
Henrique Calisto formalizou a sua candidatura aos órgãos sociais da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF) para o triénio 2025-2028. O programa será apresentado no dia 29 deste mês, às 18 horas, na sede da Liga Portugal, mas já foram lançadas as traves-mestras do seu projeto. Essas apontam para a aposta na formação e para a valorização da classe dos treinadores, tanto a nível nacional como além-fronteiras.
Base da candidatura: "É uma candidatura muito abrangente, englobando as várias partes do país, também as ilhas, um representante da Madeira, a representação dos núcleos. Temos cinco núcleos em funcionamento, estão todos representados na nossa lista. Obviamente que as mulheres também têm que ter assento nisto, porque é uma modalidade em franca afirmação e, portanto, tem que ter lugar. Também temos representantes pela primeira vez do futebol de praia, do futebol feminino e também do futsal. Nós candidatamo-nos pelos treinadores e pela Associação Nacional de Treinadores. Pelos treinadores, porque os desafios que se apresentam no presente e no futuro são enormes. Há a continuação da afirmação do treinador português como o melhor entre os melhores no Mundo e por isso carece de uma contínua afirmação, que se faz pela formação e temos um problema em termos de formação"
Formação dos treinadores: "A formação neste momento não dá resposta à procura, nomeadamente ao nível 3. Temos muitos treinadores no estrangeiro que necessitam de nível 3 e nível 4 para se afirmarem, é um dos nossos grandes eixos de intervenção. A formação faz-se pela acessibilidade aos níveis, diminuição dos custos, reformulação de conteúdos, formação de formadores, porque se acelerarem os cursos vai haver necessidade de termos formadores capazes de administrarem esses cursos. Só para lhes dar um panorama, não sei se sabem, neste momento os cursos de primeiro e segundo nível são feitos pelas Associações, sempre em colaboração com a ANTF, não há problemas em relação a isso, os problemas residem depois no terceiro nível, que neste momento estão a funcionar três cursos, neste momento estão a funcionar dois e em maio começará um de cariz intensivo, isto não dá resposta à procura. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol já afirmou que para o ano vai haver cinco, mesmo assim achamos que será insuficiente e há uma convenção de treinadores da UEFA em que determina que os cursos de quarto nível, UEFA Pro, tanto que dá acesso a treinarmos no estrangeiro, primeiras divisões, seleções, é de um curso de dois em dois anos"
Aposta na cooperação: "Em cooperação sempre com a Federação Portuguesa de Futebol para que haja um período transitório onde haja mais cursos do UEFA Pro para dar resposta às necessidades que os treinadores portugueses têm. E essa necessidade advém do êxito que os treinadores portugueses têm em todas as partes do Mundo e a requisição de treinadores portugueses para ministrar, para assumir liderança nas equipas em África, Ásia, Europa, Américas, nomeadamente no Brasil, onde neste momento há uma requisição muito grande de treinadores, muitos deles não têm essas qualificações e é necessário darmos respostas. Essa é uma das grandes apostas, é tentar essa afirmação pela formação no presente e no contínuo. Como sabem, há problemas também em relação aos créditos, nós somos a única profissão que tem que ser acreditada a dois níveis, pelo IPDJ e também pela UEFA, que necessita também de termos créditos para validar a nossa célula profissional. Também temos problemas em relação ao apoio que a Associação tem que dar aos treinadores nos novos desafios, nomeadamente sermos muito mais proativos na defesa do apoio jurídico, no apoio à saúde mental e comportamental e de liderança dos treinadores, termos uma revista científica para dar apoio em relação às novas metodologias e pedagogias que aparecem de uma forma contínua. O futebol hoje é estudado e nós somos um dos países que faz mais 'papers' científicos em relação ao futebol. Temos que encetar colaborações com as universidades, porque não podemos andar de costas voltadas. Nós colaboramos na formação que está égide da Federação, mas as próprias faculdades também fazem formação de treinadores, temos todos o mesmo objetivo. Essa são as duas grandes áreas que queremos enquadrar"
Estatutos: "A renovação dos nossos estatutos. Temos que alterar os nossos estatutos, ter uma intervenção na formação e na valorização do treinador português no estrangeiro. Essas são as grandes áreas que nós vamos tentar pugnar para termos um serviço mais atual, mais dinâmico, mais direto com os nossos treinadores. Os desafios são enormes. Se comparar com o que se fazia nos anos 80 e o que se faz em 2025, obviamente que é uma transformação radical. Uma coisa importante que eu queria aqui realçar é um agradecimento muito sentido de todos nós, de todos nós que fazemos parte desta lista, ao anterior presidente, atual presidente que vai cessar o seu mandato em maio, pelo trabalho extraordinário que fez. A Associação Nacional de Treinadores e eu, que sou um dos fundadores, temos um percurso de afirmação que se reflete no número de sócios. Temos mais ou menos à volta de nove mil sócios, num horizonte de 27 mil treinadores portugueses. Há 27 mil treinadores com o nível 1, 2, 3 ou 4 que estão habilitados a ter uma prática na orientação das equipas. Nós já conquistámos nove mil para o nosso seio, o nosso objetivo é tentar cada vez mais chamar os treinadores para que se juntem na Associação Nacional de Treinadores, que é a casa do treinador, é aqui que temos de discutir as coisas, com ética, com valores, com princípios, com solidariedade, com partilha de experiência, de conhecimentos de cada um. Só assim nos vamos afirmar na defesa intransigente do treinador e quando defendemos o treinador, defendemos o futebol. Nós somos uma associação sindical, de cariz sindical, mas obviamente somos uma Associação que pretende colaborar para que o futebol se afirme. O futebol é, de facto, hoje um fenómeno transversal em todo o Mundo, em todas as classes"
Treinadores dos escalões secundários: "É uma das nossas grandes preocupações é a defesa dos treinadores dos escalões secundários. Quando falo dos escalões secundários é dos não-profissionais e também da formação. Há hoje um panorama que não é muito favorável em termos laborais. Havendo conflitos laborais, estes treinadores não estão protegidos, o regime jurídico que define toda esta situação é o regime jurídico do praticante desportivo, do intermediário e da formação, e não está contemplado o treinador. Quando se fala muito em futebol, fala sempre do futebol da 1ª Liga e da 2ª Liga, mas nós somos uma Associação de todos os treinadores e aqueles que estão menos protegidos são obviamente estes treinadores da formação e a formação também temos que pugnar para que se afirme de uma forma clara, porque eles têm um papel fundamental na sociedade onde nós estamos. Uma sociedade em que os jovens cada vez estão mais isolados, não têm competências sociais, e é pela prática do desporto coletivo que eles podem adquirir essas competências sociais de partilha, de viver em grupo, de estar no grupo, de cumprir horários, de respeitar o adversário, respeitar-se a si próprio. É um fenómeno cada vez mais importante numa sociedade que cada vez é mais isolacionista, nomeadamente nos jovens e, portanto, esse papel muitas vezes é secundarizado. É um papel social, educacional extremamente importante e é desempenhado pelos treinadores de futebol. Há miúdos que vivem durante a semana mais tempo com o seu treinador de futebol do que com os pais, esse papel de educador, temos de o afirmar de uma forma clara, apoiando os treinadores que estão nesse sector, os treinadores têm de ter ferramentas para desempenhar essa função que achamos fundamental. Nós não queremos ser a Associação dos treinadores profissionais, não foi criada esta Associação para isso porque somos pares, interpares, independentemente da qualificação que cada um tenha. Achamos que na atual conjuntura do Mundo, a formação é fundamental, tem um papel relevante, que se projeta no futuro, no homem do futuro que todos queremos construir e na defesa dos treinadores que estão mais desprotegidos, os não profissionais, que têm também um papel muito importante, nos clubes que representam as suas terras, as suas gentes. Temos de os apoiar na sua formação contínua, mas também no apoio a possíveis conflitos laborais"
Acabar com casos dos treinadores na 1ª Liga sem autorização legal: "A regulamentação em forma de lei determina que o exercício da atividade, nos vários escalões, tem que se feito por treinadores com o grau necessário para essa efetivação. É o cumprimento da lei. A Associação Nacional de Treinadores, na falta de assunção do cumprimento dos regulamentos das provas, tem feito o papel daquele que deve ser feito pelo que regula a prova. Isso está escrito. Qualquer denúncia em relação a essa situação deve ser feita por aquele que controla a prova. Queremos que a lei se cumpra, mas um problema que existe a montante é a falta de possibilidades de se formarem com tempo. Queremos resolver o problema a montante para que não haja casos como aqueles mais conhecidos. A Associação Nacional de Treinadores não tem tido uma atuação de denúncia desses casos, quem deveria fazer essa denúncia são os organizadores da prova, que está escrito, com penalizações, com coimas, somos um país de direito, o futebol é também um eixo de atividade extremamente importante em termos económicos, mas também tem de cumprir esses regulamentos, que são leis, depois são plasmados num regulamento que exige. Quem deve fazer cumprir são os órgãos que tutelam as organizações. Um curso tem 20 elementos, formar 20 elementos UEFA Pro de dois em dois anos não é suficiente, por isso queremos que a montante se revolva esse problema para se fazer mais rapidamente a formação. Não queremos ser uma Associação de rutura com o passado e com as instituições, queremos ser uma instituição que quer ser parceira, contribuinte ativo no desenvolvimento do futebol e este é um caso que temos que resolver. Temos 400 treinadores no estrangeiro, há muitos treinadores na formação, treinadores-adjuntos e queremos alargar a outros mercados, é fundamental em termos de afirmação do país. Vivi 15 anos no estrangeiro e sei que uma das bandeiras do nosso país, da afirmação da nossa capacidade, é o treinador de futebol. Vamos tentar resolver rapidamente a montante, fazendo com que a acessibilidade aos cursos de nível 3 e 4 sejam muito mais agilizados"
Proteger os treinadores das constantes chicotadas psicológicas: "Preocupa muito. Temos consciência de que o empregador tem a capacidade de despedir. A nossa argumentação vai ser fazer um estudo claro sobre os resultados dessas chicotadas psicológicas. Se formos ver o resultado dessas chicotadas psicológicas, só restaram quatro treinadores que até tiveram um início de época algo titubeante e depois foram-se afirmando. É importante que nós, junto das direções dos clubes, possamos dizer-lhes claramente que essa não é a solução imediata para um caso. No futebol tem de se dar tempo ao tempo. Tem-se falado que um treinador despedido não poderá treinar nessa mesma época, isso vai contra a Constituição, o direito ao trabalho. Não há regulamento nenhum que possa castrar a liberdade de empregabilidade de um treinador. Vamos criar um conselho técnico para que possamos emitir opinião, por exemplo, relativamente à alteração dos quadros competitivos, os treinadores nunca emitiram opinião e temos de emitir, porque somos aqueles que conhecem melhor os quadros competitivos, porque temos a experiência dessas situações"
O que distingue esta candidatura da outra, de André Reis: "Eu não falo no outro candidato e ele fala de nós"