
Campeão e vencedor de uma Taça de Portugal pelo FC Porto, em 2008/09, e de uma Intertoto pelo SC Braga, Andrés Madrid foi um dos mais destacados médios da sua geração. Jogava bonito e, com a raça típica dos argentinos, nunca dava uma bola por perdida. Na ressaca do duelo entre duas equipas que lhe dizem muito, Madrid, atualmente a treinar o Melgacense, admite que esperava muito mais dos dragões e fica com a impressão que os jogadores «ainda não compraram a ideia» de Martín Anselmi, o seu compatriota.
«Não me lembro ver o FC Porto a jogar em Braga e não criar situações de golo na segunda parte. Não me lembro de um FC Porto assim», atira. «Acaba por desiludir um bocadinho, por assim dizer, mas, para já, é o que há. Espero que para ele [Anselmi] corra bem e que consiga implementar o estilo de jogo que ele quer e que os jogadores compreendam que aquilo é o melhor para o clube», diz, sem grande convicção de que isso irá efetivamente acontecer a curto prazo.
Não me lembro de ver o FC Porto a jogar em Braga e não criar situações de golo na 2.ª parte
«Sabia com o que contava»
As dúvidas residem não apenas no que pouco que viu o FC Porto fazer em Braga, na derrota por 1-0 dos dragões na 25.ª jornada, mas também no encaixe difícil dos jogadores na filosofia tática de Anselmi. «Acho que a equipa ainda não comprou a ideia do treinador. Os jogadores não estão convencidos e a mensagem ainda não passou», analisa Andrés Madrid.
Para uma equipa que tenta sair a jogar não me parece que tenha os centrais adequados para isso, tirando o Zé Pedro. Custa-me acreditar que o FC Porto vai chegar a ser aquela equipa que ele quer
«Também se trabalha sobre resultados e quando eles não aparecem torna-se mais difícil a ideia entrar na cabeça dos jogadores e passar a acreditar que aquele é o caminho. Tenho as minhas dúvidas se vai acabar por entrar efetivamente o que ele quer, e como ele quer. Pelo que ele fala nas conferências, não me parece que a equipa esteja pronta para fazer isso», aponta.
O sistema tático, que em si encerra as suas especificidades, poderá estar na base de uma descaracterização do FC Porto. «Para uma equipa que tenta sair a jogar não me parece que tenha os centrais adequados para isso, tirando o Zé Pedro. Custa-me acreditar que o FC Porto vai chegar a ser aquela equipa que ele quer», resume, não responsabilizando o plantel por isso.
Quando os resultados não aparecem torna-se mais difícil aos jogadores acreditarem que aquele é o caminho
«Basicamente nós, treinadores, temos que trabalhar com o que temos. Quando Anselmi chegou, sabia com o que contava. Podia modificar e ir metendo a ideia aos poucos. Decidiu que tinha que ser ideia por completo. Custa muito meter uma ideia por completo, muito mais quando os resultados não aparecem. Formam-se poucas condições para o sucesso. Na minha opinião, devia optar inicialmente por adaptar-se ele e não a equipa completamente a ele», afirma o antigo médio, natural de Mar del Plata, que antes de chegar a Portugal jogou no Platense e no Gimnasia.