Nick Cave divulgou um novo videoclip para ‘Tupelo’ para assinalar o 40º aniversário da canção que editou em 1985 com os seus Bad Seeds, no álbum “The Firstborn Is Dead”.

‘Tupelo’, que através de referências bíblicas descreve o nascimento de Elvis Presley durante uma tempestade em Tupelo, no Mississippi, tornar-se ia uma das canções mais emblemáticas da carreira do músico australiano. O vídeo agora divulgado recorre à imagem de Elvis Presley recriada pelo realizador Andrew Dominik por intermédio de Inteligência Artificial (IA), tecnologia que Cave abordou com notório desdém em 2023, quando se debateu com uma letra “à Nick Cave” criada por ChatGPT: “é uma paródia grotesca do que significa ser humano.” “Neste momento, o ChatGPT é uma réplica caricaturada. Talvez consiga escrever um discurso, um ensaio, um sermão ou um obituário, mas não consegue criar uma canção genuína. As canções nascem do sofrimento, baseiam-se na luta humana e complexa da criação. Tanto quanto sei, os algoritmos não têm sentimentos”, escreveria no site “The Red Hand Files”, em resposta a uma questão colocada por um fã.

Agora, perante o novo vídeo de ‘Tupelo’, outro admirador usou o mesmo expediente para perguntar ao artista se “mudar de opinião é um sintoma de fraqueza”. Cave esclareceu que o realizador Andrew Dominik usou a tecnologia sem o seu conhecimento. “Peguei numa série de imagens de arquivo e dei-lhes vida com a IA”, disse-me.

“Como toda a gente que lê esses ‘arquivos’ sabe, são bastante evidentes as minhas sérias reservas relativamente à IA, nomeadamente com a escrita de trabalho criativo através de ChatGPT ou outros modelos de linguagem. Tenho também preocupações relativamente a plataformas de criação de canções que reduzem a música a uma mera mercadoria, eliminando inteiramente o processo artístico e as suas vicissitudes, por isso perguntei: ‘a sério?’”. “Caramba, aguenta os teus preconceitos e dá uma vista de olhos”, disse-me ele.

Portanto, lá vi o filme do Andrew, e depois vi-o outra vez. Mostrei-o à Susie [esposa]. Para nossa surpresa, achámos que era uma interpretação profunda da canção. Uma versão comovente e plena de alma, uma homenagem ao grande Elvis Presley e à própria canção. As fotografias animadas por IA têm uma qualidade peculiar, como se tivessem voltado do mundo dos mortos. (…) Eu e a Susie ficámos abismados. À medida que víamos este pequeno filme do Andrew, senti a minha visão sobre a IA como ferramenta artística a amaciar. Em certa medida, sim, mudei de opinião. E o Andrew disse-me: ‘é uma ferramenta, como qualquer outra’”, concluiu.