
A ideia de que é necessário fazer vários “cenários de risco” de modo a antecipar sinais de crise económica num tempo de grande incerteza uniu os responsáveis dos organismos de supervisão da Europa, Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Coreia do Sul. Num debate que durou mais de uma hora, Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte-americana, Christine Lagarde, presidente do BCE, Andrew Bailey, governador do Banco de Inglaterra, Chang Yong Rhee, governador do Banco da Coreia, e Kazuo Ueda, governador do Banco do Japão, deram indicações preciosas de como vai evoluir a economia mundial.
A política das tarifas comerciais imposta por Donald Trump esteve sempre presente na discussão que ocorreu em Sintra. Todos os responsáveis pelos bancos centrais estão de acordo sobre a necessidade de “esperar para ver”. Para já, a inflação não dá sinais de subida com as ameaças ao comércio internacional do presidente norte-americano, mas é natural que esses efeitos se comecem a sentir mais à frente no tempo.
Para evitar uma crise económica global, é necessário traçar “cenários de risco”. Quantos mais melhor. Uma estratégia que também une os supervisores. A grande questão é como comunicar esses cenários publicamente, de modo a que não tenham reflexos indesejáveis na economia. Como se questionava Andrew Bailey “se eu estiver errado nos cenários que escolhi, qual é a minha responsabilidade nos efeitos que isso pode ter na economia?” Para o governador do Banco de Inglaterra “é preciso ter muito cuidado com a forma como se revela publicamente esses cenários”.
Quer Powell, quer Yon Rhee, quer Kazuo Ueda disseram que os respetivos bancos centrais fazem várias análises de cenários de risco, com o governador do Banco do Japão a sublinhar que “navegamos sob as estrelas num céu muito nublado”.
Para já, o horizonte é de crescimento económico e de um retomar da descida das taxas de juro. O presidente da Reserva Federal norte-americana admitiu mesmo que a FED “travou o ritmo da descida dos juros quando as tarifas foram anunciadas, porque subiram as expectativas em relação à inflação”.
Aqueles responsáveis também discutiram a prevalência do dólar no comércio internacional e a crescente valorização do Euro, com o governador do Banco de Inglaterra a não ver grandes alterações na mudança das moedas de reserva do comércio internacional, mas a alertar para a necessidade de analisar o que se passa com a “evolução das taxas de câmbio”.
Um outro desabafo de Andrew Bailey foi dirigido à Ucrânia. “Temos que ser humildes. Se acham que estamos a enfrentar dificuldades têm que ir à Ucrânia como eu e a Christina Lagarde fomos. Vejam os problemas porque passa o Banco Central da Ucrânia”.