
Num comunicado hoje divulgado, a Comissão de Trabalhadores, constituída por um presidente e quatro vogais, anuncia ter apresentado a "demissão em bloco", referindo que "a sequência dos acontecimentos dos últimos sete meses, culminando no afastamento de Aida Tavares, constitui uma quebra irreversível de confiança na administração institucional e na tutela vigente, não se reunindo, por isso, quaisquer condições para dar continuidade ao diálogo aberto, independente e democrático que é princípio basilar da Comissão de Trabalhadores".
A gestora cultural foi substituída no cargo de presidente do CCB pelo historiador Nuno Vasallo e Silva, decisão justificada pela tutela com a "necessidade de imprimir nova orientação à gestão da fundação", "para garantir" que assegure "um serviço de âmbito nacional, participando num novo ciclo da vida cultural portuguesa".
Dalila Rodrigues foi ouvida no parlamento em dezembro a propósito da exoneração, tendo acusado o seu antecessor, Pedro Adão e Silva, de ter feito um "assalto ao poder" no CCB, garantindo "que acabaram os compadrios naquela instituição".
As declarações da então ministra tenham origem a pedidos de vários partidos para ouvir no parlamento diversas personalidades ligadas ao CCB, incluindo Pedro Adão e Silva, Francisca Carneiro Fernandes e Aida Tavares.
Em fevereiro, Francisca Carneiro Fernandes negou no parlamento que a contratação da programadora Aida Tavares como diretora artística da instituição tenha sido uma imposição de Pedro Adão e Silva.
Dias antes, o antecessor de Francisca Carneiro Fernandes, Elísio Summavielle, referira que Pedro Adão e Silva lhe tinha sugerido a contratação de Aida Tavares, situação que foi o culminar de um caminho de divergências com o anterior Governo que o levou a decidir sair do CCB no final de 2023, antes do término do último mandato.
Francisca Carneiro Fernandes justificou a criação do cargo com o facto de considerar que "qualquer organização que programa artes performativas deve ter necessariamente uma direção artística profissional", dizendo que não foi necessário iniciar funções "para saber que esse cargo não existia no CCB".
Em relação ao "caso, ou casinho" de Aida Tavares, Elísio Summavielle escusou-se a fazer mais comentários, remetendo para as declarações da vogal Madalena Reis, na semana anterior na mesma comissão parlamentar.
Madalena Reis explicou que votou contra a contratação de Aida Tavares por sentir que "não havia necessidade de mudança".
"Existia uma diretora de Artes Performativas. Não tinha exatamente o mesmo perfil, mas tinha funções muito similares. Com essa diretora construía-se uma programação que era partilhada com conselho de administração", disse.
Já Pedro Adão e Silva, o último a ser ouvido no âmbito da série de audições, defendeu que não se confirmaram as acusações de "assalto ao poder" feitas pela sua sucessora, Dalila Rodrigues.
Para Pedro Adão e Silva, as declarações "totalmente descabidas" da ministra da Cultura aconteceram "por dois motivos": "Justificar uma exoneração que não teve coragem de assumir" e tentar "ocultar o ano perdido para as políticas culturais que foi o seu mandato".
Pedro Adão e Silva explicou as declarações da ministra da Cultura como "um mecanismo de projeção: quem diz é quem é", referindo que as pessoas nomeadas por Dalila Rodrigues para vários cargos têm "todas ligações ao PSD". "Não fiz uma nomeação ligada ao PS", disse.
Além disso, são "tudo pessoas com o mesmo perfil da ministra", que é historiadora.