Por trás de um mero pensamento ou de um mero objetivo há sempre algo mais. Uma outra ideia, uma outra noção, um outro alvo. É inevitável. Um passo tem sempre outro em mente. Não há como ignorar esse facto. Até porque seria ignorante não precaver certas situações que possam surgir. É como um jogo de xadrez.

Na conferência de antevisão ao encontro, Bruno Lage referiu que só pensava numa única coisa: “Farense, Farense, Farense.” Se isso é verdade? Claro que não.

Claro que não porque com o jogo do Porto a apenas uns dias a seguir é inevitável não pensar nele. Seria errado não o fazer. Mas Bruno Lage, apesar de não o admitir, obviamente pensou nele, o que é natural. É completamente natural.

De outra forma não teria a tranquilidade de deixar de fora Florentino e Tomás Araújo, ou até mesmo de dividir a utilização dos médios a uma parte cada um. Neste caso Renato Sanches e Leandro Barreiro, que repartiram os 90 minutos a metade e conseguiram gerir da melhor forma as respetivas condições, já a pensar no clássico, tendo em conta o estado atual do meio-campo do Benfica. Lage provavelmente pensou neste sentido.

Com a qualidade do plantel dos encarnados é possível fazer diversas trocas de jogo para jogo e manter o nível competitivo, superior à maior parte das equipas com que compete, pelo menos no papel.

Dentro das quatro linhas, como se assistiu, aquilo que se perspetivava no papel esteve perto de não se concretizar. A equipa do Benfica, superior na maioria dos momentos, distraiu-se em outros tantos e por pouco não viu o Farense roubar um ponto. Foi notória a falta de concentração, ou até mesmo a tranquilidade em demasia por parte do conjunto encarnado depois de ter começado a vencer. Como se os três pontos já estivessem quase garantidos. Um sofrimento posterior que não era necessário dado ao controlo que o Benfica tinha sobre o jogo, mas que, em certas ocasiões, deixou escapar entre os dedos e viu Trubin sofrer por isso. Ainda assim, o Farense acabou por não conseguir ferir mais a defesa anfitriã e o Benfica acabou mesmo por sair vitorioso numa fase tão decisiva da época.

Uma fase que faz com que cada jogo seja de igual importância, mas que, apesar disso mesmo, faz com que seja impossível não pensar nos seguintes. No início do campeonato era mais fácil de não pensar no passo à frente. Dada a caminhada que faltava percorrer, um passo em falso teria um impacto muito menor. Nesta altura da temporada, pois bem, uma jogada em falso pode deitar a perder tudo aquilo construído até ao momento.

É por isso que não há como negar o óbvio. Muitos podem até pensar que equacionar também o jogo adiante seria desvalorizar o adversário que se encontra mais próximo, no entanto, a preparação adiantada não indica nada mais nada menos que respeito e precaução em relação àqueles que se defronta. Desrespeito seria não equacionar atempadamente quem se encontra e acabar surpreendido por falta de preparação ou por má gestão em momentos anteriores.

Ou seja, neste momento, além de pensar no clássico frente ao FC Porto, há que pensar também no duelo frente ao Tirsense para a Taça de Portugal. Isso pode até mesmo influenciar a escolha e a gestão dos jogadores e o respectivo esforço dos mesmos.

Contudo, será que na próxima conferência de imprensa Bruno Lage vai realçar que pensa apenas no FC Porto, no FC Porto e unicamente só no FC Porto, ou terá já a Taça de Portugal uma palavra a dizer?