
Jules Lucien André Bianchi, nascido no dia 3 de agosto de 1989, foi piloto da Marussia F1 Team de 2013 a 2014. Campeão de Fórmula 3 e vice-campeão da GP2 Asia e Formula Renault 3.5, chegou à categoria rainha em 2011 como piloto reserva da Scuderia Ferrari e aparentava ser a futura estrela da equipa. Infelizmente, os seus planos não avançaram muito.
Com esta introdução, escrevo este texto, que não é mais que um desabafo de quem viu a acontecer e acompanhou quase minuto a minuto todas as notícias sobre o francês e as mudanças desse momento em diante no desporto.
No dia 17 de julho de 2015, sensivelmente pelas 23h de Portugal, a notificação chega ao meu telemóvel – “Formula 1 driver Jules Bianchi has died at the age of 25”. Que aperto que me deu no coração.
Eu era apenas uma jovem de 16 anos, que lia o artigo em choque e corri para a frente da televisão à procura de notícias fora de Portugal que comprovassem o título. No ainda Twitter, tudo fala do mesmo, mandando as condolências à família de Jules. Não acreditava que, depois de nove meses, o fim do piloto francês seria esta tragédia que tinha visto ao vivo e em direto.
Foi uma noite em branco a chorar imenso, quase como se tratasse de um familiar. A verdade é que não fazia muito tempo que me tinha juntado ao desporto e já via no Jules uma verdadeira estrela. Tinha conseguido fazer os seus primeiro pontos pela Marussia no Mónaco, ao terminar na nona posição. Um momento que foi imensamente celebrado por tudo e por todos, sem exceção.
E foi nesse mesmo ano de 2014, no dia cinco de outubro (aniversário de Kevin Magnussen) que tudo aconteceu. Acredito que não sejam precisos referir nomes, mas a direção da Fórmula 1 decidiu que teríamos corrida, mesmo comum tufão a passar por cima do circuito de Suzuka, Japão, na altura da sessão de domingo. Muitos carros mostraram instabilidade em pista, acabando mesmo por sair das duas linhas, como foi o caso de Adrian Sutil, piloto alemão que conduzia um Sauber na altura.
Ao sair de pista e bater no muro de pneus devido à forte chuva que caia, foram levantadas bandeiras amarelas e entrou um trator para remover o carro.
Na volta 43, o piloto francês teve um momento de aquaplaning e acabou por não conseguir controlar o carro e bateu no trator que retirava o monolugar do alemão. A partir desse momento, nunca mais acordou. Sutil viu tudo a acontecer exatamente à sua frente. Só penso no trauma que poderá ter ganho depois do que experienciou diante de si.
Durante nove meses, as esperanças iam crescendo de se puder ver um milagre a acontecer. As notícias não eram más, mas nada mudava o estado de coma em que se encontrava. Ao saberem da notícia da sua morte, a Fórmula 1 não exitou em retirar o número 17, que lhe pertencia, para nunca mais ninguém o usar, como forma de o homenagear.
Depois da notícia oficial, chegou o GP da Hungria. Aquele hino, pelo menos da maneira que foi tocado, enquanto todos os pilotos estavam a prestar a sua homenagem a Bianchi, foi o cair do chão para mim. Demorei imenso a recompor-me porque a dor era tão forte ao ver uma pessoa que sempre esteve ali, não estar mais. Ainda hoje, tenho arrepios e as lágrimas chegam aos meus olhos.
Mesmo que não seja momento disso, houve coisas que mudaram graças a este acidente fatal. Em 2018, foi introduzido o “halo”, hoje parte indispensável de qualquer monolugar. Uma pequena parte que aguenta até 12 toneladas de força imensa, protegendo os pilotos que estão dentro do cockpit. E já tivemos vários incidentes que mostraram como o halo realmente os veio proteger, como por exemplo o incidente entre Max Verstappen e Lewis Hamilton em Monza 2021, o acidente de Zhou Guanyu em Silverstone, o acidente de Marcus Ericsson em Monza 2018 ou então o arrepiante acidente de Romain Grosjean em Bahrain 2020, sem falar de outras classes.
Admito aqui, como nas redes sociais, que não era a maior fã do halo nem sentia que seria um benefício, mas sim uma dificuldade para os pilotos conseguirem visualizar a pista com um obstáculo no seu campo de visão. Foram os exemplos que dei acima, e muitos mais que não mencionei, que me provaram que estava errada acerca destas novas mudanças.
A verdade é que sim, ainda tivemos as morte de Anthoine Hubert na Fórmula 2, depois de um T-bone por parte de Juan Manuel Correa, e de Dilano Van’t Hoff na Formula Regional European Championship. Porém, a segurança no desporto automóvel, com a criação do Virtual Safety Car e o halo, parece estar melhor que há 11 anos. As corridas às chuvas são feitas com (demasiado) cuidado para proteger quem está por detrás do volante e, de certa forma, até os calendários mudaram para não colidir com época sazonais de mais chuva e outras adversidades atmosféricas.
Falo muito na primeira pessoa durante todo este texto porque genuinamente achava que nunca mais veríamos um acidente mortal na Fórmula 1 depois de Ayrton Senna em 1994. 20 anos depois, acontecia um acidente que se tornaria fatal no ano seguinte. Não morreu em pista, mas sim devido a tudo o que se passou nesse dia. E isso só despertou a vontade de que acabem todos bem e que levem os seus carros para casa, como costumam dizer.
Hoje, dia 17 de julho de 2025, apercebo-me como o tempo passou depressa. Uma década depois, muita coisa mudou, porque tivemos de perder uma futura estrela da equipa italiana para os céus de forma a apostar mais na segurança. Dez anos depois, há mais segurança do que alguma vez houve. 3,653 dias depois, relembramos o sorriso que vimos partir naquela trágica tarde de outubro.
Lá no fundo, nunca te esqueceremos. Eu, pelo menos, não esquecerei.
#CiaoJules #JB17