![Também os golpes no ar dão medalhas: no karaté sem luta, Portugal tem dois novos campeões europeus](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
O atleta pisa o almofadado tatami e prepara-se para combater, faz a pose de ação, está pronto, embora um alvo visível nunca vá surgir. Tem o karategui vestido, um cinturão a prender-lhe a veste, os pés descalços, tudo nos conformes menos a companhia por diante. O kata trata-se de karaté, mas é uma variante que dispensa a luta: o teor está em aferir a destreza dos movimentos, o primor dos gestos, a sincronia dos golpes, o equilíbrio de que o visado é capaz em posições estáticas.
Foi neste karaté despido de contacto que Portugal conquistou duas medalhas de ouro no domingo, em Bielsko, na Polónia, nos Campeonatos da Europa que juntaram atletas de vários escalões jovens. Na variante em que os adversários não são para tocar, Vasco Mateus conquistou o melhor na categoria de cadetes ao vencer o espanhol Elisey Yagudin. No kata júnior feminino, a medalha do mesmo metal acabou pendurada ao pescoço de Rita Marques, que teve a sua cor de cinturão a ser a preferida dos árbitros em detrimento da que tinha a alemã Jay Jirley.
Seria o vermelho ou o azul, uma das duas com que o kata pinta o tecido que segura o traje branco dos atletas. Cada performance é avaliada segundo vários critérios que se agrupam em três áreas: a conformidade com as linhas-mestras dos anciões japoneses do karaté, tudo o que envolva os gestos técnicos e a parte atlética. Na prova por equipas, Diogo Santos, Martim Oliveira e Vasco Marques ficaram no terceiro lugar. “Foi o melhor resultado de Portugal numa competição desta natureza”, destacou Carlos Silva, presidente de Federação Nacional de Karaté Portugal, feliz pelo sétimo lugar em que a seleção nacional terminou “no medalheiro da prova”.
A juntar aos ouros e bronze no kata houve mais penduricalhos de metais preciosos, mas vindos de karaté com golpes frutíferos.
Apareceram na categoria de kumite, a que convida ao combate e coloca adversários reais na frente, onde os braços e pernas podem e devem tocar nos membros, tronco e cabeça do adversário. Nesse universo de contacto, Bernardo Fernandes foi vice-campeão europeu de sub-21, na categoria de -75 quilos. No mesmo escalão, Guilherme Gonçalves conquistou a medalha de bronze nos -67 quilos. Entre karaté de demonstração e de combate efetivo, Portugal colecionou as suas cinco medalhas, prova da “dedicação e do trabalho que os atletas prestam à modalidade”, enalteceu o presidente da federação nos golpes com palavras.
Na repercussão em números, o karaté carece de maior representação no país, mas a entidade tem investido na formação de praticantes. “Terminámos o ano passado com 18 mil atletas inscritos”, revelou Carlos Silva à “TSF”, centrando o objetivo próximo em “tentar colocar alguns atletas no Campeonato do Mundo”, para o qual ainda decorrem as provas de qualificação.