O futebol não é só vitórias e conquistas, aliás pode afirmar-se que isso é uma pequena parte deste desporto. Por cada equipa que ganha o título de campeão nacional nas principais ligas europeias, há duas (ou mais) que acabam por ser relegadas a uma divisão inferior.

Todos os anos a luta para não descer à segunda divisão é intensa, seja em que liga for. Os clubes tentam fugir a um acontecimento que pode atrasar ou mesmo acabar com projetos desportivos.

É precisamente sobre este tópico que vos falo hoje. Mas como tem evoluído a luta para evitar a despromoção?

Nas principais ligas europeias, isto é, Premier League, La Liga, Serie A, Bundesliga, Ligue 1 e Primeira Liga Portuguesa, há um fenómeno quase geral, com apenas uma destas competições a fugir à regra.

Que fenómeno é esse? São precisos menos pontos para não se descer de divisão. Vamos aos números. Entre o período das épocas (2014/15 a 2018/19) eram precisos em média 35.6pts para fugir à despromoção na Premier League. Nas cinco épocas seguintes (2019/20 a 2023/24) esse número desceu para 32.2pts, uma queda de 3.4 pts.

Este número pode não parecer muito, mas é importante salientar que esta época, dos três últimos classificados apenas Ipswich pode passar a média das cinco épocas anteriores, isto se ganhar todos os quatros jogos que restam.

Nas restantes ligas, é de destacar a queda na Ligue 1, no que diz respeito a esta estatística. A liga francesa passou de serem necessários 36.4pts para a manutenção entre 14/15 e 18/19 para 31.6pts nos últimos cinco anos.

De resto todas as ligas analisadas viram este número cair, com exceção da liga espanhola, onde o valor subiu de 34.4pts para 37.2pts, durante o período analisado.

Deixando agora um pouco os números de parte, qual o motivo para isto? Estarão as equipas das primeiras divisões mais fortes? Esta é sem dúvida uma possibilidade e provavelmente a principal. As equipas sobem à primeira divisão e encontram um nível demasiado forte para serem competitivas.

Este motivo justifica muito o que temos visto na Premier League, onde as equipas relegadas têm feito história, pelos maus motivos. Esta época os clubes promovidos foram apenas marcar presença na primeira divisão inglesa, visto que vão todas descer de divisão. Um fenómeno que já havia ocorrido no ano passado, quando o Luton, Burnley e Sheffield United ficaram nos últimos três lugares da liga.

Só uma curiosidade, antes destas duas épocas, este acontecimento só tinha acontecido uma vez, em 1997-98.

A verdade é que o motivo principal para esta queda de qualidade nos clubes mais abaixo nas tabelas das ligas europeias é claro: se não fores um grande, a tua equipa está mais fraca.

Há várias razões, mas penso que todos podem ser rastreadas a uma coisa, o maior calendário. Com mais jogos, os planteis têm de ser mais largos, ou seja, os clubes têm de ir buscar mais jogadores e/ou libertar menos do que era habitual, o que prejudica os clubes mais “pequenos”.

E o que causa este calendário mais apertado? Mais competições, que acabam por favorecer financeiramente os maiores clubes de cada divisão. Como é que o clube português que apenas compete na liga nacional consegue competir financeiramente com clubes que jogam Champions, que veem a sua receita televisiva aumentar graças ao maior número de jogos e, como se isso não fosse pouco, que participam na nova criação da FIFA, o Mundial de Clubes?

Se nada for feito, como, por exemplo, aumentar o número de receitas para os clubes que ficam fora dos lugares europeus, a inclusão de regras de fair-play financeiro mais apertadas, a criação de tetos salariais, o mais provável é que a pouco e pouco estes problemas que agora assolam os últimos classificados comecem a alastrar-se ao resto das equipas, até chegarmos a ter campeonatos onde os únicos jogos que vale mesmo a pena assistir são entre os candidatos ao título. Por favor, não deixem isto acontecer!