Os bancos demoraram a subir os juros nos depósitos na reação ao aumento da taxa de juro pelo Banco Central Europeu, mas foram rápidos a baixá-los, quando Frankfurt os decidiu cortar, e, questionado sobre se isso mostra que o cliente não é a prioridade, o presidente do BPI defende que tudo se baseia “na lei da oferta e da procura”.

“Este é o nosso negócio, não somos um serviço público, somos uma empresa com fins lucrativos”, declarou João Pedro Oliveira e Costa, o presidente do Banco BPI, na conferência de imprensa em que o BPI apresentou um lucro recorde de 588 milhões de euros em 2024.

A margem financeira, que disparou na banca porque os juros dos créditos dispararam muito acima da evolução nos depósitos, cresceu 4% no ano passado.

Clientes devem ir além dos depósitos

Além disso, sublinhou o líder do banco, mesmo com juros nos depósitos abaixo do que aconteceu no crédito, registou-se um crescimento de nos depósitos: “se fossemos pouco competitivos não tínhamos crescido”. Houve uma subida de 4% dos depósitos em 2024, que totalizaram 30,5 mil milhões de euros no fim do ano. Já os recursos fora de balanço, como seguros ou fundos de investimento, dispararam 10% para 9,5 mil milhões. E disse: "acredito que trabalhar com o BPI é mais do que viver com os depósitos".

Esta quinta-feira, o BCE desceu novamente as taxas de juro e, embora as palavras tenham sido anteriores à decisão, o CEO do BPI lembrou que os depósitos não são os únicos produtos à disposição dos clientes. “A poupança a logo prazo é mais fácil de fazer com os produtos alternativos e não com depósitos”.

Na conferência de imprensa, João Pedro Oliveira e Costa sublinhou que o banco também cumpriu “os deveres sociais”, gastando “milhões para fazer tostões”, referindo as medidas de apoio que foram dadas aquando do disparo dos juros em 2022 e 2023.

TIAGO MIRANDA

“Concorrência feroz” no crédito

O presidente executivo do BPI afirmou aos jornalistas, em relação ao mercado de crédito, que se vive numa “concorrência feroz, e vai ficar mais patente quando as taxas de juro começarem a dar mais sinais de baixa”. “Cada vez há mais intermediários e atores, e por isso os bancos vão ter de se indo reinventando”, disse.

“Sobre a guerra de preços e de spreads, ela nunca parou”, continuou Oliveira e Costa, acrescentando que há “vontade dos bancos em querer conquistar volume”, e um mercado de crédito “mais estreito” (“as empresas estão mais capitalizadas e por isso gerem melhor os seus fluxos”).

“Não será só o preço que terá influência, mas o serviço que oferecemos ao cliente. Há limites que o regulador impõe sobre a racionalidade dos preços. E neste momento há um conjunto de questões colocadas aos bancos na formação dos preços”, revelou, falando em inspeções do supervisor nessa matéria.

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750 pedidos e 140 milhões para garantia jovem

Em relação à procura por crédito com garantia do Estado para jovens até 35 anos, o BPI recebeu 750 pedidos, refletindo 140 milhões de euros em empréstimos (máximo de 15% fica protegido).

Francisco Matos, administrador do BPI, adiantou que, dos 750 pedidos, “40% estão do lado dos clientes em período de reflexão para ultimar a decisão, com o BPI ou outro banco”.

A maioria dos imóveis adquiridos através deste financiamento está localizado em Lisboa e Porto. “Estas medidas são importantes, mas são paliativos. Os números são baixos para a realidade geral do que o país”, comentou o gestor, adiantando que 5% das propostas foram recusadas, por não se enquadrarem na linha jovem.

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“Vamos cumprir, infelizmente

Na conferência de imprensa, onde elogiou Mário Centeno e disse que a sua recondução como governador seria “algo positivo”, Oliveira e Costa foi questionado sobre uma eventual contradição face às regras que o Banco de Portugal impôs precisamente para aumentar a concorrência: Vivemos cheios de regras para tudo”, atirou.

“Deixem o mercado funcionar”, pediu, sublinhando que regras específicas anulam o chamado level playing field – regras iguais para todos. “Devemos ser um pouco mais contidos em termos de regulação”.

Sobre as boas práticas, que deixa de obrigar os clientes a irem aos balcões para fecharem contas, Oliveira e Costa foi emocional: “Vamos cumprir, infelizmente”.