Estaremos todos de acordo quando consideramos Kylian Mbappé um dos melhores jogadores do mundo, senão mesmo o melhor. Capacidade de finalização, velocidade estonteante, técnica apurada e alguém que despontou muito cedo, tendo sido campeão do mundo e elemento fulcral na seleção francesa, quando esta conquistou o Mundial da Rússia em 2018.

Mbappé tinha apenas 19 anos e deslumbrou o mundo do futebol com exibições impressionantes. De lá para cá, Mbappé continuou a apresentar números bastante bons e a ter uma regularidade exibicional absolutamente incrível.

Contudo, por uma razão ou por outra, Mbappé nunca foi coroado como melhor jogador do mundo. Campanhas bastante modestas com a seleção francesa, a não conquista da tão ambicionada Liga dos Campeões ao serviço do PSG, lesões em momentos inoportunos, etc. Todos esses podem ser considerados factores para que Mbappé nunca tenha ganho um prémio individual que os destaque em relação aos demais.

Provavelmente esteve muito próximo de ganhar a Bola de Ouro e o The Best, caso tivesse conseguido ser campeão mundial no Qatar em 2022. O mundial de Mbappé não foi soberbo, mas os últimos 50 minutos daquela final épica, foram das melhores performances individuais de que eu me recordo num jogador de futebol.

Um hat-trick na final de um Mundial, só está ao alcance de um predestinado, e eu continuo a considerar Kylian Mbappé um dos poucos predestinados do atual futebol mundial.

Querendo dar um passo em frente na sua carreira e sentindo que estava a estagnar, Mbappé decidiu sair de forma abrupta do seu clube de infância (PSG) e assinar pelo clube dos seus amores: o Real Madrid. Um namoro que acabou em casamento ao fim de mais de sete anos de várias especulações, idas e vindas, que começou a desesperar os adeptos do clube merengue e que a um determinado ponto, fez o presidente Florentino Pérez considerar que foi atraiçoado pelo avançado francês.

Os últimos seis meses de Mbappé no PSG foram penosos. Vários jogos no banco de suplentes, Luis Enrique a controlar o seu tempo de utilização e a prescindir dos seus serviços em jogos bastante importantes, uma nova eliminação dramática na Liga dos Campeões e uma saída do clube francês pela porta pequena.

Mbappé teve uma apresentação digna de uma estrela de Hollywood ao serviço do Real Madrid. Mais de 50 mil pessoas assistiram à sua apresentação e as expectativas dos adeptos eram enormes sobre contributo da estrela gaulesa, que tornaria ainda mais forte o vigente campeão europeu. Mas até ao momento, essas expectativas não têm sido cumpridas e por uma infinidade de razões.

A primeira das quais está relacionada com o fato de Kylian ter entrado de forma demasiado humilde e tímida no clube espanhol. Uma super estrela tem que assumir o seu estatuto desde o primeiro minuto, por mais conturbada que tenha sido a sua contratação e os moldes em que esta se deu.

Os adeptos não têm memória e querem ganhar títulos e que os seus jogadores tenham rendimento dentro do campo. Esquecem traições e comportamentos inadequados, se esse jogador se exibir ao nível esperado de um super craque, como é Kylian Mbappé.

Uma Supertaça Europeia ganha contra a Atalanta no início da época, não é suficiente para um adepto tão exigente como o adepto merengue. Apesar de ter nas suas fileiras o brasileiro Vinicius Junior, eu considero que a maioria dos adeptos do futebol consideram que Mbappé é melhor do que Vinicius e é bastante mais decisivo que o extremo brasileiro.

Primeiro de tudo, Mbappé não está a jogar na sua posição de origem e onde tem maior rendimento (na esquerda do ataque) em detrimento de Vinicius. Para além disso, não exerce de líder nos vários momentos complicados que a equipa espanhola tem tido, principalmente nos jogos de maior exigência, que é quando se espera que ele resolva e que foi para esses jogos que o Real Madrid o decidiu contratar.

Exibições paupérrimas da equipa também não têm ajudado, resultados humilhantes como a goleada sofrida pelo seu rival Barcelona em pleno Santiago Bernabéu. E pouco ou nenhum rendimento das suas maiores estrelas, principalmente de Mbappé.

Mas Mbappé parece triste, inadaptado e acima de tudo, demonstra uma ansiedade tão grande, que o faz falhar golos cantados atrás de golos cantados semana após semana.

Mbappé conforma-se em jogar na frente do ataque e tem tido um rendimento sofrível. Acrescento ainda o fato de não ser ele sempre a tomar a responsabilidade de marcar todos os penalties da equipa espanhola.

São poucas ou nenhuma das atuais equipas de topo que repartem marcadores de penalties, sendo que Mbappé é um especialista, a avaliar pela sua eficácia nesse momento de jogo. Mas o comportamento mais criticável de Mbappé tem sido com a seleção francesa, da qual é capitão.

Mbappé tem tido uma postura indigna de um líder. Por mais pressionado que possa estar para ter o tal rendimento esperado pelos adeptos do Real Madrid, Mbappé é a estrela maior da seleção francesa, aquele jogador diferencial que faz com que a equipa gaulesa esteja mais perto ou mais longe de conquistar os seus objetivos. Um líder não pode escolher os jogos em que joga, deve estar sempre presente e ajudar na integração dos jogadores mais jovens.

Para além disso, a sua escolha como capitão foi bastante controversa e criou uma enorme divisão no balneário, culminada com o anúncio da retirada internacional de um dos jogadores mais importantes da seleção francesa nos últimos tempos: Antoine Griezmann.

A lógica faria crer que Griezmann (dada a sua experiência e preponderância na equipa), fosse o escolhido para ser o novo capitão da seleção. Mas Deschamps quis contentar Mbappé, ceder aos seus caprichos e dar-lhe um estatuto que ele raramente exerce em campo. Nem todos os craques sabem ser líderes, e está tudo certo com isso.

Um líder não é só aquele que grita com os seus companheiros no meio de um jogo ou no intervalo do mesmo. Um líder vê-se em muitas outras coisas e Mbappé está longe de o ser.

Não tem nenhum tipo de compromisso defensivo e estamos a falar de um jogador no auge da sua carreira. Tem apenas 25 anos e não faz sequer um esforço para participar nesse momento do jogo. E recentemente a sua falta de compromisso e liderança atingiu patamares escandalosos e inadmissíveis, diria eu.

Na anterior paragem de seleções em Outubro, Mbappé acordou com o seleccionador francês Deschamps que não fosse convocado para poder recuperar de um pequeno problema físico e poder fazer uma mini pré-temporada com o Real Madrid.

Ato seguido, joga quase o jogo inteiro pela sua equipa contra o Villarreal, deixando Mbappé e os seus colegas de seleção com a batata quente e sujeitos a todo o tipo de escrutínio e pressão da nada meiga imprensa francesa. Para cúmulo, saiu a notícia de um suposto caso de abuso sexual da estrela francesa, pois aproveitou o fato de não jogar com a sua seleção, para ir passar uns dias a Estocolmo com os seus amigos.

Nada errado que os jogadores desfrutem das suas folgas e aproveitem como bem lhes aprouver os seus dias de descanso, mas é preciso ter tato e sensibilidade e evitar polémicas. E isso é tudo aquilo que Mbappé não o tem feito. Parece que gosta de estar sempre na berlinda, sente-se confortável com isso, mas as suas atitudes têm danos colaterais, neste caso a sua seleção que apregoa amar tanto.

É evidente que Mbappé não está num óptimo estado de forma, está muito longe do seu melhor nível, quer físico, quer futebolístico e igualmente mental, mas não deixa de ser o capitão da sua seleção.

E se não está apto para jogar na sua seleção, eticamente não deveria estar apto para jogar pelo seu clube. O Real Madrid é quem paga o seu salário, entendo perfeitamente que continue a alinhar o seu craque, mas deveria igualmente protegê-lo de toda esta situação, que não contribui igualmente para a melhoria das suas exibições ao serviço do clube espanhol.