
Entre o humor e o ativismo, encontramos o Diogo Faro, o mais recente convidado do Podcast Humor à Primeira Vista. Ultimamente mais afastado do stand-up, o Diogo apresentou recentemente o espetáculo 'Amor, quero beijar mais pessoas', em parceria com a Joana Brito Silva. Uma peça de teatro que contém a visão de uma casal não monogâmico, que esgotou diversas vezes o Teatro Villaret.
A conversa começa com o atual projeto do Diogo, Maldição ou Benção, um conteúdo disponível no YouTube, onde o humorista aborda temas controversos, desafiando o público a refletir sobre as questões em debate. O Gustavo Carvalho questiona se as intervenções dos elementos da produção, em momentos em que as conversas podem descambar, são planeadas para controlar a dinâmica. O Diogo responde com honestidade:
“Nos últimos anos, acabei por me afastar demasiado da comédia, por várias circunstâncias, e quero falar muito sobre assuntos que me preocupam e que me revoltam. Nem sempre tive o talento ou a habilidade para transformar essa raiva em humor. Acabei, muitas vezes, por ser mais ativista do que humorista.”
O Diogo revela que há muito tempo desejava criar um conteúdo mais ponderado, escrito com mais cuidado e acompanhado de uma boa equipa. Mas, como ele próprio admite, o objetivo não é ser imparcial. Reconhece que, nos últimos anos, cometeu erros — algo que faz questão de analisar: “Cometi muitos erros e, de facto, sei que, às vezes, fui moralista, fui parvo, fui precipitado e isso prejudicou-me.”
O Gustavo questiona a razão por detrás dessa introspeção, e o Diogo aponta a sua instabilidade financeira, a frustração e a ansiedade de não conseguir fazer melhor. Salienta também o apoio dos amigos, que o ajudaram a encontrar um caminho mais focado. Recorda ainda que o seu primeiro conteúdo sobre a habitação, inicialmente humorístico, acabou por ganhar proporções políticas — algo que talvez não estivesse à espera. Sem arrependimento por ter dado a cara por temas como a crise na habitação, admite que essa envolvência constante o levaram a ser mais ativista que humorista e que, muitas vezes, nem se esforçou para ter piada nos conteúdos que produzia para as suas plataformas.
Nesse seguimento, chegou à conclusão que quer ser comediante e “usar o humor para contribuir para as coisas em que acredito”, mas que o irá fazer de uma melhor forma para si e mais divertida para quem o segue.
O Gustavo recorda uma frase do Ricardo Araújo Pereira: “O humorista ativista falha duas vezes: como humorista e como ativista” e pergunta ao Diogo se sente que esta ideia se aplica ao seu percurso. O humorista reconhece, mais uma vez, que nem tudo o que fez foi bom para a sua carreira, mas vê valor em alguns dos seus projetos, em especial a peça 'Amor, quero beijar mais pessoas'. Ainda assim, admite que, nessa fase, estava a acertar mais como ativista do que como comediante:
“Não quero ser a cara da luta pela habitação. Quero dar dois passos atrás e pensar como posso usar o humor como arte e, eventualmente, como forma de luta.”
E acrescenta:
“Andei demasiado de um lado para o outro, entre o ativismo e o humor. Comecei a ser convidado para dar palestras sobre habitação e não para ir a noites de stand-up comedy.”
Esta dualidade levou-o a uma decisão clara e, numa tentativa de se voltar a aproximar da comédia, vai começar a integrar o circuito das noites de testes, com o objetivo de escrever um solo novo ainda para 2025.
Mas, tendo em conta que o Diogo deixou o humor de lado e passou a ser um nome fácil para certo tipo de piadas, o Gustavo questiona se o comediante tem receio de voltar às noites de comédia: “Não me faz ter medo. Se eu for ter medo e [ficar] chateado, não volto!”
A conversa segue com uma referência ao podcast Extremamente Desagradável, onde foi várias vezes protagonista, incluindo nos dois episódios de outubro de 2024, quando a Joana Marques abordou o Traidor de Classe, o seu podcast. O Diogo explica que, após ser alvo de mensagens de ódio nas redes sociais, questionou o impacto de tornar alguém alvo de uma “humilhação coletiva”, especialmente quando se trata de um podcast com uma audiência tão grande.
“Foi muito duro”, admite, acrescentando: “Quando o Extremamente Desagradável é sobre pessoas nada conhecidas, não é fixe. De repente, são ridicularizadas no podcast mais ouvido do país. Para algumas pessoas que conheço, as consequências foram realmente graves.”