
Temos história! No último minuto do prolongamento, o Torreense gelou o campeão nacional Benfica, venceu por 2-1 e conquistou o primeiro troféu da sua secção de futebol feminino. Que momento para os de Torres Vedras.
Depois de uma época longa, era altura de colocar um ponto final na temporada do futebol feminino nacional. De um lado, o Benfica procurava alcançar o desejado triplete - depois de conquistar a Taça da Liga e o campeonato -, enquanto o Torreense queria confirmar uma grande temporada, com um possível título histórico.
Do lado encarnado, Filipa Patão apostava no habitual onze inicial, apenas limitada com o castigo de Catarina Amado. Do lado das de Torres Vedras, por sua vez, o técnico Gonçalo Nunes - que anteviu a final no nosso podcast - seguia a mesma lógica, fazendo regressar ao onze inicial os nomes habituais.
Encaixe desmontado pelo erro
O dia era de festa. Apesar da calendarização questionável para este jogo, as bancadas do Jamor estavam relativamente bem compostas, apesar de longe do seu potencial máximo, tendo em conta todo o contexto. Dentro das quatro linhas, o Benfica foi quem, como esperado, tentou assumir as rédeas madrugadoras do jogo, mas teve dificuldades em potenciar as suas médias, fruto do encaixe tático com o Torreense (também montado em 3x5x2).
Do outro lado, o Torreense não se apequenava com bola e tentava potenciar o seu ataque pela direita, pela verticalidade de Janaina Weimer e as ruturas de Malie Hayes. Contudo, o Benfica, no geral, ia controlando bem a profundidade - apenas por uma vez permitiu a criação de real perigo desse lado, mas Pauels esteve bem. Apesar disso, esse lado também era o mais desprotegido do lados das de Torres Vedras, fruto das subidas de Bruna Ramos.
Isto permitiu a Marit Lund começar a aparecer mais no jogo, tanto no espaço, como com bola no pé, e tal fez toda a diferença. Com a sua boa capacidade no passe, a norueguesa foi começando a explorar o cruzamento e os passes de rutura nas costas da defesa. O Torreense foi estando bem a controlar ambos os momentos, mas bastou uma má abordagem da capitã Carolina Correia, aos 24', numa bola alta, para a matadora Martín-Prieto chapelar Janny Balém e fazer o golo inaugural.
Sufoco até final
Sem nada a perder e tudo a ganhar, o Torreense veio de atitude renovada para a 2ª parte. Daniuska juntou-se mais à frente e as de Torres começaram a pressionar mais alto e com mais gente o Benfica, causando claras dificuldades às encarnadas na construção e saída a jogar a partir de trás. De resto, as dificuldades foram tais que as comandadas de Gonçalo Nunes começaram a criar perigo junto da baliza de Lena Pauels, criando mesmo um par de grandes chances. O Benfica estava avisado e Filipa Patão tentava gerir com um «desconto de tempo.»

Para tentar melhorar essa saída, a treinadora das águias fez entrar Beatriz Cameirão, mas tal não fez baixar a elevada intensidade imposta pelo Torreense nesta fase e o mau bocado passado pelo Benfica alargava-se a cada minuto. O jogo, por si só, ficava mais partido com esta intensidade e tal potenciava as transições das campeãs (e do Torreense, por sua vez).
O técnico Gonçalo Nunes alimentou esse momentum e colocou a «carne toda no assador», apontando cada vez mais para frente, sem receio do prejuízo. Esta vertente corajosa do Torreense trouxe emoção e nervos para a ponta final, mas também retirou algum discernimento. Aí, o Benfica foi tremendo e o empate parecia inevitável, até que, aos 90+7, Weimer aproveitou a confusão na área e cabeceou para o 1-1. O Jamor estremecia com a festa torreense e preparava-se para prolongamento
Que loucura!
Com 30 minutos extra por jogar, notou-se uma descida de intensidade e de linhas do Torreense. O Benfica reassumiu as rédeas, mas caiu, face ao claro cansaço, na tentação excessiva do cruzamento e o prolongamento acabou a ter muito pouco conteúdo. Contudo, no meio desse deserto de ideias, aos 120', Prat foi feliz na área adversária e rematou cruzado para o 2-1!
Os Torreense foram à euforia e seguraram a sua primeira Taça de Portugal!