
Rui Borges chegou às 22h15 à sala de conferências de imprensa. Despachado o jogo, despachado o bicampeonato, despachadas as primeiras declarações como treinador campeão nacional, despachada a entrega da taça e as fotografias da praxe, entrou sorridente na sala de conferências. E dela saiu sorridente.
- Qual o principal sentimento após ter carimbado o bicampeonato pelo Sporting?
- É especial por tudo o que os rapazes foram capazes de fazer ao longo da época. Tenho um agradecimento infinito àquilo que os adeptos também fizeram desde o primeiro dia que cá chegámos. Importante também, muito importante, não só para o treinador e para a equipa técnica, para fazerem acreditar o grupo, que já era campeão [2023/2024]. Estes adeptos são únicos e incríveis. Eles tornarem-nos quase invencíveis. Só com adeptos assim e com jogadores assim, depois de tanta contrariedade, pudemos ser bicampeões. A minha felicidade é a felicidade deles.
- Em quem pensou quando o árbitro apitou para o final do jogo?
- Vou ser honesto e já falei nisso há 15 dias. Pensei no meu avô. Tenho tatuado o meu avô no braço, porque os meus avôs já faleceram todos, e acredito que todos estão, lá em cima, felizes e orgulhosos do do neto. Mas o meu avô Zé Pedro é muito especial para mim. Depois, pensei na minha família, nos meus pais, nas minhas irmãs, na minha mulher e no meu filho. Nos últimos 15 dias eles sofreram um bocadinho, por tudo que foi o dia-a-dia do Sporting, por tudo que foi o dia-a-dia do Rui Borges, mas acima de tudo mantiveram-se fiéis àquilo que é o Rui Borges como pessoa. O maior troféu que posso ter na minha vida é o orgulho das pessoas que gostam de mim, mais do que qualquer troféu físico e de qualquer dinheiro. Um beijinho enorme para a minha cidade. Tenho muito orgulho de ser de Mirandela e do interior. Sou apenas o Rui Borges, um rapaz de Mirandela que acreditou num sonho. Não fui grande jogador, não fui grande estudante. Sou apenas alguém que acreditou num sonho e que foi capaz de o conquistar com muito trabalho. É difícil parar quem nasceu para vencer e, quando digo isto, não estou a falar de vencer troféus. É vencer na vida. Amanhã, se deixasse ser treinador de futebol, era a pessoa mais feliz do mundo.
- Ter Gyokeres facilita quem quer ser campeão. Concorda?
- O Vítor teve uma equipa toda atrás dele, a trabalhar com ele, a ajudá-lo, e ele ajudou a equipa como jogador, pessoa e atleta. Ele é extraordinário e vai ser um jogador dos melhores da história, não só do Sporting e do campeonato português. Não o digo por ser o treinador do Sporting atualmente, já o dizia antes.
- O Paulinho, há pouco no relvado, sugeriu que o Sporting ainda ia ter uma boa notícia relativamente ao futuro de Gyokeres. Pode garantir a continuidade dele?
- O Vítor tem contrato, por isso não vou estar aqui a dizer se vai sair ou não. Ele é jogador do Sporting e é o melhor avançado de Europa, talvez até do Mundo, Fico feliz por ele e a torcer para que consiga ganhar a Bota de Ouro.
- Qual foi o momento mais complicado da época?
- A fase mais dura não existiu para mim. Sou muito positivo e acreditei, desde o primeiro dia em que aqui cheguei, que seríamos capazes de ser campeões. Fugindo um bocadinho à pergunta, fico muito feliz por a equipa B ter subido à Liga 2.
- E o melhor momento?
-Foi assinar pelo Sporting. Não há maior felicidade que essa. Após a final da Taça da Liga, eu disse que acreditava que algo melhor estava guardado para nós. E estava. As pessoas vão sempre lembrar-se de que, passados 71 anos, uns rapazes que tinham como treinador um rapazinho de Mirandela chamado Rui Borges, souberam dar a vida para o Sporting e foram bicampeões. O futebol não é só jogar bonito, não é só os melhores na ‘faladora’ ou na comunicação. Vocês falaram tanto de mim nestes 15 dias que foi espetacular. Tiraram o foco dos jogadores durante estas semanas, ao dizerem que sou mau comunicador em alguns momentos.
- A lesão de Diomande é grave?
- Não sei, sinceramente. A festa foi tanta após o jogo que, se calhar, ele se esqueceu um pouco do problema, pois estava ali a saltar. Acredito que não seja grave.
- O Rui disse, por diversas vezes, que estava no Sporting para arranjar soluções e não problemas. A passagem de Debast para a linha média foi a sua melhor solução?
- O Zeno é um miúdo cheio de qualidades, que gosta de ouvir e de aprender. Hoje correu quilómetros. Por vezes tem alguns erros táticos, mas o que ele dá e acrescenta abafa algumas coisas. Foi muito importante quando ficámos sem médios, pois deu-nos algum equilíbrio. É um miúdo especial, cheio de qualidade, que terá um futuro risonho, seja a central, seja a médio.