O lucro consolidado do BPI reduziu-se em 16% para os €274 milhões no primeiro semestre, penalizado pela diminuição da margem financeira do negócio em Portugal, anunciou o banco esta quinta-feira, 31 de julho.

O ciclo de reduções nas taxas de juro de referência pelo Banco Central Europeu continuou a afectar negativamente a rendibilidade do banco: a margem financeira - a diferença entre juros pagos nos depósitos e os recebidos nos créditos - reduziu-se 10% no semestre.

O presidente executivo do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, em conferência de imprensa, reforçou a ideia avançada em apresentações de resultados anteriores de que a margem financeira, o principal indicador de rendibilidade do banco, vai continuar a encolher. Por outro lado, as comissões líquidas, outra importante fonte de receita dos bancos, recuaram 11% para os €149,9 milhões.

Já o negócio em Portugal, que conta com os contributos de unidades estrangeiras, apresentou uma diminuição do lucro semestral na ordem dos 10% para os €241 milhões, afectado por uma contribuição negativa de €10 milhões do banco moçambicano BCI.

O contributo da instituição moçambicana, detida a 35,67% pelo BPI, foi positivo a nível de lucro - €19 milhões - e até melhorou no semestre, mas foi anulado por imparidades de €29 milhões.

O angolano BFA - que deverá ser disperso em Bolsa em setembro, avançou o presidente executivo na conferência de imprensa - melhorou em 5% o contributo para os lucros da operação em Portugal para os €43 milhões.

O crédito total aumentou 7% em termos homólogos para os €32,4 mil milhões, com destaque para o crédito à habitação, que disparou 10% para os €16,2 mil milhões. Os recursos de clientes, que agrega elementos como depósitos e créditos, cresceram 6% para os €41,9 mil milhões.

A estrutura de custos manteve-se estável, aumentando 1% em termos homólogos. O rácio de crédito malparado foi de 1,3% de todos os créditos do BPI em junho de 2025. O rácio de capital fixou-se em junho nos 17,4%, 3,5 pontos percentuais acima do mínimo exigido a nível regulatório, mas abaixo dos 17,9% de dezembro.

BFA na Bolsa em setembro, mas de olho na turbulência em Angola

A dispersão do capital do banco angolano BFA já tem um calendário mais definido: a projeção é “claramente que o IPO [entrada em Bolsa] seja no final de setembro”, disse João Pedro Oliveira e Costa em resposta às questões dos jornalistas. O banco tem “praticamente todo o trabalho executado para que aconteça neste prazo”, e espera ”tocar o sino" na BODIVA, em Luanda, muito em breve.

O BFA é detido a 50,1% pelo BPI e a 49,9% pela Unitel, empresa de telecomunicações propriedade do Estado angolano. O BPI prevê dispersar 14,75% do seu capital nesta operação, ao passo que o acionista Unitel irá vender 15% em Bolsa.

"É a maior operação em Angola, é das maiores operações em África, e é a ida à Bolsa do maior banco em Angola”, notou; e, por isso, "toda a preparação desta operação teve de ser feita com muito cuidado".

Porém, “não vou esconder alguma preocupação, que espero que seja momentânea, em relação aos últimos acontecimentos em Angola”, disse o presidente executivo, referindo-se aos motins dos últimos dias, espoletados de uma greve de motoristas de táxi, e que resultaram em 22 mortos, 197 feridos e 1214 detenções. “Estou muito convicto que nas próximas semanas" a tensão vá “suavizar”, previu.

TIAGO MIRANDA

Mais garantia para jovens? Basta o Governo querer

À semelhança dos concorrentes, que estão a aproximar-se do limite da garantia pública para a contratação a 100% de crédito à habitação pelos jovens, o BPI aproxima-se da utilização total deste plafond, e está disponível para novos aumentos, se o Governo assim o decidir.

O BPI terminou o primeiro semestre com €467 milhões da garantia utilizados, em 2500 contratos, e deverá chegar, nos próximos meses, aos 90% do plafond atribuído ao banco.

Se o banco “consumir” o montante total, “se chegarmos lá e se o Estado mostrar esta disponibilidade, sim, vamos pedir que aumente”, disse João Pedro Oliveira e Costa. A garantia, que “não aumenta nem o risco dos clientes, nem o risco do banco”, foi “bem introduzida e deve continuar”, considerou, mostrando-se “surpreendido com o sucesso desta medida”.

Sobre a venda do Novo Banco, “a nossa ideia é continuar a investir organicamente nas actividades em que estamos", disse o presidente executivo do BPI. Na corrida para a compra do banco, os espanhóis do Caixabank, donos do BPI, acabaram por ser preteridos em prol do grupo francês BPCE; com o Governo a torcer o nariz à possibilidade da banca espanhola ganhar ainda mais peso no mercado nacional.

Elogios a Centeno

Sobre a novela Banco de Portugal - que, no último episódio, nos confirmou que Álvaro Santos Pereira será o próximo líder do banco central - João Pedro Oliveira e Costa diz que quer esperar para ver a ação do antigo ministro da Economia no cargo antes de tecer quaisquer comentários.

Ao mesmo tempo, desfez-se em elogios a Mário Centeno, o ainda governador que acabou por não ser reconduzido pelo Ministério das Finanças; e criticou reconduções anteriores, de outros governadores, que, a seu ver, não deviam ter acontecido.

Desentendimentos entre os responsáveis máximos do Banco de Portugal e do Terreiro do Paço? “Não conheço as situações em concreto” e “não vou contribuir para o comentário”, disse, antes de descrever Centeno em termos marcadamente positivos.

“Apreciei muito a sua postura e o seu comportamento”, “foi claramente um grande agregador do sistema”, “é uma pessoa muito respeitada internacionalmente, percebemos isso no tempo em que foi governador e isso dava-nos muito prestígio”, é alguém com “enorme bom senso, excelente carácter, independência de cabeça”, e “como economista, aprendi bastante", concretizou.

“Portugal não pode menosprezar um português com aquelas qualidades", acrescentou, esperando que "se encontre um lugar disponível para uma pessoa com tanto valor”, concluiu.

E atirou: “Tenho pena que, no passado, tenham sido reconduzidos, por questões políticas”, governadores "que não deviam ter sido reconduzidos”: Houve outros que fizeram segundos mandatos e foi pena, não deviam ter feito”, sem concretizar a quem se referia.

O presidente executivo do BPI avançou, ainda, que ficou “bastante agradado” em contactos anteriores com Álvaro Santos Pereira, ainda quando era ministro da Economia, descrevendo-o como uma “pessoa prática e de muito fácil trato”. Mas não quis fazer vaticínios sobre a sua ação futura como governador do Banco de Portugal, o órgão responsável pela supervisão bancária em território nacional. “Daqui a um ano falamos, porque eu quero ver a prática”.