
Esta posição foi defendida por Mariana Mortágua no início de um almoço destinado a apresentar a candidatura da ex-eurodeputada bloquista Anabela Rodrigues à presidência da Câmara da Amadora, no distrito de Lisboa.
No seu discurso, a coordenadora do Bloco de Esquerda, depois de uma alusão aos ministros e secretários de Estado que têm ou que tiveram participações em empresas do ramo do imobiliário, sustentou a tese de que o atual executivo PSD/CDS-PP "vive noutro mundo", encara a política de habitação da mesma forma que "um promotor imobiliário" e governa para "uma elite" e não para a maioria dos cidadãos.
"Como é que um Governo que vê e olha para a habitação do ponto de vista de quem tem uma imobiliária, ou de um promotor imobiliário, de quem compra e vende e ganha com o aumento dos preços, pode pensar numa política de habitação? Como é que um Governo que vê o mundo a partir de si próprio, da sua experiência, dos seus interesses, da sua carteira, do mundo dos negócios em que vive e dos advogados influentes em que vive, como é que este Governo pode olhar para Portugal e trazer respostas para as pessoas comuns?", perguntou.
Para Mariana Mortágua, "um Governo que olha para o país a partir dos seus olhos e da sua experiência de privilégio nunca será capaz de entender" Portugal.
"É um Governo que olha para o negócio da construção, mas não olha para as casas que estão vazias e que podiam ser utilizadas. É um Governo que olha para os solos e pensa que negócios se podem fazer com os solos, mas é incapaz de olhar para os preços da habitação", acusou.
Após assinalar que Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em que é mais difícil adquirir uma casa, a coordenadora do Bloco de Esquerda concluiu: "Perante isto, o Governo é incapaz de dar uma resposta, porque vive noutro mundo, porque governa para uma elite."
"É um Governo em conflito com Portugal. E o maior conflito de interesses é o de quem governa para uma elite e não governa para a maioria", acentuou.
Mariana Mortágua atacou também recentes posições assumidas pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, sobre a política de imigração no final Cimeira Luso-Brasileira, que se realizou em Brasília.
"O primeiro-ministro acha-se na arrogância de poder escolher a dedo quais são os imigrantes que deseja e não deseja, só querendo aqueles que falam português", apontou.
Mas as posições assumidas por Luís Montenegro em Brasília, esta semana, apresentaram, na perspetiva de Mariana Mortágua, "um segundo problema".
"O mesmo primeiro-ministro que vai ao Brasil dizer que precisamos de imigrantes para construir casas. Aqui, em Portugal, pelo contrário, faz propaganda de tudo o que fez contra os imigrantes, de tudo o que fez para não ser possível regularizar os imigrantes. Enquanto vai ao Brasil dizer que precisamos de imigrantes, há muitos milhares de imigrantes, entre os quais brasileiros, que não conseguem ter um documento de regularização para poderem viver e trabalhar no país", acrescentou.
De acordo com a dirigente, o plano do Governo "é construir em todo o lado, construir em solos rústicos, construir com mão-de-obra barata e sem direitos e com mão-de-obra que não cobra nem exige salários".
"Depois, é empurrar para esses subúrbios, empurrar para fora das cidades, quem construiu a cidade", completou.
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