Olímpica nos Jogos de Londres 2012, primeira atleta portuguesa, de qualquer modalidade, medalhada nuns Jogos Olímpicos da Juventude, bronze em Singapura 2010 aos 50 bruços, prata nos Jogos do Mediterrânio Oran 2022, vários campeonatos do mundo e da Europa, a carreira de Ana Rodrigues na natação nacional está recheada de momentos importantes e marcantes.

Este fim de semana, ao participar no Nacional Open de Portugal, no Jamor, a agora nadadora do Sp. Braga somou mais outro. Ao ganhar os 200 bruços no sábado, depois de já ter dominado as provas de 50 livres e 50 bruços, tornou-se no segundo português de sempre com mais títulos conquistados em todos os escalões. Sejam individuais ou de estafetas, competições internacionais e opens.

Tendo vindo para Lisboa com um total de 147 títulos, o facto de ter vencido as três provas num evento em que cada atribuía-lhe dois títulos, um correspondente ao campeonato nacional e outro da competição open, Ana Rodrigues passou a somar 153. Mais dois do que detinha Paulo Frischknecht (151) quando concluiu a careira.

No topo da lista permanece o também olímpico Rui Borges, com 2007. Mas sem ter o lugar completamente seguro pois Ana, perto de celebrar o 31.º aniversário, diz que quer deixar Borges na liderança mas, ao mesmo tempo, não pensa abandonar já a natação.

 — Veio nadar três provas individuais ao Open de Portugal, venceu todas e passou a deter 153 títulos na carreira, tornando-se no segundo português, já era a primeira mulher, com mais títulos em todos os escalões. Sabia desta contagem, antes de ter vindo ao campeonato?

— Sim, mas creio que nem tinha bem noção disso até, se calhar, à temporada passada, quando o João Bastos começou a publicar essas estatísticas. Tinha ideia de que eram muitos mas, só aí é que fiquei mesmo com consciência deles, afinal não os vamos contando ao pormenor.

Então, a partir daí, comecei a fazer esse registo. Realmente, 150 era aquele marco que desejava atingir esta época. Como, em dezembro, havia estado no Campeonato do Mundo de Budapeste [piscina curta], não tinha tido oportunidade de nadar no Nacional em Tomar. Por isso ficou pendente chegar aos 150. Agora sabia que tinha três provas para disputar, mas é sempre uma incógnita, não é? No entanto, correu muito bem e passei essa marca.

O que é que isso significa para si, quando está com 31 anos?

— Ainda não, só a 21 de Abril é que faço. Está quase, quase… Mas como costumo dizer, continuo cá pelo amor que tenho à natação. Efetivamente, gosto muito da modalidade e esta temporada, com a mudança para o Sp. Braga, deu um gostinho especial e novos desafios. Precisava deles nesta fase da carreira, por isso atrasei um pouco a reforma. Antes havia dito que talvez fosse em dezembro, mas ainda me estava a sentir bem. Sentia que continuavam a existir alguns objetivos que pretenda cumprir, mas… 153 títulos é ridículo. Na minha cabeça é uma vida a nadar. É quase impensável.

Uma vez que chegar aos 150 títulos foi algo que a ajudou a manter-se a competir, pois queria atingir esse número, 207 também a pode motivar para um novo objetivo? Afinal não há nada como treinar para algo, ainda que não tenha tantas hipóteses nas estafetas, terão de ser só provas individuais.

— Não, já é um salto grande, ou seja, o Rui [Borges] está lá no seu pedestal, que é difícil alcançarmos. 150 era mesmo aquela marca que desejava. Agora, se acho 150 títulos ridículo, 207 será algo até difícil de alguém, nos próximos anos, atingir esse patamar. O Rui tem a coroa dele. É como diz, também é bom termos objetivos pequeninos e essa foi uma das coisas que me foi motivando...

Mas, é que a Ana nunca quis colocar os seus objetivos muito à frente. Se lhe perguntasse agora se pretendia chegar aos Jogos de Los Angeles 2028, ia-me responder: não, primeiro quero chegar aqui e depois ali... Nos últimos anos sempre preferiu pensar assim.

— Exatamente, e foi isso que me fez melhorar e conseguir ter alguma coisa de positivo. Quando pensamos a longo prazo e com objetivos muito grandes, acabamos por nos perder. Mesmo agora, que estou no Sp. Braga, algumas metas é bater os recordes do clube ou regionais. Disputar provas já não nado há muito tempo e melhorar esse registo. Neste momento, temos que nos mover um bocadinho por esses objetivos pequenos e não só pelos grandes.

 — Nesta altura, para não irmos além da época em que está, estar no Mundial de Singapura, em julho, e no Europeu de curta na Polónia, em dezembro, fazem parte desses seus objetivos? Porque terá de estar a trabalhar para eles agora?

— Exatamente, até vim para este Nacional com a intenção de conseguir já o mínimo para Singapura aos 50 bruços. Fiquei a duas décimas [31,01s]. Na eliminatória senti-me super bem, mas à tarde terá havido algum stress associado. Obviamente que não foi a última oportunidade, mas gostava de já ter despachado isso para depois realizar o resto da época mais tranquila. No entanto, sinto-me e estou a trabalhar bastante bem. Já tenho o mínimo para o Europeu de curta e gostava de ir até aí. Em dezembro, ainda haverá o Nacional de clubes e desejo nadar mais um pelo Sp. Braga. Portanto, por agora coloquei esses objetivos.

Surpreende-a o gosto que ainda tem de nadar e competir após todos estes anos? Olha para si e diz: nunca pensei ainda estar a competir com esta idade?

— Sim, e a verdade é que nunca pensei mesmo. Se me dissesse que quando comecei em infantil, às vezes nem sabia o que é que estava a fazer, simplesmente gostava de água e nadar, que aos 30/31 anos ainda estaria aqui a competir ao mais alto nível, provavelmente não acreditava. Digo-o muitas vezes aos miúdos, mas, efetivamente, gosto mesmo muito deste mundo. Sabe-me também bem fazer o papel de mãezinha na Seleção e no clube, ou seja, gosto de motivar os outros atletas. Tudo isso ajuda-me bastante.

E dos 153 títulos, há algum especial?

— Foram tantos… Penso que houve muitos especiais, principalmente aqueles em que consegui fazer mínimos. Lembro-me de, na Madeira, em 2023, quando foi para ir ao Mundial de Fukuoka – já não ia ao campeonato do mundo há muito tempo -, consegui baixar a barreira dos 31s aos 50 bruços. Esse também foi especial. E depois, quando bati o recorde dos 100 bruços, uma vez mais passados cinco ou seis anos. O dos 50 livres, aqui nesta piscina, que baixei o máximo que era da Patrícia Conceição, também foi especial. Ou seja, normalmente estão associados a recordes.

E onde é que se guardam 157 medalhas de títulos, fora as outras todas? Faz ideia quantas medalhas tem?

— Não faço ideia [risos]. Estão guardadas num baú, ainda em casa da minha mãe. Quero muito, mas ainda não percebi como é que as posso emoldurar da forma que merecem. Principalmente as medalhas mais valiosas. Por isso estão lá, para quando tiver tempo para me preparar, pensar e ver exatamente como vou guarda-las de uma forma mais digna. Até agora o que faço é agarrar nelas no final de cada competição e juntá-las para saber a que Nacional pertencem.