Mesmo sem que, até aqui, tivesse sido convidado para entrar, Rúben Amorim devia saber bem o que é que o Manchester United tem dentro de casa. Desde que foi anunciado como o próximo treinador dos red devils, o treinador que vai rumar a Inglaterra no dia 11 de novembro recusou-se a falar dos objetivos, propostos ou autoimpostos, que tem para cumprir em Old Trafford. A ideia é transmitir que enquanto está no Sporting a sua cabeça está no Sporting com ele.
Os jogadores do Manchester United encontram-se em modo semi-piloto automático. É verdade que, no banco, está o interino Ruud van Nistelrooy, mas não há espaço para criar grande afeição às propostas do neerlandês, visto que na próxima semana terão que virar a casaca e abraçar-se a um novo técnico. A ideia é de que Old Trafford não está a estranhar tanto a ebulição na liderança da equipa como Alvalade. Pudera... De um lado, o entusiasmo de contratar uma das grandes esperanças dos bancos internacionais para colocar fim ao sofrimento. Do outro, a nada previsível convivência com o incerto.
Na perspetiva de Rúben Amorim, toda a questão de não deixar Portugal no imediato só faz com que o ponto de partida seja cada vez mais negativo. É que, contra o Chelsea (1-1), na 10.ª jornada da Premier League, o Manchester United voltou a não vencer, uma vez que o penálti convertido por Bruno Fernandes teve resposta pronta de Moisés Caicedo. Dois golos caídos do céu que se anularam e não permitem aos red devils responderem da melhor maneira à derrota com o West Ham, somando nova partida sem ganhar.
Ruud van Nistelrooy não teve no topo das prioridades aproximar o modelo de jogo do Manchester United ao que o Sporting utiliza para amenizar o impacto da chegada de Rúben Amorim aos red devils. Embora o antigo avançado esteja, como confessou, disponível para fazer parte da equipa técnica do português, não houve contacto entre ambos. Assim, não é de estranhar que a maneira como o Manchester United se dispôs em campo também reflita essa distância.
Além do necessário empolar da moral do plantel, será precisa alguma ginástica tática para imaginar o 3X4X3, de que Amorim tanto gosta, a rolar em Manchester. Em períodos de instabilidade, o mais fácil é agarrar a certeza e essa dá-se pelo nome de Bruno Fernandes. Tem tido estatuto de incontestável desde que rumou ao Manchester United e não é expectável que o perca, assim consiga um encaixe posicional que lhe permita ver o jogo de frente e alimentar os finalizadores (que no sistema de Amorim pode ser na dupla de centrocampistas ou numa das meias do ataque).
Outras situações já levantam mais dúvidas. Frente ao Chelsea, sobretudo na primeira parte, fase em que esteve mais tempo em bloco baixo, o Manchester United organizou-se em 4X2X4, ou seja, apenas com dois centrais, De Ligt e Lisandro Martínez. De modo a incluir um terceiro, olhando à composição do plantel, imagina-se que tenha que ser um jogador com características de lateral a fixar-se numa zona mais recuada para garantir eficácia nas ações de maior risco na primeira fase de construção. Diogo Dalot – frente aos blues travou duelos intensos com Pedro Neto – pode ser uma hipótese, assim como Luke Shaw, a recuperar de lesão.
O ponta de lança dos red devils, tal como o do Sporting, também é um rapaz loiro, mas este chama-se Rasmus Højlund e tem menos eficácia e capacidade de carregar a equipa às costas ao longo de vários metros. No ataque, há sobretudo que rentabilizar a audácia de Alejandro Garnacho.
Do encontro contra o Chelsea saiu também a demonstração de que Manuel Ugarte ainda é o jogador de que Rúben Amorim tanto fez proveito enquanto o teve em mãos no Sporting: rígido nos duelos, capaz de quebrar linhas em condução e com uma presença alargada a várias zonas do terreno. Ao seu lado, Casemiro é que parece não dar match com os médios defensivos mais paradigmáticos que Amorim teve em Alvalade, João Palhinha e Morten Hjulmand. Com uma área de influência mais restrita, o brasileiro não casa com a cobertura de um vasto território que o futuro técnico do Manchester United exige aos médios. Kobbie Mainoo, assim que recupere dos problemas físicos, terá uma palavra a dizer na luta pelo lugar.
Há duas formas de ver o risco inerente à ida de Rúben Amorim para o Manchester United. Olhando para a dimensão do clube e para aquilo que não conseguiu fazer com Erik ten Hag, de facto, é um risco sério que o treinador português se proponha a cumprir objetivos grandiosos. Por outro lado, agarrando no 13.º classificado da Premier League, refém de alguns jogadores lesionados, o que é que pode ficar pior? Desse prisma, nada.