
E pensar que tudo começou com ele a fletir os músculos.
Era o raiar de junho, a temporada terminara e a revista Vogue, na sua versão escandinava, veio a Portugal bater à porta da residência de Viktor Gyökeres, a locomotiva sem freios dos 97 golos feitos em 102 jogos pelo Sporting. Descontraído nas lides de modelo, o avançado do momento posou sem querer saber de roupa, destapando o corpanzil. Às tantas, no vídeo do making of da sessão, surgiu o sueco sentado, adornado por uma camisa branca de fino tecido e alguém a borrifar-lhe água para a translúcida veste se colar aos contornos do seu corpo.
Era o agente, de seu nome Hasan Çetinkaya, aparecido nessa espreitadela aos bastidores e quem, desde esse ensaio, muito salsifré tem motivado no quotidiano sportinguista, poluído de diz-que-disses constantes sobre a suposta iminente transferência de Gyökeres. Com cláusula de rescisão fixada nos 100 milhões de euros, o último mês passou com um sortido de notícias variado.
O Sporting alegadamente prometera não exigir o valor da cláusula a potenciais interessados e de nem sequer querer €85 milhões, escreveu-se que garantira a Gyökeres e à sua entourage estar disposto a negociar por menos, só que, pelos vistos, não aceitou €60 milhões e nessa zona cinzenta cheia de notícias vindas a público o Arsenal terá perdido a paciência entre as ameaças publicadas de que o avançado sueco estaria para falar em breve, muito em breve, mas até agora nada.
Frederico Varandas tomou a palavra por ele. "Acredito que o Viktor possa sair, a não ser que tenha o pior agente do mundo", proferiu com sarcasmo o presidente do Sporting, afirmando-se tranquilo porque já lá vão os dias em que o clube tinha de "vender o principal ativo".
Mais tinta a pincelar uma tela já preenchida por um borrão chegou em forma de mensagens de putativos SMS trocados entre um Varandas "sensível aos sonhos" de um Gyökeres furibundo com o clube, diz-se que prestes a libertar a sua versão da história para o mundo e contra o Sporting cujo líder avisou que não desviará o pé de "um valor digno" e "razoável" pelo matulão de quem nada se ouviu, mas uma enormidade se leu acerca dos seus alegados desgostos desde a perninha que deu enquanto modelo fotográfico para a Vogue. Nessa última vez que falou, deixou uma confidência: "Em Lisboa, sinto-me em casa."
Nada de confirmado se soube sobre o destino da sua musculatura armada e à mostra até esta terça-feira, 1 de julho, dia de arranque da pré-época e de campainha a soar para os jogadores do Sporting regressarem a Alcochete. A única certeza é a de o contrato do sueco com o clube ainda durar outros três anos e na tinta salpicada nesta novela veraneante constou o rumor de que Viktor Gyökeres poderia não comparecer no toque para reunir dos leões.
E com tantos desenvolvimentos que não desaguam em progresso aparente, o Sporting tem um pequeno circo montado em torno de um jogador quando parte, esta terça-feira, em busca do título de tricampeão nacional de futebol, iniciando a preparação da época 2025/26, em Alcochete, engolido nas interrogações sobre o Gyökeres, o melhor marcador da I Liga na época passada, com 39 golos em 33 jogos.
Nova época, novo sistema tático
Até que haja ‘fumo branco’ em relação ao futuro do jogador, o treinador do Sporting, Rui Borges, conta com o autor de 54 golos em 52 jogos pelos ‘verde e brancos’ em todas as competições da época passada nos desenhos táticos que irá trabalhar até ao primeiro jogo oficial, frente ao Benfica, na Supertaça Cândido de Oliveira.
Na época passada, o técnico que chegou a Alvalade em dezembro começou por abdicar do 3x4x3 que tinha o ‘cunho’ de Ruben Amorim e foi mantido pelo seu antecessor direto, João Pereira, mas acabou por voltar a esse esquema em menos de dois meses, "para dar conforto à equipa", justificou, mantendo-o até à conquista da ‘dobradinha’, frente ao Benfica, na final da Taça de Portugal.
Nunca esclareceu, no entanto, se pretendia manter esse ‘desenho’ nesta época ou voltar a implementar um sistema assente numa linha defensiva com quatro jogadores, ‘fórmula’ que utilizou ao longo de toda a sua carreira como treinador principal, até mudar-se do Vitória de Guimarães para o Sporting.
As duas incógnitas do início da pré-época do Sporting devem, por outro lado, influenciar de forma decisiva a abordagem dos bicampeões nacionais ao que resta do mercado de transferências.
Tanto em termos de saídas, como de entradas, o clube de Alvalade ‘jogou’, até agora, em antecipação: logo em março, oficializou as vendas de Dário Essugo e Quenda ao Chelsea, de Inglaterra, por um total de 74,4 milhões de euros, poucos dias antes de tornar públicas as contratações do médio Giorgi Kochorashvili (ex-Levante, Esp) e do avançado Alisson Santos (ex-União de Leiria, por empréstimo dos brasileiros do Vitória) por 5,5 e 2,1 milhões de euros, respetivamente.
Os dois reforços são esperados hoje, em Alcochete, enquanto Quenda também deverá juntar-se ao grupo durante o estágio de pré-temporada, em Lagos, entre 12 e 21 deste mês, uma vez que o acordo com o Chelsea contempla a continuidade do jovem avançado em Alvalade, por empréstimo dos ingleses, durante mais uma época.
No Algarve, os ‘leões’ têm encontros marcados com os escoceses do Celtic, no dia 16, e com os ingleses do Sunderland, em 21, não sendo de excluir a possibilidade de realizarem outros encontros de preparação à porta fechada.
Poucos dias após encerrarem o estágio no Sul, os ‘leões’ recebem o Villarreal, de Espanha, na disputa do troféu Cinco Violinos, em 25 de julho, encontro que serve de apresentação da equipa aos adeptos e será disputado no Estádio Nacional, devido às obras de remodelação que decorrem no Estádio José Alvalade.
Ainda antes do fim do mês, o Sporting regressa ao Estádio do Algarve para o arranque oficial da nova época, frente ao Benfica, na Supertaça Cândido de Oliveira, que se disputa às 20:45 de dia 31.
Os ‘leões’ procuram entrar com o ‘pé direito’ numa época onde o objetivo assumido é conquistar o título de campeão nacional de futebol pelo terceiro ano consecutivo, um feito que não alcançam desde 1953, há 72 anos.