Numa noite de verão bastante quente em Bratislava, capital da Eslováquia, a Inglaterra conseguiu a proeza de se tornar a primeira seleção a ser duas vezes bicampeã de Sub-21 (2023 e 2025), repetindo o feito de 1982 e 1984, na história do Europeu sub-21.

Marcavam 21h no relógio local quando a partida entre Inglaterra e Alemanha começou, com bola para a seleção britânica.

Nos onzes iniciais, não tivemos presente grandes surpresas.

Do lado inglês, Lee Carsley manteve Jay Stansfield como referência ofensiva e Jack Hinshelwood como lateral esquerdo de pé trocado, podendo ser estas as únicas peças que estavam em dúvida.

Do lado alemão, as dúvidas pairavam sobre quem seria o parceiro para Nick Woltemade na frente de ataque, se seria Nicolò Tresoldi, o avançado do Hannover, com ascendência italiana, ou Nelson Weiper, avançado do Mainz, descendente de albaneses. Não apenas aí, mas também no flanco direito, havia uma ligeira questão sobre se seria o acelerador Ansgar Knaufff ou o diabólico Brajan Gruda a jogar, também com ascendência albanesa. Caso não tivesse saído lesionado na partida anterior, certamente Max Rosenfelder ocuparia o lugar de Tim Oermann no eixo da defesa.

A seleção inglesa entrou mais forte, com maior autoridade e na busca por um golo cedo na partida, que iria chegar à passagem do minuto cinco, através dos pés do inevitável Harvey Elliott, que apareceu em força nos jogos de maior relevância, tendo marcado nos quartos de final, na meia final e na final, vindo até a ser coroado o melhor jogo do torneio.

O golo surge através dos pés dele, começando no flanco direito, vindo com muito dinamismo e potência para o espaço central e à procura do passe de rutura. Após um desvio em Alex Scott, o passe chega às costas da defesa e aos pés de Omari Hutchinson, que surpreende por ter sempre algo diferente para oferecer às partidas. Uma parada para a frente de Noah Atubolu e algum excesso de afundamento da defesa germânica, fizeram a bola chegar em condições aos pés de Harvey Elliott, que concluiria a jogada com excelência.

A Alemanha teve sempre bastantes dificuldades quando tentou sair em jogo apoiado desde trás, sofrendo com alguma falta de criatividade no setor mais recuado. O facto de possuir dois laterais, Nathaniel Brown à esquerda e Nmandi Collins à direita, com características sobretudo físicas e de progressão em campo aberto, adicionadas ao facto de Eric Martel ser meramente um recuperador de bolas e ainda à ausência de Max Rosenfelder, que conseguia bastantes penetrações no bloco, contrapondo-se a Bright Arrey-Mbi e Tim Oermann, que se destacam mais no passe à distância, prejudicou a Mannschaft.

Rocco Reitz, o outro dos médios do 4-4-2, tentou por várias vezes, não tendo o perfil de organizador, baixar à primeira linha para ativar a circulação e melhor a fluidez na construção, mas sem grande sucesso.

Assim sendo, a Inglaterra, não apenas em terreno alto, mas também em terreno baixo, conseguiu somar várias recuperações de bola e criar perigo na transição ofensiva.

Através de passe ou remate, foram várias as vezes que Eric Martel, a chegar a último terço, quebrou ataques da sua equipa. Percebe-se que, por ser o capitão, e por alguns aspetos defensivos, seja um indiscutível nas escolhas, mas Merlin Röhl vinha justificando mais minutos e, quiçá, a titularidade.

Após uma dessas chegadas em que Eric Martel enviou uma bola para bem longe da baliza, sai um ataque organizado de Inglaterra, começando no pontapé de baliza e terminando no fundo das redes.

Após pontapé longo de Charlie Cresswell, há um belo trabalho de pivô de Jay Stansfield, suportando a carga e entregando para Harvey Elliott lançar o ataque no espaço. A abordagem de Nmandi Collins em fechar o espaço interior não é a melhor, abrindo espaço para James McAtee oferecer o golo a Omari Hutchinson, que esteve mais tímido no 1v1 ao longo da partida, mas foi importante nos variados tipos de movimentos que fez e na ligação que teve com a baliza.

Outro ponto importante no jogo foram as boas sinergias criadas entre Tino Livramento e Harvey Elliott na meia direita, variando entre quem ofereceria largura e quem se colocava no half-space, conseguindo penalizar o posicionamento interior de Paul Nebel, médio esquerdo contrário.

Se esse posicionamento facilitava, por vezes, a saída da Inglaterra, por outro lado, dificultava a sua defesa, criando superioridade de fora para dentro, ocupando os espaços entre as duas últimas linhas.

O jogo também se marcou pela forma como a seleção alemã foi capaz de crescer no fim das partes, quase que encostando a Inglaterra ao seu último terço defensivo.

Juntando alguns destes pontos com a intenção de jogo de procurar cruzamentos regularmente, também propiciada pelo esquema de pressão da seleção dos três leões, surgiu o primeiro golo germânico, ao cair do pano da primeira parte, com um belo cruzamento de Paul Nebel, saindo surpreendentemente para fora e cruzando eximiamente para o cabeceamento mortífero de Nelson Weiper (presença algo unidimensional no jogo), nas costas do recém-entrado Tyler Morton.

O médio do Liverpool rendeu Alex Scott que, infelizmente, parece ter sempre o destino desalinhado. As suas melhores exibições, ou sequência delas, parecem sempre indicar que um problema físico virá. Os seus 44 minutos foram de um nível altíssimo, mostrando recursos infinitos a sair da pressão.

Face a alguma falta de fluidez no jogo e com Woltemade a não conseguir se evidenciar face à grande exibição de Charlie Cresswell e Jarell Quansah, podia-se esperar algumas mexidas ao intervalo.

Elas não surgiram, e com a ausência de Alex Scott, a turma de Antonio di Salvo cresceu no jogo, mudando um pouco a estrutura, deixando Nmandi Collins mais baixo para construir a três e oferecendo a largura para Nathaniel Brown e Brajan Gruda, em momento ofensivo.

Não foi de cabeça, mas foi novamente na sequência de uma bola parada que os alemães marcaram com Paul Nebel, mais uma vez, em evidência, saindo para dentro na meia esquerda rematando extremamente colocado fora do alcance de James Beadle.

Ao minuto 62, a Inglaterra foi a primeira a mexer, por opção própria, retirando do jogo Jay Stansfield, que perdeu o 1v1 em ambos os golos, e lançando Brooke Norton-Cuffy, lateral direito de origem, como extremo de pé natural, fazendo uma espécie de 4-4-2-0, com James McAtee e Harvey Elliott como dupla de médios libertos na frente de ataque, retirando a referência à defesa adversária e tentando reaumentar o controlo do jogo. No papel, a ideia até podia ser boa, mas não trouxe quaisquer resultados positivos.

A Alemanha só mexeu no onze inicial ao minuto 73, fazendo uma troca direta no flanco direito, rendendo Brajan Gruda, que rapidamente se desgasta nas partidas, por Ansgar Knauff, um jogador mais vertical e acelerador. Só cresceu realmente com a redução de um ponta de lança e com a consequente entrada de Merlin Röhl para jogar lado-a-lado com Woltemade, mas conseguindo ter os setores mais conectados e propiciar chegadas à frente mais apoiadas.

Lee Carsley guardou os trunfos para atacar o prolongamento em força. Desfez a formação que tinha montado e lançou uma dupla mais explosiva e mais resistente ao choque, colocando Ethan Nwaneri nas costas de Jonathan Rowe que tinha começado o torneio como titular na frente de ataque.

No entanto, foi através de uma das muitas arrancadas desenfreadas, nem sempre acertadas, produzidas por Norton-Cuffy que surgiu o empate, tendo sabido travar e dar a bola a Tyler Morton para cruzar eximiamente para uma cabeceada arquitetónica de Jonathan Rowe selar aquilo que seria a vitória logo a abrir o prolongamento.

A partir daí, a equipa britânica não mais rematou, tendo-se resignado a defender e a segurar a vantagem, enquanto que a Mannschaft foi, aos poucos, metendo praticamente (apenas fez cinco substituições, lembrando que o prolongamento oferece uma extra) toda a lenha no assador em busca do empate, que não surgiu, apesar das várias presenças na área, algumas sem finalização, e de uma bola enviada à trave, com estrondo, por Merlin Röhl.

Não há como falar do jogo sem falar dos motores de ambas as equipas.

Do lado dos vencedores, Elliot Anderson faz uma final – e um torneio -, de um nível muito alto, não só mostrando uma capacidade física tremenda para o trabalho de operariado, mas também para se libertar na frente em conduções e com uma qualidade crescente no passe longo e na chegada ao último terço por Inglaterra.

Do lado contrário, Rocco Reitz também ficou pouco atrás. Mais singelo, de menor dimensão, mas igualmente com uma atitude e um pulmão interminável. Com sucesso ou não, assumiu sempre o risco que a equipa precisou e mostrou uma leitura de jogo soberba, para os diversos momentos e dimensões do jogo.

Com uma cada vez maior inclusão dos jovens em jogos da Premier League, ou nos campeonatos secundários e terciários, onde também se joga muito bom futebol, a Inglaterra assume-se cada vez mais como uma das, senão a, potência europeia nesta faixa etária. Por outro lado, lê-se muitas críticas por aí ao trabalho de formação germânico que, quanto a mim, não se justificam.

Por último, deixo aquele que foi, para mim, o 11 do torneio, com sete suplentes.

11 inicial: Noah Atubolu; Tino Livramento, Charlie Cresswell, Jarell Quansah, Quentin Merlin; Diogo Nascimento, Elliot Anderson, Rocco Reitz, Harvey Elliott; Nick Woltemade, Geovany Quenda.

Banco: James Beadle, Jorrel Hato, Castello Lukeba, Djaoui Cissé, Paul Nebel, Clement Bischoff, Omari Hutchinson.