A fase eliminar proporcionou todo o tipo de emoções para os adeptos de andebol, contando histórias diferentes à medida que as equipas iam avançando na prova. Nos “quartos”, praticou-se um andebol de colar ao assento, com a disputa a dar-se de forma acesa e, apenas, a ditar-se nos instantes finais. Pelo contrário, as “meias” decidiram-se bem cedo em ambos os duelos.

E que ronda de quartos de final teve este Mundial! Embates duros, equilibrados e decididos ao cair do pano. Viram-se prolongamentos, triunfos confirmados pelo replay de vídeo e história sendo escrita – no caso, na língua de Camões.

Dos quatro jogos disputados, três deles terminaram pela margem mínima. Desses, todos eles tiveram tentos da vitória convertidos no último ataque. Sobra o duelo entre dinamarqueses e brasileiros, que serviu para a Dinamarca marcar a sua posição como favorita a vencer a prova.

Seguiram-se as meias-finais para apresentar uma narrativa completamente diferente. Dois jogos em que um dos lados bateu o pé e afirmou-se para garantir o lugar na final. Ainda assim, de um lado, o favoritismo prevaleceu perante a esperança, enquanto, do outro, o underdog falou mais alto.

Mas comecemos pelos “quartos”, e, claro, pela vitória que todos assistimos a partir de casa.

Navegar em força para contrariar a “Montanha Wolff”

Um jogo em que Portugal experienciou tudo. Entrou a todo o gás e marcou a sua posição. Comandou o marcador até perto dos 45 minutos, com a Alemanha aproveitar uma sequência de exclusões do adversário. Depois, igualou a partida a 26 para adiar a decisão para o prolongamento. Neste, as equipas mantiveram-se equiparadas, com a decisão a cair para as mãos de Martim Costa, a cinco segundos do fim, para enviar os heróis do mar para a primeira meia-final da sua história em Campeonatos do Mundo.

Não foi fácil. Não faltaram adversidades na caminhada portuguesa: Luís Frade foi excluído, com vermelho direto, pouco depois do começo da segunda parte; na Alemanha, Zerbe não queria falhar, terminando com nove golos, e Knorr fazia estrago nos remates exteriores.

Ainda assim, o principal entrave ao sucesso lusitano foi outro: Andreas Wolff. O guardião alemão deu uma aula de como defender uma baliza de andebol. Enquanto isso, protagonizou a melhor exibição individual dos “quartos” e, talvez até, de todo o torneio. Terminou com 42% de eficácia defensiva e 21 defesas, muitas delas de remates aos seis metros. Naturalmente, foi condecorado com o “Player of the Match”.

O guarda-redes do THW Kiel dificultou a tarefa aos atletas portugueses, especialmente a Martim Costa. O melhor jovem jogador da Europa não teve uma noite inspirada, especialmente no tempo regulamentar, onde apenas conseguiu um golo. Contudo, deixou o melhor de si para o prolongamento, marcando três dos cinco tentos portugueses no período. O destaque, claro, vai para o último e determinante golo. No final, Martim despiu a camisola e mostrou a todos que Portugal está entre os melhores de todo o mundo.

0.3 segundos chegam para decidir um jogo de andebol

Mais um confronto decidido quando parecia não haver mais tempo. E mais um confronto que viu de tudo: a França impôs-se na disputa pelo resultado, o Egito bateu o pé no processo e levou a decisão para as últimas centésimas de segundo.

Destaque para o ataque 7-6 da formação africana, que conseguiu ter sucesso perante o poderio defensivo francês. Ainda assim, a baliza deserta acabou por ser o “calcanhar de Aquiles” do Egito, visto que Luka Karabatić converteu o golo decisivo numa reposição de bola ao meio-campo, sem um guardião egípcio pela frente. Golo esse que fez parar o coração de todos os presentes no pavilhão, dado que foi preciso recorrer ao replay de vídeo para confirmar a sua legalidade. Para sorte dos franceses, a bola entrou a 0.3 segundos do final. 34-33 foi o resultado final.

Tricampeonato não chega

A Dinamarca segue a demolir tudo e todos. Desta vez, foi o Brasil a cair perante os campeões olímpicos, tornando-se na sexta equipa a perder por mais de dez golos frente à Dinamarca. Para já, apenas a Chéquia conseguiu contrariar a tendência.

A primeira parte até se verificou equilibrada. Depois de um começo a confirmar o favoritismo, onde os dinamarqueses venciam por 10-3, os brasileiros bateram o pé e encurtaram a desvantagem para três, aquando do regresso aos balneários. Contudo, não serviu de muito. A velocidade do jogo dinamarquês falou mais alto, igualando a marca de 15 golos da primeiro parte em apenas 20 minutos da segunda. O Brasil esteve quase 12 minutos sem fazer mexer as redes adversárias, com as dificuldades a serem motivadas pelo suspeito do costume: Emil Nielsen.

No final, a Dinamarca triunfou por 33-21, garantindo a oitava presença em meias-finais das últimas dez edições do Mundial de andebol. Posteriormente, na busca pelo quarto título consecutivo da competição, os nórdicos encontravam a seleção portuguesa, com um histórico bastante menos preenchido, mas com a motivação de quem se manter invicta na prova.

Acreditar até ao fim

Do Croácia vs. Hungria, fica a lição que o rumo de um encontro de andebol pode mudar a qualquer momento. Neste caso, tratou-se de uma recuperação croata nos minutos finais.

O ligeiro favoritismo da Croácia foi contrariado no decorrer da primeira parte, com a Hungria a comandar o marcador desde a vantagem por 4-5, sendo apenas anulada ao intervalo (16-16). A formação da casa, a jogar diante de cerca de 16 mil adeptos, apenas voltou para a liderança no 20-19, após um golo do guarda-redes Kuzmanović. Na verdade, este foi um de vários momentos em que a abordagem 7×5 traiu a turma de Chema Rodríguez, algo bastante invulgar. Ainda assim, a Hungria foi-se mantendo no comando, mas sempre com a Croácia atrás.

O último tento dos húngaros surgiu a cinco minutos do fim para alargar a vantagem para quatro. Mas um jogo de andebol tem 60 minutos. A última palavra foi da Croácia. Conseguiram um parcial de cinco tentos sem resposta, com o último a provocar euforia nas bancadas. Šipić converteu uma transição ofensiva a alta velocidade, depois de surgiu completamente solto aos seis metros, bem de frente para a baliza. Estava selada a vitória croata por 31-30 e, assim, uma grande reviravolta para colocar um dos anfitriões nas meias-finais do Campeonato do Mundo.

Com as meias-finais definidas, estava na hora de começar a traçar os vencedores das medalhas. Dinamarca e França partiam com o favoritismo de repetir a final da última edição, mas, para surpresa de muitos, o desfecho foi outro.

Quem joga em casa parte em vantagem

Jogar perante 15600 fãs é o empurrão perfeito para chegar a uma final. Ora, em Zagreb, a Croácia, contra todas as odds, alcançou isso mesmo. A pressão da sua defesa 5:1 deu frutos, conseguindo vários contra-ataques rápidos para fazer disparar a diferença no marcador. Aos 12 minutos, já vencia por 5-9. Aos 26’, a vantagem chegava aos nove.

Na segunda parte, a França conseguiu encurtar distâncias, mas os caseiros já estavam demasiado longe. No final, três golos chegaram para assegurar o triunfo croata e, assim, garantir o seu sexto bilhete para um final do Mundial (28-31).

Não têm sido anos fáceis para a seleção croata. No último Campeonato do Mundo, não conseguiu passar do “main round”. No ano passado, terminou o EHF Euro em 11º lugar. Nos Jogos Olímpicos de Paris, nem foi além da ronda preliminar. Agora, coloca fim a esta de maus resultados, seguindo-se um duelo final para adquirir o trono do andebol mundial. De qualquer forma, não faltarão motivos para a Croácia sorrir.

A esperança não chegou para derrotar os vikings

O sonho português abriu caminho para feitos históricos neste Campeonato do Mundo. O resultado já era história, mas assim já estava definido desde a passagem aos quartos de final. Para os heróis do mar, o que importava era alvejar por mais.

Contudo, pela frente encontrava-se o mais temível dos adversários, a Dinamarca, que mostrou cedo para o que veio. Aproveitou uma tripla exclusão portuguesa para começar a comandar o marcador. De tal forma foi que Portugal nunca chegou a ver-se na frente.


Tudo funcionou para a Dinamarca: uma defesa pressionante, profunda e eficaz, aliada a um monstruoso Emil Nielsen, o guarda-redes mais eficaz do Mundial, para negar as intenções lusas. Disso resultaram inúmeras transições rápidas, tal como o andebol dinamarquês o exige. A segunda metade colocou um fim ao sonho português, com os tricampeões mundiais a dispararem e com Portugal a não ser capaz de contrariar a “força viking”. 40-27 foi o resultado final. O melhor em campo foi, pois claro, Nielsen.

Portugal saiu derrotado pela primeira vez nesta edição, mas a história ainda não acabou. Há, ainda, uma medalha em jogo. Resta um embate com os campeões da Europa, a França, para garantir uma inédita medalha para o andebol nacional. Domingo será o dia de todas as decisões.