A (r)evolução dos últimos três anos mudou paradigmas e transformou a visão de decisores empresariais e políticos face à realidade concreta em que vivemos. Expectável, dirão alguns vanguardistas, que anteciparam os tempos modernos. Mas a romper com todos cânones bem antes do tempo, isto, se recuarmos às expetativas vigentes até 2022.
Perante esta redefinição de modelos de negócio, comportamentos e evolução social, deparamo-nos com um aspeto que não é somenos importância, pelo contrário. Ou seja, de que forma os líderes e equipas estão preparados para um futuro onde a tecnologia, não só automatiza tarefas, mas também redefine o papel humano nas organizações. A Inteligência Artificial (IA) já está a transformar a forma como trabalhamos, mas as empresas continuam a negligenciar o essencial: o desenvolvimento das competências humanas. Enquanto muitas investem em novas ferramentas, esquecem-se de capacitar as suas pessoas para pensar criticamente, colaborar eficazmente e liderar num ambiente incerto. De pouco adianta ter a melhor tecnologia, se os profissionais não sabem como usá-la para gerar valor.
A aprendizagem contínua, bem como as tantas vezes faladas, mas pouco compreendidas, soft skills, são a grande vantagem competitiva. Estejamos certos de que quaisquer empresas que continuem a ver formação como um custo, e não como um investimento estratégico, estão condenadas a perder talento e relevância. Em face disso, há que reforçar o pensamento crítico, o qual permite interpretar dados para tomar decisões estratégicas, sem descurar a inteligência emocional, a chave para gerir equipas e manter um ambiente colaborativo. Também a criatividade e a inovação impulsionam novas soluções e a liderança adaptativa garante que mudanças são encaradas como oportunidades, não como ameaças.
Surge nova questão: quantas organizações estão realmente a priorizar estas competências?
Veja-se, é imperativo garantir um futuro onde as pessoas, em harmonia com a tecnologia, sejam o principal impulsionador da evolução das organizações. No entanto, muitas empresas continuam presas a modelos ultrapassados, incapazes de ver para lá do pensamento macro que tolda a mente de muitos, para os quais a tecnologia sobrepõe-se ao indivíduo. Por outro lado, os setores mais inovadores já perceberam que o verdadeiro diferencial não está apenas no avanço tecnológico, antes na forma como capacitam as equipas para liderar essa transformação.
Na tecnologia, gigantes apostam em reskilling e upskilling para preparar profissionais para novas funções. Na saúde, a IA apoia diagnósticos, mas é a empatia dos profissionais que assegura um atendimento de qualidade. Na educação, as instituições mais visionárias integram metodologias digitais sem perder de vista o fator humano. Mesmo em Portugal, inúmeras estruturas já perceberam que a inovação só é eficaz se vier acompanhada de um investimento real nas suas equipas. Mas não nos podemos cingir à boa vontade, há que agir nesse sentido.
Num mundo automatizado, a tecnologia resolve problemas, mas são as pessoas que criam soluções. Cabe às empresas assumir o seu papel na preparação dos seus recursos mais importante. E evitar que a tecnologia avance mais rápido do que a capacidade humana de a liderar. O futuro do trabalho dependerá, não apenas do que as máquinas fazem, mas, acima de tudo, do que nós fazemos melhor.
Artigo escrito por Filipe Luz,
Head of L&D Solutions na Cegoc