
A adrenalina da velocidade, o glamour das corridas e o estatuto de estrela escondem uma realidade crua que poucos ousam revelar. Jack Miller, em entrevista ao podcast Gypsy Tales, deu voz à face esquecida da MotoGP: os sacrifícios pessoais e o vazio fora das pistas.
‘Tens de treinar como um animal, deixar o teu país e não tens uma segunda opção. Pilotar é a única coisa que sabemos fazer’, confessou Miller, citado pelo Motosan.es num tom de desabafo e frustração.
Para muitos jovens pilotos, o preço da entrada é quase sempre emocional, familiar e psicológico. São adolescentes que, aos 13 ou 14 anos, abandonam casa, escola e amigos na esperança de chegar à elite. Mas o que acontece se não conseguirem? ‘Não temos outras competências. Pilotar é tudo o que sabemos fazer’, afirmou o australiano, apontando para a ausência de planos B, de formação paralela, ou de apoio real ao longo da carreira.
‘Fá-lo-ia de graça porque adoro isto, mas as pessoas deviam saber o que deixamos para trás para estar aqui’, disse, numa das passagens mais marcantes da entrevista. A paixão pelo desporto é inegável — mas o sistema, tal como está, parece viver da entrega absoluta de jovens sem rede de segurança.
Miller deixa o aviso: se o modelo não mudar, o MotoGP continuará a queimar talento e a exigir tudo sem garantir quase nada em troca.