A estética foi preservada num sarcófago para que amiúde, no futebol moderno formatado a Calibri (uma insípida fonte), ainda tenhamos como usufruir dela para lá da sua anunciada morte. São os rodriguinhos que enfeitam o diamante quando ninguém o quer polir. Não tem Mora culpa de que essa expressão adjudicada a quem joga com recursos estilísticos seja diminutivo do seu primeiro nome. A designação de responsabilidade parental teve o condão de coincidir com aquilo que o mais novato da família é no quadriculado verdejante.

As manobras ilusórias de Rodrigo Mora secam os desarmes dos tenazes defesas que buscam oprimir as suas expressões de elegância. As agitações que promove com os argutos desvios da bola causam náuseas nos opositores. Tudo isto, fá-lo de pantufas calçadas.

Os floreados do jogador de 17 anos só não foram mais proveitosos contra o Rio Ave, porque na baliza esteve Cezary Miszta, polaco com crescente reputação na baliza dos vilacondenses. Mora visou a baliza vezes suficiente para se consagrar como a mais flagrante ameaça ofensiva dos dragões.

Os extremos do FC Porto olhavam um para o outro como quem se vê através de um espelho com defeitos. Assimetricamente, Rodrigo Mora engrossou a presença na massa encefálica do pensamento de qualquer equipa, o corredor central. Gonçalo Borges desviava-se para um dos lados. Foi um ataque totalmente remodelado aquele que Martín Anselmi usou na vitória contra o Maccabi Tel Aviv, já que Samu Aghehowa também foi pela primeira vez opção para o técnico argentino.

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Anselmi recorreu a três centrais em simultâneo. Para quem não tem qualidade em abundância no setor, talvez esse fosse um risco a evitar. Martín Anselmi, em estreia no campeonato, transfigurou assim a equipa face ao que tinha apresentado na Liga Europa, onde dera a Stephen Eustáquio protagonismo na primeira fase de construção. Desta vez, esse papel na saída foi atribuído a Nehuén Pérez, nos pés de quem o virtuosismo técnico é residente temporário, que interpretou a missão de maneira menos ágil e moldável do que o médio. O desconforto causado pelo enquadramento resultou numa perda de bola para Clayton que marcou o 13.º golo da temporada na escapadela que se seguiu.

O início do fio de jogo do FC Porto foi o seu fim. Nehuén Pérez e Otávio entraram num despautério que impede qualquer treinador – chame-se Martín Anselmi, chame-se Vítor Bruno, chame-se Pep Guardiola – de ganhar jogos. No caso de Otávio, o descalabro foi sendo anunciado na quezilenta atitude demonstrada ainda antes de regalar a Ole Pohlmann o segundo golo dos 10.º classificados da Primeira Liga.

ESTELA SILVA

Se os dragões empataram o jogo (2-2) e não o perderam foi porque alguém colou os cacos que tinha partido. Nehuén Pérez e Otávio meteram um penso nas feridas por eles abertas com golos fortuitos que amenizaram o descalabro por eles causado. Porém, não é sustentável o FC Porto viver a reconstruir constantemente o castelo de cartas quando está prestes a colocar-lhe a bandeira no topo.

Os dragões foram mais uma vítima do Estádio dos Arcos, onde só o Sporting é que passou. Como prejuízo a varrer após quatros jogos sem ganhar para o campeonato, o FC Porto encerrou a 20.ª jornada a oito pontos da liderança (e na próxima jornada há clássico). Com a saída de Galeno para o Al Ahli e de Nico González para o Manchester City, o FC Porto fecha o mercado de inverno com os cofres mais afagados, mas com o projeto desportivo desmoronado para o que resta da época.