvidos na produção de certas armas em território russo", disse Volodymyr Zelensky numa conferência de imprensa.
Zelensky não entrou em pormenores sobre estas acusações, mas referiu-se a "pólvora e artilharia", prometendo dizer mais "na próxima semana".
Na semana passada, a Ucrânia anunciou a captura de dois cidadãos chineses que combatiam no exército russo. Zelensky já tinha acusado a China de "estar envolvida" no conflito, o que Pequim negou.
O Presidente ucraniano também afirmou que "várias centenas" de cidadãos chineses estão a combater nas fileiras do exército russo na Ucrânia.
A China apresenta-se como parte neutra e um potencial mediador neste conflito, mas continua a ser um aliado político e económico fundamental da Rússia, ao ponto de o Ocidente a ter descrito como um "facilitador decisivo" do ataque russo, algo que Pequim nunca condenou.
Pequim é acusada, nomeadamente, de ajudar Moscovo a contornar as sanções ocidentais, permitindo-lhe adquirir os componentes tecnológicos necessários para produzir armas de guerra. No entanto, esta é a primeira vez que Zelensky acusa a China de fornecer armas diretamente a Moscovo.
Na mesma conferência de imprensa, Zelensky acusou o enviado do homólogo norte-americano, Donald Trump, Steve Witkoff, interlocutor de Moscovo nas negociações de cessar-fogo, de "adotar a estratégia russa" e de "espalhar histórias russas".
"Penso que Witkoff adotou a estratégia russa. Penso que isto é muito perigoso, porque ele está, consciente ou inconscientemente, a divulgar histórias russas", declarou Zelensky.
Steve Witkoff é o interlocutor privilegiado do Presidente russo, Vladimir Putin, nas negociações para resolver o conflito na Ucrânia. Os dois homens encontraram-se três vezes desde fevereiro, a última das quais na semana passada, na Rússia.
Segundo Zelensky, Witkoff vai manter conversações com os chefes da diplomacia ucraniana, francesa, alemã e britânica durante a visita a Paris, que começou hoje.
Há várias semanas que a administração Trump tem mantido conversações separadas com responsáveis russos e ucranianos, para encontrar uma saída para a guerra na Ucrânia.
Até agora, porém, estas conversações não conduziram a uma cessação das hostilidades.
Independentemente das palavras sobre o enviado de Trump, Zelensky garantiu que a Ucrânia está pronta para comprar "pelo menos" 10 sistemas antiaéreos Patriot aos Estados Unidos, um sistema caro que Kiev havia exigido anteriormente aos aliados na forma de ajuda.
"A Ucrânia está pronta para comprar pelo menos 10 sistemas. Discuti esse mínimo com o Presidente Trump durante nossa conversa telefónica. Disse-me que os Estados Unidos trabalhariam nisso", sublinhou o chefe de Estado ucraniano.
"Até agora, não tenho mais informações", indicou, acrescentando estar a conduzir "conversações separadas com os europeus porque é muito caro".
Segundo analistas, uma bateria Patriot pode custar até 2.500 milhões de dólares (2.200 milhões de euros) para ser exportada e cada um dos mísseis custa até 10 milhões de dólares (8,81 milhões de euros) para ser exportado.
Na passada sexta-feira, Zelensky já tinha pedido aos aliados da Ucrânia para fornecerem 10 sistemas Patriot adicionais para ajudar o país a enfrentar o número crescente de ataques aéreos russos.
"Precisamos mesmo deles", pediu numa mensagem de vídeo dirigida aos chefes militares dos países aliados da Ucrânia, reunidos em Bruxelas.
Nos últimos três anos, a Ucrânia já recebeu várias baterias Patriot fornecidas pelos Estados Unidos, pela Alemanha, pelos Países Baixos e pela Roménia.