A Semana Europeia da Mobilidade (SEM) tem como objetivo impulsionar e influenciar a adoção de comportamentos ambientalmente mais responsáveis quando se trata de mobilidade. As alterações climáticas têm impulsionado a procura por soluções mais “verdes” como alternativa aos combustíveis fósseis e esta mudança para opções sustentáveis tem impactado diversos setores, especialmente o dos transportes. A transformação na mobilidade é notória e vai além dos carros elétricos, abrangendo também um aumento no uso de bicicletas, trotinetas e motas elétricas.
Mas vamos a números: segundo dados do observatório da mobilidade elétrica da UVE, à data de julho de 2024, as vendas de veículos elétricos (BEV e PHEV) atingiram uma quota de mercado superior a 25,60% se considerarmos todas as categorias e cerca de 39,02% se considerarmos apenas os veículos elétricos de passageiros (BEV e PHEV). Até julho de 2024, as vendas de veículos elétricos (BEV e PHEV) ligeiros de passageiros, por exemplo, atingiram um total de 39.109 de viaturas matriculadas, mais 13,41% face ao período homólogo de 2023
Contudo, e apesar da crescente procura e curiosidade, persistem ainda muitos mitos e dúvidas sobre estas alternativas, especialmente no que diz respeito a questões como o preço, os tempos de carregamento ou a autonomia dos veículos.
A terminar aquela que foi a 23.ª edição da SEM e no Dia Europeu Sem Carros, com a ajuda de Joana Ramos, Head of Smart Mobility da Iberdrola Portugal , vamos desfazer alguns mitos e responder às principais questões ligadas à mobilidade elétrica e da mobilidade suave.
Três mitos...
1. “Autonomia é ainda muito limitada e não serve para grandes distâncias”
É verdade que os veículos elétricos entraram no mercado com menos autonomia do que os carros a combustão. Mas também é verdade que os elétricos estão cada vez mais competitivos e a evolução tecnológica tem diminuído essa diferença. Há já no mercado modelos com autonomia superior a 600km.
Por outro lado, a rede de postos de carregamento elétrico tem crescido exponencialmente, com postos de carregamento rápido em locais estratégicos como parques de estacionamento, centros comerciais e áreas de serviço. Em casa, existe também a possibilidade do carregamento do veículo e, em muitos casos, no local de trabalho.
2. “Os carregamentos demoram horas”
O mito de que carros elétricos demoram muito tempo a carregar pode ser exagerado. Isto porque o tempo de carregamento depende do tipo de carregador e da capacidade de admissão do veículo. Carregadores rápidos, como os de 50 kW, permitem carregar até 80% da bateria em 20 a 40 minutos, ao passo que os carregadores semirrápidos, comuns em residências ou locais públicos, levam mais tempo. A capacidade de admissão do carro também influencia diretamente o tempo de carregamento.
Além disso, a maioria dos carros elétricos demora aproximadamente o mesmo tempo para carregar 80% da bateria do que para carregar os últimos 20%, devido à redução da velocidade de carga para proteger a bateria, garantindo maior durabilidade.
3. “O valor de aquisição de um veículo elétrico é muito superior a um veículo a combustão”
Investir num veículo pode ser uma despesa difícil de acomodar no orçamento familiar, seja ele elétrico ou a combustão. Contudo, os preços estão cada vez mais semelhantes, além de que existem diferentes incentivos fiscais ou apoios do estado para a compra destes veículos.
Em Portugal, por exemplo, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o Fundo Ambiental oferecem apoios tanto para particulares quanto para empresas. Além disso, os veículos elétricos estão isentos de impostos como o Imposto Sobre Veículo (ISV), o Imposto Único de Circulação (IUC) e permitem a dedução do IVA. A médio e longo prazo, é possível poupar significativamente em combustível e manutenção, já que os motores elétricos são mais eficientes e menos propensos a avarias mecânicas, verificando-se ainda um menor desgaste dos pneus e travões.
... e dois factos
1. Soluções de carregamento e energia verde
Como vemos, os veículos elétricos reúnem um conjunto de características que vão além da sustentabilidade. Podem ser opções de viagem económicas, podem ter um tempo de vida mais longo e podem, acima de tudo, ser um motor de poupança.
Por exemplo, carregar um carro elétrico em casa é uma solução prática e conveniente, permitindo que o veículo seja carregado durante a noite e esteja pronto para utilizar no dia seguinte. Para maximizar os benefícios desse sistema, é possível optar por combinar o carregamento com o uso de energia verde, como a proveniente de painéis solares. Esse ecossistema sustentável permite que o veículo seja carregado utilizando eletricidade gerada de forma limpa, reduzindo ainda mais a pegada ambiental.
A integração de painéis solares com baterias de armazenamento pode aumentar significativamente a poupança no orçamento familiar. Durante o dia, a energia solar é captada e armazenada para ser usada tanto no carregamento do carro como no consumo doméstico, o que reduz a dependência da rede elétrica e potenciais custos com eletricidade. Este modelo cria um ciclo eficiente de autossuficiência energética, promovendo uma solução ecológica e financeiramente vantajosa.
2. Alternativas de mobilidade suave para distâncias menores e percursos urbanos
As soluções de mobilidade verde e suave são também fundamentais para a promoção de melhorias nas cidades e na qualidade de vida dos cidadãos, pois podem ajudar a reduzir o trânsito, permitindo uma maior liberdade e autonomia aos habitantes, especialmente nas grandes cidades.
A mobilidade elétrica inclui outras opções de transporte, como bicicletas, trotinetas e até mesmo autocarros elétricos. As cidades, um pouco por todo o mundo, têm investido em infraestruturas que promovem a sua utilização tais como as ciclovias seguras ou estações de partilha de bicicletas.