‘Se pudesses derramar numa dose, podia fazer-te uma bebida de adrenalina!’ A frase de Franco Morbidelli após a sua batalha épica com Fermin Aldeguer em Aragão resume na perfeição o que faz do MotoGP um desporto único. Não é apenas velocidade, não é apenas técnica – é química pura correndo nas veias.

O italiano da VR46 encontrou-se numa situação que poucos desportos conseguem replicar: duas máquinas de 250 cavalos tocando-se a mais de 360 km/h, pneus gastos, última volta, quinto lugar em jogo. Nesse momento, o corpo humano produz cocktails hormonais que nenhum laboratório consegue sintetizar.

‘Adrenalina pura estava a correr pela minha cabeça naquele momento da corrida’, admitiu Morbidelli. E aqui reside o sumo desta modalidade: a capacidade de transformar seres humanos em gladiadores modernos, onde cada ultrapassagem é um duelo de vida ou morte, mesmo que metafórica.

O contacto físico entre as duas Ducati na recta traseira não foi acidente – foi comunicação. Foi Morbidelli a dizer ‘não passes’, foi Aldeguer a responder ‘vou tentar na mesma’. Nenhuma palavra trocada, apenas fibra de carbono tocando fibra de carbono a velocidades que desafiam a compreensão humana.

Esta é a essência viciante do MotoGP: a capacidade de extrair o sumo mais puro da competição humana, aquele momento onde preparação encontra instinto, onde experiência encontra coragem, onde dois guerreiros se testam mutuamente nos limites da física e da sanidade.