É sabido que a classe da arbitragem viveu durante anos numa espécie de redoma, totalmente escudada do mundo exterior, resguardada na sua linguagem própria, pouco dada a conversas para fora.

Os motivos? Demasiados. Receio de promover ódios pela via da justificação, medo de ser mal compreendida ou interpretada, demasiado respeito à tradição, que sempre defendeu que o silêncio era a forma mais eficaz de lidar com ataques exteriores.

A verdade é que os tempos mudaram e o setor não pode ficar para trás.

Na Federação Portuguesa de Futebol acredita-se agora que uma arbitragem mais compreendida é, inevitavelmente, uma arbitragem mais respeitada. E para ser compreendida e respeitada, tem de ser explicada, tem que comunicar, tem que se aproximar do mundo que a rodeia.

Foi imbuídos dessa visão que o Conselho de Arbitragem e a Direção Técnica Nacional convidaram recentemente os comentadores de arbitragem para uma sessão de esclarecimento na Cidade do Futebol. Foi um encontro informal, mas com um propósito muito claro: proporcionar atualização técnica, promover o diálogo, ouvir sugestões e aproximar duas realidades que, em boa verdade, partilham uma responsabilidade comum.

A crítica, elogiosa ou negativa, não nos incomoda. Valoriza-nos. É uma ferramenta importante para a nosso crescimento, desde que fundamentada e construtiva. Desde que elevada e respeitosa.

O que pretendemos nesse evento - e o que queremos em ações semelhantes no futuro - é assegurar que quem está desse lado tenha acesso a informação fidedigna, evitando especulações baseadas em inverdades que nada acrescentam a ninguém.

Acreditamos que este é o caminho certo. O da transparência, da pedagogia, da responsabilidade partilhada. E acreditamos que se pode opinar em sentido contrário, desde que se compreenda primeiro. Acreditamos que se pode discordar com civismo. Acreditamos que é muitas vezes pela colisão de ideias que construímos caminhos convergentes.

Essa sessão técnica não foi apenas um marco nesta nova forma de estar. Foi uma afirmação. A de que estamos disponíveis para dialogar e ouvir, para explicar e esclarecer, para mostrar o que pode e deve ser mostrado a quem de direito.

Quem lidera não impõe, constrói. E só constrói se tiver abertura, coragem e vontade para fazer o que tem de ser feito.

Sabemos que este é apenas um pequeno passo de um caminho bem maior, mas a modernização de processos e a disponibilização para nos sentarmos no centro da mesa é uma certeza rumo às metas ambiciosas que nos propomos conquistar.

Sim, o caminho faz-se caminho. Que se caminhe, então.