
Antunes decidiu dar por terminada a sua carreira de futebolista, mas não a ligação ao futebol. Depois de mais de 500 jogos, 13 internacionalizações, vários títulos em quatro países para além de Portugal, o lateral-esquerdo disse adeus. Um percurso da distrital até à Liga dos Campeões.
— Antunes, teve uma carreira de grande nível. Mais de duzentos jogos no estrangeiro, em quatro países diferentes, Itália, Grécia, Ucrânia e Espanha, vários troféus conquistados e internacionalizações pela Seleção Nacional. Que balanço faz da carreira?
— Foram anos inesquecíveis da minha vida. Comecei num clube muito pequenino, o Freamunde, e o meu sonho sempre foi vencer troféus e representar a seleção, mas nunca pensei ser possível. Foram anos de muita felicidade, muitas conquistas, muita aprendizagem, que vou levar para sempre comigo.
Foram anos de muita felicidade, muitas conquistas, muita aprendizagem, que vou levar para sempre comigo
— Teve um início de carreira que muitos jovens das divisões inferiores apenas conseguem sonhar. Deu o salto da antiga II Divisão B para a Liga, ao serviço do Paços de Ferreira, no qual rapidamente se destacou. Que recordações guarda desses primeiros anos?
— Eu era muito novo quando me estreei pelo Freamunde e o mister Nicolau Vaqueiro teve a ânsia de apostar num miúdo. Tive alguns jogadores na altura que me ajudaram muito na adaptação ao futebol sénior, por exemplo, o Bock, que foi um pai para mim. Foi muito especial, era o primeiro passo para o sonho da minha vida. Depois o salto para o Paços de Ferreira, veio fruto do meu trabalho e foi a escolha acertada, acabou por correr muito bem.
— O ano de 2007 foi particularmente marcante para si: a estreia pela Seleção Nacional e a transferência para a Roma. Recorda-se do que Luiz Felipe Scolari lhe disse no momento da estreia?
— Recordo-me perfeitamente. Foi mais um sonho realizado, representar a nossa Seleção Nacional. O mister Scolari só me disse para eu disfrutar o momento e jogar com os meus ídolos, que eles iam fazer com que as coisas se tornassem muito mais fáceis.
— A sua única época em Roma foi bastante positiva. Partilhou o balneário com jogadores como De Rossi ou Totti e conquistou o seu primeiro troféu: a Taça de Itália. Que memórias tem dessa temporada?
— Tenho memórias muito boas. Lá está, passei para uma realidade completamente diferente. Jogadores que os via como ícones e equipar ao lado dele já metia medo! Foi um ano muito bom para mim, de muita aprendizagem. Aprendi muito com o Cicinho e o Panucci, na parte defensiva, e isso foi fundamental na minha evolução. O Totti, na altura já era o capitão, muito respeitado ali dentro, mas ao mesmo tempo era um brincalhão. Já o De Rossi, era mais jovem, tínhamos uma relação diferente, com amigos em comum. Mas para mim foi espetacular, num espaço de dois anos ir da II Divisão B, para uma Roma da Série A, ganhar um título e jogar Liga dos Campeões... Foi um sonho tornado realidade.
— Após cinco anos no estrangeiro, marcados por vários empréstimos, regressa a Portugal e ao Paços de Ferreira em 2012. Considera que este regresso foi determinante para a sua carreira?
— Sim, sem dúvida. Tive a infelicidade do treinador, Luciano Spalletti, que apostou em mim, ter saído e as oportunidades acabaram por não surgir. Depois desses anos, tive de voltar a Portugal. Tinha várias ofertas, mas a decisão foi regressar ao Paços de Ferreira e acabei por ficar ligado mais uma vez, à história do clube, pela época que fizemos, apesar de ter estado apenas meio ano. Esse regresso foi o ponto-chave da minha carreira, porque consegui relançar-me de novo e estar num nível bastante elevado.
— Esteve apenas meia época, mas foi parte integrante de uma campanha memorável do Paços de Ferreira: o histórico terceiro lugar que deu acesso à Liga dos Campeões. O treinador era Paulo Fonseca, ainda pouco conhecido na altura. O que nos pode contar sobre essa equipa?
— Era um plantel de imensa qualidade, mas com gente muito humilde, grande parte vindo de divisões inferiores. Tínhamos um grupo muito focado e juntamente com o treinador que era fantástico, seguramente um dos melhores que tive na minha carreira, fomos paulatinamente fazendo o nosso caminho e conseguimos fazer uma qualificação histórica.
— Ainda mantém contacto com Paulo Fonseca?
— Sim... nem tanto como tínhamos há três, quatro anos, devido às nossas vidas, mas gosto muito de falar com ele. São sempre momentos de aprendizagem.
— Segue-se, em janeiro de 2013, uma das etapas mais bem-sucedidas da sua carreira: Málaga. Que memórias guarda dos anos que passou no clube andaluz?
— Chego novamente a um clube num contexto de alto nível, agora com mais experiência depois da minha passagem pela Roma, mais bem preparado e encontro uma equipa muito boa. Foi muito fácil entrar naquela equipa, as coisas saiam de olhos fechados e também tínhamos um grupo incrível. Foram três anos muito bons, foi um clube que me marcou muito pela positiva.
— O Málaga atravessa atualmente um período difícil. Acredita que poderá regressar aos patamares altos, como na altura em que disputava a Liga dos Campeões?
— Acredito que sim. Com a massa associativa que tem, a cidade louca como é pelo clube... acho que voltará aos altos patamares e aos tempos de glória.
— A meio da temporada 2014/2015 transfere-se para a Ucrânia e nas duas primeiras épocas conquista quatro títulos. Pode dizer-se que a aposta não poderia ter corrido melhor?
— Sou sincero, na altura tive algumas propostas, do futebol inglês, mas aqui pesou muito a vertente financeira. Falei com o Miguel Veloso para perceber a instabilidade que se já vivia no país, mas no momento em que ele me disse, que estava tudo bem, tomei a decisão e acabaram por ser anos muito bons. Joguei Liga dos Campeões, conquistei titulos... Sim, foi uma escolha acertada.
— Foi a Ucrânia o país mais desafiante para jogar, dadas as circunstâncias particulares? Que memórias tem de Kiev?
— Sim, embora não estivesse nada parecido, ao que está nos dias de hoje, tinha de ter a certeza que era seguro. Foi desafiante, o campeonato não era muito competitivo, as viagens, os hotéis, era tudo muito diferente. Nós por exemplo, vínhamos de um jogo de Liga dos Campeões, onde tínhamos tudo e depois para o campeonato, se fossemos jogar ao Kartaty (Lviv), éramos obrigados a dormir em casa de uma pessoa, com dez quartos minúsculos, porque era o único sítio que havia para dormir! Era uma realidade completamente diferente.