O consultor da Comissão Executiva do Banco Central Europeu (BCE) alerta para o facto de a Europa poder ficar de fora do futuro panorama monetário se ignorar as stablecoins. Jürgen Schaaf, no blogue do BCE divulgado esta segunda-feira e intitulado “Da euforia ao risco: o que as stablecoins significam para a Europa”, afirma que “não há certamente margem para complacência” relativamente a este tema e que “várias alavancas políticas estão em cima da mesa”.

“Em primeiro lugar, poderia ser prestado mais apoio às stablecoins denominadas em euros e devidamente regulamentadas. Embora a neutralidade das instituições públicas seja frequentemente preferível, uma lacuna estratégica neste domínio poderia revelar-se dispendiosa. As stablecoins baseadas no euro, se concebidas de acordo com padrões elevados e com uma mitigação eficaz dos riscos, poderiam satisfazer necessidades legítimas do mercado. Poderiam também reforçar o papel internacional do euro”, defende o responsável, acrescentando: “Em segundo lugar, o projeto do euro digital do Eurosistema e as inovações do setor privado são elementos complementares numa estratégia europeia mais ampla de pagamentos digitais. Nos pagamentos em pontos de interação, o euro digital promete ser uma linha de defesa robusta da soberania monetária europeia.”

Contudo, Jürgen Schaaf está ciente dos riscos associados à utilização das stablecoins. “No seu Relatório Económico Anual de 2025, o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS) emitiu um aviso severo sobre as stablecoins. As suas preocupações incluem o potencial destas para minarem a soberania monetária, questões de transparência e o risco de fuga de capitais das economias emergentes. O BIS salientou que muitas stablecoins têm registado desvios substanciais em relação ao valor nominal, destacando a ‘fragilidade da sua indexação’”, refere.

O responsável sublinha ainda o atraso da Europa face aos Estados Unidos no que diz respeito ao enquadramento regulatório das stablecoins. “A divergência regulatória emergente é preocupante. Os Estados Unidos estão a avançar com o seu próprio regime de stablecoins através da Lei GENIUS, assinada pelo Presidente Trump a 18 de julho. A lei, que poderá entrar em vigor dentro de semanas, introduz um quadro federal que, embora esteja amplamente em consonância com o espírito do Regulamento da UE sobre os Mercados de Criptoativos (MiCA), ao abordar muitas das preocupações acima referidas, é mais brando em algumas áreas. Como resultado, analistas de mercado projetam que a oferta de stablecoins poderá crescer dos atuais 230 mil milhões de dólares em 2025 para 2 biliões de dólares até ao final de 2028”, conclui Jürgen Schaaf.