Quem olhar apenas para o resultado e basear as suas conclusões na manita que Portugal aplicou à Dinamarca e, quiçá, nos olés que ecoaram em Alvalade nos últimos minutos do prolongamento, engana-se redondamente. O barquinho de Portugal esteve em muitos momentos à beira do naufrágio, mostrou-se incapaz de ter bola quando dela mais precisava, e revelou, a quem ainda não tinha percebido, que com Cristiano Ronaldo a turma das quinas joga um tipo de futebol mais redondo, menos intenso e agressivo, e sem o jogador do Al-Nassr torna-se num conjunto que pressiona forte, é mais rápido e acaba por ser mais temível. Não se trata de qualificar ou desqualificar Cristiano Ronaldo, estamos apenas perante opções a tomar pelo selecionador: quer o quê? Quem aponte à baliza por norma e torne incómoda a saída de bola do adversário, ou prefere mandar a campo um conjunto que se resguarda numa zona que o limita? Mas não deixemos de manter o foco em Cristiano Ronaldo, porque o que está em causa não é conjuntural, mas estrutural. O maior goleador da história do futebol, que em Alvalade deu tudo o que tinha, honra lhe seja feita, e até fez o gosto ao pé, deverá continuar a ser útil à Seleção Nacional, se utilizado em doses ligeiras, sem que dele dependa o ritmo da equipa e o tipo de futebol que pratica. Se Roberto Martínez não perceber o que está em causa, arrisca-se a passar ao lado de uma grande carreira na equipa de todos nós.

MONTANHA-RUSSA 

O técnico catalão armou a equipa portuguesa num 4x3x3 em que Diogo Dalot ajudava, pelo meio, o trio formado por Vitinha, Bruno Fernandes e Bernardo Silva, enquanto Francisco Conceição devia ter feito mais do que fez no flanco direito. Já do outro lado, Nuno Mendes esteve soberbo, muitos furos acima de Rafael Leão, um jogador que se fosse capaz de levantar a cabeça nos momentos certos seria dos melhores do Mundo. Assim, vai vivendo de fogachos em lances de um-contra-um, ficando a anos-luz do seu potencial.

 Perante uma Dinamarca organizada num 4x3x3, que passava a 4x4x2 com o avanço de Eriksen e o recuo de Lindstrom e Isaksen, o jogo não podia ter começado de melhor feição para Portugal, que logo aos seis minutos dispôs de um penálti, a castigar empurrão de Dorgu a Cristiano Ronaldo, que o astro madeirense bateu fraco, para as mãos de Kasper Schmeichel. Este facto deu maior ânimo à Dinamarca, que fazia da pressão alta nas saídas de bola portuguesas, a sua maior arma para evitar a melhor qualidade técnica lusa, nos ataques organizados. Mas a verdade é que a equipa nacional teve uns bons primeiros 20 minutos, com Cristiano Ronaldo (17 minutos), a obrigar Schmeichel a enorme defesa após cruzamento de Nuno Mendes.

  Até ao fim da primeira parte, a superioridade de Portugal foi-se desvanecendo, Hojlund obrigou, até, aos 23 minutos, Diogo Costa a grande defesa e o golo da turma nacional haveria de chegar por linhas tortas, após um canto de Bruno Fernandes que Anderson cabeceou para a própria baliza, batendo Schmeichel

DESORGANIZAÇÃO

Pensou-se que o mais difícil estava feito, mas o início da segunda parte trouxe uma equipa de Portugal mais desorganizada, a deixar que o jogo se partisse, e começou a adivinhar-se o golo do empate nórdico, que chegou também de canto (56), um minuto depois da Dinamarca ter disposto de outra ocasião para empatar. 

 Martinez percebeu que estava perto de perder a eliminatória e trocou Leão por Jota, que ficou mais próximo de CR7 e enriqueceu a equipa com maior objetividade e capacidade pressionante. Respondeu o técnico dinamarquês com trocas sucessivas que refrescaram meio-campo e ataque, mas seria o capitão da Seleção Nacional a faturar (72), recargando um remate de Bruno Fernandes que batera no poste e a seguir em... Schmeichel. Eliminatória de novo empatada, mas foi sol de pouca dura, porque três minutos depois Ruben Dias, que fez uma exibição tremenda, borrou a pintura e esteve no golo do empate de Eriksson, a passe de Dorgu. O caso estava de novo muito mal parado para as cores nacionais, e maior foi o desalento que se instalou em Alvalade quando Cristiano Ronaldo, isolado, atirou à figura de Kasper Schmeichel (78). Roberto Martinez sentiu que precisava de mexer, mas não foi taticamente ousado, embora Nélson Semedo e Trincão tivessem acrescentado relativamente ao que Dalot e Conceição estavam a dar. E acabou por ser Trincão, com um pontapé belíssimo, aos 87 minutos a fazer o 3-2.  Mas até ao fim do tempo regulamentar, além da troca de Cristiano Ronaldo por Gonçalo Ramos, a Dinamarca ainda ameaçou por três vezes a baliza de Diogo Costa

OUTRA EQUIPA

No prolongamento, que começou praticamente com o 4-2 de Trincão, que foi o maior revolucionário em campo, Portugal apresentou-se mais agressivo na frente, graças ao trabalho de Ramos, Trincão e Jota, mas começou a claudicar a meio-campo, sujeitando-se a momentos de assédio e bolas paradas dos nórdicos. Martinez viu bem, disciplinou a equipa com Rúben Neves a trinco, com Bernardo ao lado e Bruno Fernandes mais adiantado, em 4x2x3x1, e acabou por conter com maior facilidade o ascendente forasteiro. Com os dinamarqueses claramente a sentirem que já não tinham combustível no depósito, dois contra-ataques de Portugal, o primeiro detido com grande mérito por Schmeichel e o segundo concluído com êxito por Gonçalo Ramos, após entendimento entre Trincão e Jota, acabaram com as dúvidas. Depois de muito penar, Portugal qualificava-se para a final four da Liga das Nações. A seguir, a palavra caberá a Roberto Martinez, que irá escolher que tipo de futebol pretende que Portugal jogue...